Serra se irrita com pergunta sobre 'kit-gay' e acusa jornalista de 'propagar trololó petista'

Do UOL, em São Paulo

O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, mostrou irritação durante entrevista à rádio "CBN", na manhã desta terça-feira (16), com a pergunta feita pelo jornalista Kennedy Alencar sobre a semelhança entre a cartilha anti-homofobia elaborada durante a gestão do PSDB no governo do Estado, e o material feito pelo MEC (Ministério da Educação) na gestão de Fernando Haddad (PT), hoje adversário de Serra no segundo turno.

Serra rebate a pergunta pondo em dúvida se o jornalista de fato leu a cartilha tucana e o acusa de "propagar trololó petista", segundo afirma o candidato na entrevista.

O material anti-homofobia distribuído em 2009 para escolas públicas pelo governo do Estado de São Paulo, na administração de Serra (2007-2010), tem pelo menos dois vídeos iguais ao material do MEC, que ficou conhecido como "kit-gay", após receber críticas de grupos evangélicos e ter sua distribuição suspensa pela presidente Dilma Rousseff (PT).

Kennedy Alencar trouxe o tema na segunda pergunta da entrevista, ao perguntar a Serra se o apoio à candidatura tucana do pastor Silas Malafaia, que condena o homossexualismo e é o líder no Rio de Janeiro da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, não seria uma contradição com o fato da gestão do tucano ter distribuído uma cartilha contra a intolerência.

"Nessa campanha de 2012, a exemplo da campanha em 2010 quando o senhor abordou o tema do aborto com posicionamentos moralistas, o senhor apresenta o apoio de uma direita intolerante, como o pastor Silas Malafaia que diz que homossexualidade é doença e não orientação sexual. Eu pergunto ao senhor: sua atitude é uma contradição por uma conveniência eleitoral, ou o senhor se tornou um politico conservador e mudou de ideia?", quis saber o jornalista.

Serra então pergunta se o jornalista leu a cartilha na íntegra. Enquanto se pode ouvir a resposta de Alencar ao fundo, Serra repete a mesma pergunta outras quatro vezes, e ao fim afirma que o jornalista não leu o material.

"Você está falando de uma cartilha que você não leu. Leia e você vai ver que são coisas muito diferentes", diz o candidato.

Após ouvir uma resposta afirmativa do jornalista, que diz ter sim visto o material, Serra retruca: "Não viu [a cartilha]. De duas uma: se você viu, voce está mentindo. Se você não leu, eu até aceito, porque o que você está falando é uma mentira", afirma o tucano, se referindo à suposta semelhança entre as cartilhas do PSDB e do MEC.

"Eu não estou falando uma mentira, eu estou fazendo uma pergunta ao senhor", rebate o jornalista. Serra então insinua que Alencar estaria sendo favorável ao candidato do PT em suas perguntas.

"Você está fazendo uma pergunta que envolve uma mentira. As cartilhas são completamente diferentes. Eu sei que você tem suas preferências políticas, mas modere-se, Kennedy. Você está na CBN, não pode fazer campanha eleitoral aqui", diz Serra, que pediu a intervenção da apresentadora do programa: "Ô, Fabíola, bota ordem aqui", disse.

A apresentadora pede então ao jornalista para refazer a pergunta, e Alencar volta a questionar sobre a suposta contradição entre o apoio de Malafaia e a elaboração de uma cartilha contra a intolerância.

"A cartilha prega a tolerância, se você tivesse lido veria que não fala apenas de sexo, fala de deficientes físicos, religião, pessoas com certas características físicas. A cartilha prega a luta contra a intolerancia", responde Serra.

O candidato do PSDB defendeu ainda a diferença entre as cartilhas, e afirmou que o material do MEC "estimula o bissexualismo". Segundo Serra, o kit anti-homofobia do ministério dizia que "o jovem que tiver preferencia por mulher e por homem, aumenta a chance de ter companhia ao final de semana", disse o candidato.

"Não é uma cartilha contra o preconceito. Ela induz um certo tipo de comportamento sexual. Isso é o cúmulo, é uma brincadeira", afirmou Serra.

O candidato também negou que tenha adotado o tema do aborto na campanha de 2010, e afirmou que apenas cobrou "coerência" da então candidata Dilma Rousseff (PT), que teria dado declarações contraditórias sobre o tema. Segundo o tucano, a ideia de que sua campanha teria utilizado o tema do aborto seria uma invenção de seus adversários no PT.

"Alguns jornalistas, como o Kennedy, não leram o material e ficam propagando o trololó petista", afirmou Serra.

Em sua conta na rede social Twitter, Kennedy Alencar postou que precisou abandonar a entrevista pois estava dentro de um avião, a caminho de Fortaleza. "Fiz uma pergunta objetiva a @joseserra_ e esperei resposta. Escutem a entrevista e julguem", escreveu o jornalista. Alencar não comentou as acusações do candidato.

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