Ex-azarão, Ratinho Jr. deve impor derrota a caciques políticos do Paraná, dizem analistas

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

Até o início da campanha eleitoral tido como um azarão, Ratinho Jr. (PSC) pode chegar ao fim deste domingo (7) como candidato mais votado a prefeito de Curitiba e favorito para vencer as eleições no segundo turno, a se confirmar o que apontam Datafolha e Ibope, os dois principais institutos de pesquisas do país.

Segundo analistas políticos ouvidos pelo UOL, caso isso se confirme, o deputado federal de 31 anos terá imposto uma surpreendente derrota aos maiores caciques políticos do Paraná, que começaram a jogar nas eleições municipais curitibanas o xadrez da sucessão estadual de 2014.

De um lado, o governador Beto Richa (PSDB), que apostou todas as fichas na reeleição do sucessor, Luciano Ducci (PSB), cuja gestão é vista com ressalvas pelos curitibanos --era apenas o quarto colocado entre seis prefeitos avaliados pelo Datafolha em 30 de agosto, com nota média 5,9. Do outro, o casal de ministros petistas Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações), que implodiram a candidatura própria do partido para impor uma aliança com o neo-pedetista Gustavo Fruet, até o ano passado filiado ao PSDB.

Deputado federal tucano até 2010, Fruet foi sub-relator da CPI dos Correios, que desvendou o mensalão, e crítico ácido do governo Lula.

"Os três são os grandes derrotados", afirma Adriano Codato, professor-adjunto de Ciência Política da UFPR (Universidade Federal do Paraná). "Beto Richa achou que a eleição seria um plebiscito de aprovação de seu mandato como prefeito e o de seu continuador, e os caciques do PT local acreditavam que poderiam impor qualquer um como candidato aos eleitores do partido."

A jogada de Richa

Reeleito prefeito de Curitiba em 2008 com 77% dos votos válidos, Richa deixou o cargo menos de dois anos depois para disputar "e alcançar" o governo do estado. Em seu lugar, deixou o vice, Luciano Ducci.

Em 2010, nas mesmas eleições em que levaram Richa ao Palácio Iguaçu, os eleitores paranaenses consagraram outro político tucano: Gustavo Fruet. Candidato ao Senado, perdeu por pouco a eleição para Gleisi Hoffmann e Roberto Requião (PMDB), mas foi o preferido em Curitiba, com 650 mil votos.

Fruet tornou-se, então, candidato natural à prefeitura. Mas Richa preferiu apostar suas fichas na reeleição no fiel aliado Ducci, político que até então disputara uma única eleição na carreira em 2002, quando elegeu-se deputado estadual.

"Estava em questão, também, quem iria comandar o PSDB do Paraná, bem como a capacidade do governador de decidir quem seria o prefeito de Curitiba", analisa Codato. Sem espaço na legenda, mas ainda visto como favorito para vencer as eleições municipais, Fruet mudou-se para o PDT. Mais tarde, sua candidatura receberia a bênção de Gleisi e Paulo Bernardo.

Para Codato, Richa entabulou uma jogada ousada. Se vencer as eleições com Ducci, se consolidará como maior liderança tucana no estado, tirando do caminho um potencial adversário interno (Fruet). De quebra, derrotaria Gleisi, provável candidata do PT em 2014.

"O mesmo raciocínio deve se aplicar ao PT. O casal de ministros apostou em detonar candidaturas próprias e trazer como candidato alguém sem qualquer identificação com o partido, para vencer Richa. Moral da história: no Paraná, temos líderes que transformam os partidos em veículos personalistas, espécies de feudos partidários. Repete-se uma espécie de maldição da política paranaense, de líderes muito maiores que os partidos, como Requião no PMDB e Jaime Lerner com PDT e PFL", argumenta Codato.

O professor lembra que tal personalismo fica evidente, também, na escolha do ex-ministro do Turismo e ex-prefeito Rafael Greca como candidato do PMDB, imposto por Requião contra a vontade de quase toda a bancada de deputados estaduais da legenda.

O fenômeno Ratinho Jr.

"O que temos de diferente, este ano, é que nem Richa, nem os ministros do PT, nem ninguém contava com Ratinho Jr., mais ou menos como ninguém em São Paulo imaginava quão longe iria Celso Russomanno", lembra Codato. "Temos, agora, uma eleição das mais interessantes, porque mostra que a cidade adquiriu uma dinâmica política imprevisível inclusive para os senhores feudais partidários."

"Ratinho Junior não teria espaço nenhum na eleição de 2008, quando já era um deputado bem votado. Mas, em 2012, num cenário em que soma-se a rejeição ao governo de Ducci, a Richa e a Fruet, por conta da aliança com o PT, abre-se um espaço para a terceira via, ocupada pelo Ratinho. Fruet poderia se contagiar com rejeição de Ducci e Richa", avalia Ricardo Costa de Oliveira, professor-associado de Sociologia Política da UFPR.

Assim, a imaginada polarização entre Ducci e Fruet deu lugar a um cenário em que Ratinho Junior lidera as pesquisas eleitorais, com folga. "Observamos uma rejeição grande à Prefeitura de Curitiba, e isso em parte se deve à saída de Richa, no meio do mandato, para disputar o governo do estado", diz Oliveira. "A reeleição do atual grupo político não seria fácil quanto foi em 2008, mesmo que o candidato fosse Fruet, e não Ducci. Afinal, muitos dos problemas apontados pelos eleitores 'saúde, segurança e transporte' seguiriam existindo. E são as políticas públicas da prefeitura que causa a rejeição do prefeito. Aliado do PT, Fruet foi prejudicado pelo fato do mensalão estar sendo julgado nessas semanas que antecedem a eleição. Tudo isso criou um espaço que acabou ocupado por Ratinho Junior."

Para o professor de Sociologia Política, a ascenção de Ratinho Junior pode marcar o fim do ciclo de um grupo político que se mantém no poder em Curitiba desde 1989, com a eleição de Jaime Lerner. "Podemos estar vendo a substituição por uma nova base política, que parece ser a de Ratinho Junior", afirma.

Codato vai além. "Em 20 anos, a cidade mudou (em 1991, Curitiba tinha 1,315 milhão de habitantes, ante 1,746 em 2010). De uma cidade majoritariamente de classe média, hoje temos um eleitorado formado principalmente por eleitores das classes C e D. A demografia da cidade mudou, e com ela seu perfil político. Hoje, ninguém quer saber de parque. As pessoas não querem é morrer na fila do posto de saúde. Ratinho Junior sabe falar para esse eleitor."
 

UOL Cursos Online

Todos os cursos