O prefeito Antônio Gomide, do PT, foi reeleito para mais um mandato em Anápolis (GO). Nem mesmo o fato de ter o nome citado em uma lista elaborada pela Polícia Federal com políticos ligados ao bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, natural de Anápolis, abalou sua campanha.

Apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato manteve uma grande vantagem frente a seus oponentes durante toda a campanha. A influência do partido envolveu outros nomes de alto escalão na campanha municipal.

Em seu programa eleitoral, o candidato à reeleição utilizou imagens da presidente Dilma Rousseff, e dos ministros Alexandre Padilha (Saúde) e Gilberto Carvalho (secretaria-geral da Presidência).

De quebra, o PT conseguiu amarrar uma coligação com mais 13 partidos, o que lhe garantiu um tempo de cerca de 15 minutos de programa eleitoral na TV.

Além do capital político, a percepção dos eleitores sobre a atual administração municipal corroborou a vitória nas urnas: sua atual gestão termina aprovada por mais de 80% dos eleitores.

Além de Gomide, quatro candidatos disputaram os votos do terceiro maior colégio eleitoral de Goiás: Elismar Veiga (PPS), Gérson Fallacci (PHS), José de Lima (PDT) e Wilson de Oliveira (DEM).

Antônio Gomide quase teve sua candidatura impugnada pelo TRE-GO, pois o registro de sua candidatura foi feito fora do prazo legal, devido à greve dos servidores da justiça eleitoral.

Além de Gomide, Elismar Veiga (PPS) e Wilson de Oliveira (DEM) também corriam o mesmo risco, mas o TRE-GO decidiu confirmar os registros.

Anápolis e a CPMI do Cachoeira

Cachoeira foi preso em 29 de fevereiro de 2012, acusado de comandar a exploração do jogo ilegal no Estado de Goiás.

O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação de um suposto esquema de pagamento de parlamentares.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que levou à abertura da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e diversos políticos, entre eles o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide (PT), o senador Demóstenes Torres (ex-DEM), que teve o mandato cassado em julho deste ano, e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

Trechos de grampos divulgados pela Polícia Federal relatam que Antonio Gomide pediu auxílio a Demóstenes para construir um parque ecológico no valor de R$ 8 milhões. Nas gravações de 9 de julho de 2011, o senador conta ao bicheiro empresário que se encontrou com Gomide e que este pediu ajuda.

O prefeito confirmou ter se encontrado com Demóstenes, mas negou que tenha prometido dar preferência à Delta, construtora da qual Cachoeira seria sócio oculto.

Gomide também nega qualquer tipo de contato ou influência de Cachoeira em nomeações na prefeitura, mas afirmou que "a família dele [Cachoeira] é extremamente grande na cidade". O irmão de Gomide, deputado Federal Rubens Otoni (PT), aparece em vídeo de 2004 concordando em receber R$ 100 mil de Cachoeira, supostamente para caixa dois de campanha.

A investigações da CPI do Cachoeira estão programadas para retornarem após as eleições.

Doações de campanha

Conforme mostrou reportagem do UOL, as relações do bicheiro com políticos deixaram os candidatos e empresas da cidade com receio na hora de solicitar e repassar doações para o financiamento de campanhas, já que não se sabe de onde pode vir o dinheiro.

Wesley Silva (PMDB), um dos vereadores da Câmara Municipal de Anápolis, foi preso duas vezes este ano, suspeito de lavagem de dinheiro e de envolvimento com Cachoeira. Além dele, o vereador Fernando de Almeida Cunha (PSDB), sobrinho do bicheiro, recebeu na campanha para as eleições de 2008 doações no valor de R$ 25 mil.

O vereador Marcio Jacob Borges (PTB) também recebeu doações de pessoas acusadas pela PF de serem laranjas do contraventor