Câmara historicamente aliada deve dar base folgada a Fruet em Curitiba

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

Prefeito eleito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT) chegou às vésperas do segundo turno apoiado por 24 dos 38 vereadores eleitos na capital paranaense para compor a Câmara Municipal a partir de 2013. Boa parte deles aderiu ao pedetista somente após a primeira etapa da campanha --a coligação de Fruet, composta ainda por PT e PV, conquistou apenas oito cadeiras nas urnas.

O quadro aponta para uma repetição do que historicamente sido registrado na Câmara de Curitiba: nunca um prefeito deixou de ter maioria folgada entre os vereadores. O que sugere que, caso os eleitores curitibanos tivessem optado por Ratinho Junior (PSC), ele também não enfrentaria oposição no Poder Legislativo.

"A Câmara sempre ficou sob a orientação política do executivo. Qualquer que fosse o prefeito eleito, rapidamente ele comporá maioria na casa", afirmou Ricardo Costa de Oliveira, professor-associado de Sociologia Política da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Imagens da corrida eleitoral em Curitiba
Veja Álbum de fotos

"É certeza absoluta que Fruet terá maioria. Porque o sistema político no Brasil tem funcionado assim. Para governarem, prefeitos, governadores e o presidente precisam formar uma coalizão, já que quase nunca têm maioria partidária. Assim, atraem políticos pra base com emendas, favores e reconhecimento", corroborou Adriano Codato, professor-adjunto de Ciência Política na UFPR.

Logo após o primeiro turno, Fruet --ex-tucano e, agora, apoiado pelo PT, que indicou a vice, Mirian Gonçalves --ganhou o apoio do diretório municipal do DEM, comandado pelo deputado estadual licenciado Osmar Bertoldi. Com isso, juntaram-se à sua campanha os vereadores Sabino Picolo e Julieta Reis, ambos veteranos na Câmara, e apoiadores no primeiro turno do prefeito Luciano Ducci (PSB), que buscou, sem sucesso, a reeleição.

Dias depois, e às vésperas da divulgação da primeira pesquisa Datafolha, que mostraria Fruet 16 pontos percentuais à frente de Ratinho, chegou o apoio do PPS, que elegeu três vereadores --entre eles o ex-jogador Paulo Rink, com passagens pelo Atlético-PR e a seleção alemã de futebol. No primeiro turno, o partido também estivera com Ducci --o deputado federal Rubens Bueno, que comanda a sigla no Paraná desde a fundação, foi candidato a vice na chapa do prefeito.

A vantagem nas pesquisas atraiu para Fruet outros partidários do prefeito, dos dois vereadores eleitos pelo nanico PSDC a políticos do PSB e do PSDB ?caso de Serginho do Posto, que é líder da bancada de apoio a Ducci na Câmara.

"É uma tendência que o próximo prefeito tenha maioria", admitiu o vereador, na sexta-feira (27), ao UOL. "Ele irá buscar o apoio dos vereadores. Acho que uma conversa franca, com as intenções do governo, as soluções para a cidade, pode conduzir a um apoiamento", disse, apesar de ressalvar que seu partido ainda não definiu que rumo tomará em 2013. "Teremos que obedecer o posicionamento partidário. [Mas] Precisamos pensar no que é melhor para a cidade."

"Sobrevivência política" dita adesão a prefeito

"A maioria dos vereadores tem interesse na própria sobrevivência política, acima de posições ideológicas ou programáticas", afirmou Oliveira. "Quem é oposição não consegue nada. Já quem é governo consegue verbas para seu reduto eleitoral", lembrou Codato.

"Os vereadores não gostam de ser oposição. Dá mais trabalho, precisa ser combativo, fiscalizar. E, dos meus pedidos de melhorias em bairros, a maioria era negada. É prática, na política, que a oposição tenha menos espaço", contou Jonny Stica (PT), que foi líder da oposição na Câmara até o início do ano e trocará de lado em 2013, com a eleição de Fruet.

"O vereador acaba sendo um pára-choque da prefeitura, pois a comunidade o procura antes da prefeitura, para resolver problemas. Com isso, depende da boa vontade do Executivo para oferecer as soluções", opinou Caíque Ferrante (PRP), que se elegeu vereador em 2008 e decidiu não buscar a reeleição --segundo o jornal "Gazeta do Povo", ele é cotado para assumir a secretaria da Comunicação Social na gestão Fruet.

Desde o início do segundo turno, Ferrante trabalhou, "a pedido de Fruet", ao lado de outro vereador não reeleito, Celso Torquato (PSD), em busca de apoio entre os parlamentares. Na sexta, dois dias antes do segundo turno, o grupo conseguiu conquistar um dos últimos "indecisos" --o pastor evangélico Valdemir Soares (PRB), outro que esteve com Ducci no primeiro turno.

"[O ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso (PSDB) dizia que, quando se é candidato, se precisa de votos. Mas, quando se é governante, se precisa de apoios. Os votos viram nada no dia seguinte à eleição se não houver apoio, em função do sistema representativo. Então, construir uma base legislativa será a primeira obra do prefeito de Curitiba. E, com o poder de um orçamento de R$ 6 bilhões, isso não será difícil", argumentou Codato.

UOL Cursos Online

Todos os cursos