Candidata a vereadora em Minas Gerais faz campanha com número errado e acaba eleição com 12 votos

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

“Foi uma frustração enorme”. Assim resumiu a cozinheira Cristiane Baliza, 35, candidata pela primeira vez a uma vaga de vereadora na cidade de Paraguaçu (362 km de Belo Horizonte) que fez toda a campanha com o número errado nos santinhos distribuídos na cidade.

De acordo com o material de campanha, ela estava concorrendo sob o número 14.999, pela coligação (Paraguaçu Trabalhando para o Futuro) na qual o PTB, seu partido, fez parte. No entanto, o número registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) era o 14.888. Eleitores do município mineiro que votaram na petebista tiveram a escolha anulada.

Ainda dizendo não refeita da situação inusitada, Cristiane revelou ter gastado em torno de R$ 1.500 com a campanha.

“Eu e meus amigos trabalhamos em cima desse número (14.999) para chegar na hora e descobrir que ele estava errado. Foram três meses de muito serviço para nada”, desabafou a cozinheira, que afirmou ter três filhos e estar desempregada no momento.

Segundo ela, os eleitores começaram a afluir à casa dela, ainda no domingo (7), dia da eleição no primeiro turno, argumentando que tentaram votar no seu número, mas que não haviam conseguido.

“Alguns disseram que, mesmo dando candidato inexistente, eles confirmaram o voto”, explicou a mulher.

A candidata reconheceu que deveria ter conferido o número pelo qual concorreria, porém disse não ter atinado para isso ao receber cerca de 5.000 santinhos, repassados a ela pela coligação, com o número 14.999 grafado nas peças publicitárias.

“Eu só assinei a documentação para a inscrição no cartório eleitoral. Eu fui errada em não conferir, mas como foi a primeira vez que eu me candidatei, eu confiei nas pessoas responsáveis pela inscrição”, afirmou.

Cristiane afirma ter sido chamada a concorrer depois que outra candidata desistiu do pleito na cidade.

“Tinha uma senhora que desistiu da eleição. Aí, o pessoal me chamou para o lugar dela, porque eu sou filiada ao partido. Daí, me informaram que eu ficaria com o mesmo número dela. Eu não sei se foi isso que gerou a confusão”, declarou.

Ela afirmou que ainda teve tempo de alertar os familiares, cujos votos resultaram nos doze que ela obteve no pleito.

Cristiane salientou não pretender acionar judicialmente o responsável pela assinatura na documentação de inscrição dos candidatos e envio ao cartório eleitoral dos que fizeram parte da coligação.

A experiência, considerada por ela como traumática, desestimulou-a a concorrer na próxima eleição. 

Já o pai da candidata foi mais incisivo e disse ter noção de quem foi a culpa pelo imbróglio eleitoral.

“Eu acredito sinceramente que houve uma má vontade de conferência do número, que teria de ser feito pelo responsável da própria coligação”, disse Antônio Francisco Baliza, presidente do PTB municipal.

Baliza disse ter ficado bastante constrangido na cidade depois que o fato ganhou repercussão.

“Eu fiz a campanha dela. Não é fácil você chegar à sessão de votação, votar nela e ter o voto anulado. Você imagina o tamanho do buraco que eu queria que tivesse na hora para eu entrar nele”, afirmou o dirigente partidário.

Baliza destacou ainda que a filha tinha reais chances de ser eleita na cidade se não tivesse ocorrido o erro do número.

Cartório eleitoral diz que tipo de documentação apresentada causou confusão

A chefe do cartório eleitoral da cidade disse ao UOL que a coligação entregou a documentação de Cristiane com o pedido de vaga remanescente, não a de substituição a candidato desistente.

“Ela fez campanha com o número de uma candidata que tinha renunciado. Mas toda a divulgação da Justiça Eleitoral foi feita com o número no qual ela foi registrada, que foi o 14.888”, explicou Patrícia Daniele Caputo do Amaral, para complementar:

“Na verdade, o registro dela (Cristiane) foi o de vaga remanescente, apenas para a coligação preencher os 30%, exigidos por lei, de candidaturas do sexo feminino”, disse.  Procurado, o responsável pela coligação e pelos registros de candidaturas não foi encontrado para falar sobre o assunto.

UOL Cursos Online

Todos os cursos