Sucessão em Curitiba ameaça grupo com mais de 20 anos na prefeitura; analista vê 'desgaste'

Janaina Garcia

Do UOL, em Curitiba

O eleitor de Curitiba vai às urnas neste domingo (7) naquela que promete ser uma eleição de fortes contrastes em relação ao pleito de 2008. Neste ano, Ratinho Jr. (PSC), 31, Luciano Ducci (PSB), 57, e Gustavo Fruet (PDT), 49, seguem uma disputa acirrada para o comando de um orçamento de pouco mais de R$ 5 bilhões. Há quatro anos, o hoje governador Beto Richa (PSDB) havia conquistado a reeleição com massacrantes 77% --e em um único turno.

A disputa entre os três, revelada nas últimas pesquisas de intenção de voto, já vem desde as primeiras sondagens com o eleitor. Nas últimas semanas, a aproximação de Ducci, candidato à reeleição e médico, se alternou tanto com o líder na pesquisa, o deputado federal e empresário Ratinho Junior, com quem chegou a ficar tecnicamente empatado, quanto com o advogado Fruet.

O acirramento nas pesquisas não foi isolado: a campanha na capital paranaense também foi quente na esfera judicial, onde a briga ficou novamente distribuída, principalmente, entre os três primeiros colocados. Pedidos de direito de resposta no rádio e na TV e apreensão de panfletos apócrifos, bem como suspensão de pesquisas,  foram uma constante --o último, ontem, garantiu a Fruet direito de resposta contra Ducci em dois horários na TV, hoje, mesmo com o fim do horário eleitoral.

Grupo político dominante e ‘novos’

A segunda colocação de Ducci e o crescimento de Ratinho Junior colocam na berlinda a dominação de um grupo político que há mais de 20 anos faz sucessores na Prefeitura de Curitiba --grupo do qual participaram nomes como o ex-governador Jaime Lerner, o ex-prefeito Cassio Taniguchi e o atual governador, que transferiu a Ducci o comando do Executivo municipal ao se eleger para o Palácio Iguaçu, em 2010. É nele a aposta de Richa.

Já Fruet é o candidato apoiado pelo governo federal em Curitiba, mas, ao contrário de Fernando Haddad (PT), em São Paulo, e Patrus Ananias (PT), em Belo Horizonte, o pedetista não teve a adesão de nomes como o ex-presidente Lula ou a presidente Dilma Rousseff em sua campanha.

Amigo pessoal do apresentador Carlos Massa, o Ratinho, Lula foi também alvo constante de Fruet na Câmara. Lá, o ainda deputado federal pelo PSDB e membro da CPMI dos Correios, que investigava o mensalão, não poupou críticas a petistas agora julgados pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

A saída de Fruet do PSDB ocorreu em outubro de 2011, um ano após ter perdido uma vaga no Senado, apesar dos cerca de 2,5 milhões de votos recebidos.

Ratinho Jr., por sua vez, foi o deputado federal mais votado do Estado, em 2010, com pouco mais de 600 mil votos.

Antes, havia sido deputado estadual. Seu principal ‘cabo eleitoral’ é Ratinho, e a campanha, com um visual de cores berrantes, vai às ruas não apenas com um mandato parlamentar e meio na bagagem, como com o comando de programas de rádio e TV no grupo de comunicação dos Massa.

Correndo por fora, nas pesquisas, mas apoiado por nomes como o senador e ex-governador Roberto Requião (PMDB), está o deputado, ex-prefeito e engenheiro urbanista Rafael Greca (PMDB), 56.

O advogado Bruno Meirinho (PSOL), 30, a servidora Alzimara Bacellar (PPL), 56, e o advogado Avanilson Alves Araújo (PSTU), 38, completam a lista de opções ao eleitor, apesar de ocuparem as últimas colocações nas pesquisas.

Análise

Para o cientista político Emerson Cervi, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), o acirramento entre os três primeiros não é exatamente uma novidade --excetuando-se, frisa, a campanha passada.

“A diferença em eleições anteriores que também foram acirradas é que dois candidatos chegavam no páreo, apenas, e de dois grupos políticos muito bem definidos e tradicionais: de um lado os urbanistas de direita, com Lerner, Greca, Taniguchi e Richa, de outro, o PT. Quem sempre levou foi o primeiro grupo, mas hegemônico apenas em longevidade, não em termos de votos”, disse.

De acordo com o analista, é como se o fato de Ratinho Junior não ter atrelado a própria imagem nem à oposição, nem ao grupo tradicional, tivesse encontrado coro à  rejeição do atual prefeito perante o curitibano, que já lhe conferiu, este ano, índices de rejeição tanto à administração municipal quanto nas pesquisas, onde lidera nesse quesito.

“Há um desgaste do eleitor com PT e PSDB, e, independente do resultado, o desempenho do candidato sinaliza uma luz amarela ao PSDB para 2014, quando o governador tentaria a reeleição. Ganhar uma eleição com 77% dos votos e, quatro anos depois, não conseguir um percentual maior que os próprios índices de rejeição é algo a ser considerado”, ponderou.

Juiz fala sobre apuração e ações contra pesquisas

O juiz que coordena as eleições em Curitiba, Marcello Walbach Silva, da 1ª zona eleitoral, estimou o prazo de uma hora para que a cidade saiba se haverá segundo turno ou não. Este ano, a capital paranaense terá o sistema de votação por biometria, o que se promete ser critério de rapidez na apuração.

Em entrevista ao UOL, no TRE-PR (Tribunal Regional Eleitoral do Paraná), o magistrado admitiu que foi uma campanha conturbada por conta dos diversos recursos judiciais interpostos entre as coligações, e, principalmente, em relação à divulgação das pesquisas eleitorais.

“Praticamente todas as pesquisas tiveram pedido de impugnação formulados pelos candidatos; salvo duas ou três com irregularidades, as demais foram liberadas”, afirmou o juiz, que completou: “As impugnações são pedidas porque os candidatos não concordam com a metodologia dos institutos, os quais, na realidade, são os que decidem sobre isso. Mas entendemos que o cidadão tem direito à informação, e ter acesso a uma pesquisa também garante a ele esse direito”, avaliou Silva.

Ao todo, Curitiba tem 1.172.930 eleitores para 414 locais de votação.

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