Com dois candidatos no 2º turno, PSOL diz que apoios de Lula e do DEM não são alianças

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

  • Divulgação

    Em Belém, Edmilson (à esq.), recebeu apoio de Lula; Clécio terá o DEM ao seu lado em Macapá

    Em Belém, Edmilson (à esq.), recebeu apoio de Lula; Clécio terá o DEM ao seu lado em Macapá

O presidente nacional do PSOL, Ivan Valente, justifica as adesões do PT, PSB, DEM e PSDB às campanhas de Edmilson Rodrigues (PSOL-PA) e Clécio Luís (PSOL-AP) como “algo natural no segundo turno”, mas relutou chamá-las de alianças. Os dois são os únicos candidatos do partido a avançarem para o segundo turno nas eleições municipais.

“Se o PT quer apoiar, aderir no segundo turno, acho que é positivo para o PSOL. A gente não pode confundir aliança, relações programáticas, distribuição de cargos, com segundo turno”, disse.

Rodrigues concorre à eleição municipal de Belém com Zenaldo Coutinho (PSDB). Na última pesquisa Ibope, divulgada na última segunda-feira (22), o tucano aparece à frente com 51% das intenções de voto, ante 42% do socialista.

Clécio disputa a Prefeitura de Macapá com o atual prefeito Roberto Goés (PDT), que tenta a reeleição. Góes e Clécio estão tecnicamente empatados com 45% e 41% das intenções de voto, respectivamente, segundo pesquisa Ibope liberada na última segunda-feira.

Com a ida ao segundo turno, os candidatos do PSOL começaram a costurar alianças com siglas as quais costuma se opor. Em Belém, Rodrigues recebeu o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Clécio, em Macapá, é apoiado por DEM, PSDB e, mais recentemente, pelo PSB – os dois primeiros considerados “de direita” pelos socialistas e o último “de situação”, a quem o PSOL diz fazer oposição no plano nacional.

Lula pede votos e faz PSTU deixar coligação em Belém

Em Belém, Lula pediu voto para o PSOL no horário eleitoral gratuito da última segunda-feira (24). Após a aparição do ex-presidente, o PSTU, que fazia parte da coligação do socialista, abandonou a campanha. Para justificar a saída, Cléber Rabelo, vereador eleito pelo PSTU na capital paraense, disse em coletiva que a coligação havia estabelecido “ser oposição de esquerda ao governo do PT”.

Sobre o apoio, Valente disse ainda que a iniciativa de gravar o vídeo partiu do próprio Lula, e não impedirá o PSOL de se manter na oposição à administração federal.

“É uma adesão no segundo turno, não uma aliança”, o que não impede o partido de continuar a fazer “oposição programática e ideológica ao governo de Dilma”, disse.

Em nota, a campanha de Rodrigues afirmou que " O PT não apenas deu o apoio ao candidato da 'Frente Belém nas Mãos do Povo (PSOL-PCdoB-PSTU)', como passou a trabalhar na campanha dele. Portanto, a adesão de Lula e Dilma foi uma consequência natural, obtida por intermédio da direção nacional do PT, e que foi recebida com alegria por esta coligação”.

A nota cita ainda que “Edmilson mantém laços de amizade dentro do PT, partido no qual militou por muitos anos”.

Rodrigues foi prefeito de Belém por dois mandatos, de 1997 a 2000 e de 2001 e 2004 pelo PT. Em 2005 filiou-se ao PSOL, ano em que foi deflagrado o esquema do mensalão envolvendo lideranças do PT em Brasília.

"Amizade" com o PT não se repete em Macapá

Se em Belém o PT é “amigo do PSOL”, em Macapá volta a ser inimigo.

O ex-presidente Lula gravou um vídeo em favor de Roberto Goés (PDT), que foi denunciado na última terça-feira (23) pelo Ministério Público supostamente desviar de R$ 8,3 milhões do salário de servidores municipais para as contas da Prefeitura de Macapá. Góes foi preso em 2010, em decorrência da Operação Mãos Limpas da Policia Federal.

Em agosto, o coordenador da campanha de Clécio, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), declarou para o jornal “Diário do Grande ABC”, de São Paulo, que o “PT perdeu a referência ética”, quando questionou uma declaração da presidente Dilma Rousseff sobre parcerias com a iniciativa privada para ampliação das malhas rodoviária e ferroviária. Na mesma entrevista chegou a dizer que a legenda estava “parecida com o PSDB”.

Mas quando precisou explicar a adesão do DEM e do PSDB à campanha do PSOL no Macapá, Randolfe disse que “no segundo turno não existe aliança, existe apoio e um compromisso unilateral”.

O candidato do DEM derrotado na eleição de Macapá, o deputado federal Davi Alcolumbre, declarou apoio a Luís no segundo turno, assim como parte do PSDB local que fazia parte da sua coligação. A notícia levou 35 correligionários do PSOL a repudiaram o apoio em nota.

Randolfe disse não temer que os apoios afastem eleitores do partido. Isso só poderia acontecer se “houvesse comprometimento ou se os apoios fossem pautados em rebaixamento de programa, se o modificasse”, disse.

Para Valeriano Costa, cientista político da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o PSOL deixa de se comportar como o PT na sua fase mais radical, quando não aceitava apoios, para entrar na lógica hoje sustentada pelos petistas, de aceitar e declarar apoios sem compromisso.

“O PT não aceitava apoio e hoje recebe até do Paulo Maluf. Uma coisa é o Maluf apoiar, mas o PT não tem compromisso de cumprir o que ele [Maluf] acha certo. Não implica compromisso, a não ser que haja distanciamento ideológico. Mas o PSOL não é tão duro como o PSTU ou o PCO, que certamente não aceitariam”, afirma Costa.
 

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