No interior do Rio Grande do Sul, na região da campanha, fronteira com o Uruguai, uma cidade vivencia uma disputa eleitoral entre duas gerações diversas. A diferença etária entre os dois candidatos a prefeito de Dom Pedrito (439 km de Porto Alegre) é de 45 anos, o que significa duas maneiras muito distintas de governar.

Mário Augusto de Freire Gonçalves (PP) tem 21 anos e está com a faculdade de Direito trancada por conta da campanha eleitoral. Apesar da pouca idade --ele é um dos mais jovens candidatos a prefeito do país--, ele garante que possui maturidade e experiência o bastante para governar a cidade de 38,9 mil habitantes, com economia baseada no plantio de soja, arroz, e na pecuária.

Gonçalves afirma que, quando pequeno, sempre sonhou ser prefeito. "Comecei com 7 anos de idade dizendo que queria ser prefeito. Com uns 13 decidi estudar Direito. Essa era a forma para que eu saísse para estudar e voltasse para Dom Pedrito com um diploma na mão."

Filho de pai advogado, aos 16 anos ele fez algo comum na cidade entre os rapazes de sua idade. Deixou Dom Pedrito e se instalou em Porto Alegre.

A capital lhe deu oportunidades que o levaram até Brasília, onde morou por uma temporada, enquanto assessorava um deputado federal gaúcho. De lá, voltou direto para Dom Pedrito, onde foi escolhido pelo partido como candidato nessa disputa.

"Sou guri"

Gonçalves aposta na renovação para ganhar a eleição, mas reconhece que seu eleitorado mais forte não são os jovens de sua faixa etária.

"Tenho muito mais acesso na terceira idade do que na juventude,onde vejo de forma mais restrita. Sou guri mesmo e me preparei. E quero dar minha contribuição com maturidade. É hora das novas ideias. Não quero criar conflito de gerações, pois elas devem estar unidas pelos seus ideais."

Solteiro desde o início do ano, quando teve que terminar com a namorada, que vive em Porto Alegre, devido à correria da campanha, Gonçalves se diz caseiro, "um guri bem velho" que gosta de tomar chimarrão com os amigos, andar a cavalo e ouvir músicas gauchescas.

Entretanto, não dispensa uma festa. "Também gosto de ir no Cabaré do Beco, em Porto Alegre. Mas falo só Beco porque o pessoal em Dom Pedrito não vai entender", diz o candidato. Em tempo: a casa, de cabaré não tem nada. Apenas herdou parte do nome de uma antiga boate.

Na política, o ídolo de Gonçalves é o atual prefeito de Dom Pedrito, Francisco Alves Dias, quem chama carinhosamente de Chiquinho. "Antes eu era um jovem órfão de heróis."

E é nele quem se espelha para ser um bom prefeito, cujo as características, segundo Gonçalves, são possuir uma equipe competente e ter capacidade de ouvir as pessoas.

"Dr. Ulysses"

Quando os pais de Gonçalves ainda nem sabiam que teriam um filho, ainda mais que ele se candidataria o prefeito da cidade, Lídio Dalla Nora Bastos (PMDB), 66, realizava um grande sonho: conhecia pessoalmente um de seus maiores ídolos na política.

"O [então deputado federal] Ulysses Guimarães veio a Dom Pedrito e me sentei na mesa do almoço com ele, quando eu era vereador."

Em 1988, Lídio começou a cumprir seu primeiro mandato como vereador na cidade. Ao final dos quatro anos, disputou a prefeitura e conquistou o cargo. Acabou a gestão e se recolheu, "dando um tempo" fora da política e se dedicando à produção rural, trabalho que herdou do pai. Entretanto, em 2009 recebeu um novo convite, fez campanha e se reelegeu novamente vereador.

É nessa sua experiência política que Lídio baseia sua atual campanha.

"Estamos pautando pelo que realizei, um trabalho grande pelo social. No primeiro mandado de vereador, por exemplo, construí uma ala inteira do asilo da cidade com meu próprio salário." 

Assim como o adversário, Lídio não vê problemas na grande diferença de idade entre eles. "Ele [Gonçalves] tem vitalidade, é de uma família tradicional e honesta da cidade. Mas, por outro lado, me considero um jovem para tratar de assuntos administrativos e da minha comunidade."

Da experiência no Legislativo e no Executivo municipal, Lídio diz que adquiriu um ensinamento básico para quem deseja ser um bom prefeito. "Governar para todos, sem exceção de classes e, acima de tudo, trabalhar por aqueles que não têm voz."

Pela primeira vez em sua história, Dom Pedrito, a cidade que nasceu a partir das rotas de um contrabandista espanhol que comercializava com índios às margens do rio Santa Maria, verá uma disputa entre duas gerações com jeitos de pensar bem distintos.

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