Mulher de sargento acusado de chefiar milícia do Rio é eleita vereadora em Nova Iguaçu

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

A mulher do sargento da Polícia Militar Juracy Alves Prudêncio, preso há três anos sob acusação de chefiar a maior milícia em atividade na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, foi eleita vereadora na cidade de Nova Iguaçu. Giane Silveira Prudêncio, conhecida como "Giane Jura", obteve 3.527 votos neste domingo (7).

Candidata pelo PTN, partido que faz parte da coligação do concorrente do PMDB à prefeitura, Nelson Bornier, Giane Jura adotou o nome do marido apenas para concorrer a uma vaga na Câmara. Em sua página pública no Facebook, a vereadora eleita afirma que o sargento da PM teria sido vítima de "injustiça e perseguição".

"(...) meu sobrenome não é por acaso. Sou esposa de um dos maiores líderes comunitários que lutou [sic] pela nossa comunidade e que hoje sofre com a injustiça e a perseguição, mas aqueles que o perseguiram não esperavam que tantas famílias indignadas mantivessem viva a chama desta luta", afirma.

Para a polícia, porém, Prudêncio é líder e mentor da milícia conhecida como "Bonde do Jura", que atuaria em diversos pontos da Baixada Fluminense, em especial na cidade de Nova Iguaçu --o reduto da máfia fica no Morro Agudo. Mais de 30 bairros estariam sob controle do grupo paramilitar.

Mesmo preso no Batalhão Especial Prisional (BEP), Jura teria articulado e incentivado a candidatura da mulher, segundo informações recebidas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) em julho deste ano. As denúncias sobre a atuação política de milicianos em geral levou o órgão a criar uma força-tarefa para investigar e reprimir os chamados currais eleitorais.

Em 2008, Juracy Alves Prudêncio foi candidato a vereador em Nova Iguaçu, e foi o segundo mais votado no município (9.335 votos). No entanto, sua vaga na Câmara não foi confirmada porque o seu partido, o PRP, não atingiu o quociente eleitoral. Posteriormente, Jura foi condenado por falsidade eleitoral, já que teria apresentado dados errados na prestação de contas obrigatória.

Em 2004, quando também se candidatou a vereador, o sargento da PM teve apenas 726 votos. No período entre as duas eleições municipais, segundo a polícia, o "Bonde do Jura" foi responsável por mais de cem mortes na Baixada Fluminense.

De acordo com a mulher do suposto miliciano, no entanto, Juracy seria apenas um líder comunitário em Nova Iguaçu. Ela afirma ainda que pretende dar continuidade "a grande obra" que o marido iniciou, além de dar prioridade a projetos que beneficiem crianças portadoras de necessidades especiais.

"Eu hoje sou a voz da comunidade, represento a continuação da grande obra que meu esposo começou, apesar das dificuldades e do sofrimento causado pelo afastamento forçado que eu e meus filhos tivemos dele. Luto a cada dia para que nossas comunidades representadas pelos moradores e comerciantes, tenham uma vida digna com saúde, segurança e lazer. Onde também darei prioridade aos projetos que atendam nossas crianças portadoras de necessidades. O sonho dele continua vivo em mim", escreveu Giane em sua página no Facebook.

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