Atendimento na saúde é calcanhar de Aquiles de Ducci na eleição em Curitiba

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

  • Valterci Santos/UOL

    Pacientes aguardam atendimento na Unidade de Saúde Bairro Novo, em Curitiba; reclamações constantes

    Pacientes aguardam atendimento na Unidade de Saúde Bairro Novo, em Curitiba; reclamações constantes

Melhorar o atendimento no sistema públio de saúde deve ser a prioridade da gestão do próximo prefeito de Curitiba, afirmaram no final de julho 37% dos curitibanos ouvidos em pesquisa realizada pelo Datafolha.

Nos postos de saúde e unidades 24 horas da prefeitura, filas, horas de espera por atendimento, falta de médicos e de medicamentos são reclamações comuns. A situação chega, em alguns casos, ao limite –no final de 2011, uma mulher foi presa após agredir a funcionária de um posto de saúde no Sítio Cercado, zonal sul da cidade.

À polícia, ela disse ter se revoltado após uma pessoa que acompanhava ficar por mais de quatro horas sem atendimento. À época, a prefeitura admitiu que a espera de quatro horas “não está acima de uma meta”.

Em maio de 2012, o atendimento precário causou a morte do músico Emerson Antoniacomi na unidade de saúde 24 horas do Boa Vista (zona norte da capital) após 38 horas internado à espera de uma vaga em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

  • Valterci Santos/UOL

    Pacientes na unidade de saúde no Capão Raso

O músico, que sofreu um acidente vascular cerebral, teve morte cerebral diagnosticada quando finalmente deu entrada em um hospital em Campina Grande do Sul, região metropolitana de Curitiba, onde foi encontrada uma vaga do SUS (Sistema Único de Saúde).

A reportagem percorreu as ruas de Curitiba e conversou com usuários do sistema público de saúde. As reclamações são constantes.

“Na unidade onde faço meu programa de acompanhamento para hipertensão, procurei consulta com um clínico geral em julho, mas só consegui para setembro”, afirma a empregada doméstica Eloir Vujanski, 45, moradora da Vila Sabará, Cidade Industrial de Curitiba, zona sul da cidade.

Também há demora no atendimento de pronto-socorro. “Outro dia levei meu filho à unidade do Campo Comprido. Ele estava muito mal de dor de ouvido, e tivemos de esperar por três horas”, diz Eloir.

Antecessor prega mudança de foco para o setor

“É preciso fazer a transição de um sistema de alta especialização, como o que temos, para um de alta sensibilidade”, afirma ao UOL o médico patologista Armando Raggio. Dono de uma longa carreira como gestor de sistemas de saúde pública, Raggio foi secretário da Saúde, em Curitiba, de 1992 a 94 (durante as gestões de Jaime Lerner e Rafael Greca). Dali, saiu para comandar a secretaria estadual de Saúde durante o governo de Lerner (1995-2002). Ao deixar a prefeitura, recomendou seu diretor-geral, Luciano Ducci, para ocupar o cargo que estava deixando vago. “O recomendei ao [prefeito Cassio] Taniguchi com a ideia de que ele pudesse ajudar a construir um sistema metropolitano de saúde. Mas Ducci se restringiu a atuar em Curitiba, para construir ali a sua carreira política”, critica Raggio, atualmente diretor do Hospital Universitário da UnB (Universidade de Brasília).

“Moro ao lado da unidade de saúde do Cajuru. É preciso esperar na fila, de madrugada, para conseguir uma consulta. E nem sempre se consegue”, reclama Marilin Regiane Gonçalves Pires, 42, também empregada doméstica. “Faltam médicos. Gostaria de saber onde estão os tais 500 médicos que a prefeitura diz que contratou.”

“Quando meu filho nasceu, precisei de pediatra, fui ao posto 24 horas e precisei esperar por horas. E já vi gente esperar por mais de 24 horas por ali”, relata a dona de casa Kelly Moreira Chermawiski, 25, mãe de Lorenzo, de quatro meses.

“Faltam remédios. O médico receita, você vai ao posto de saúde e não tem. Até para receber pomada para assaduras está difícil. Dizem que não podem ficar dando, porque é racionado. Já aconteceu a mesma coisa com o remédio para hipertensão da minha mãe. Outro dia mesmo discuti com a atendente por conta disso”, diz Kelly.

 Apesar disso, Kelly elogia o programa “Mãe Curitibana”, da prefeitura, pelo qual recebeu acompanhamento durante a gestação e o parto do filho. “O atendimento no HC (Hospital de Clínicas da UFPR) foi maravilhoso.”

Calcanhar de aquiles

Os problemas na saúde são provavelmente o calcanhar de aquiles da campanha de reeleição do prefeito Luciano Ducci (PSB). Médico pediatra, ele é funcionário de carreira do sistema de saúde municipal, e comandou a Secretaria da Saúde durante a gestão de seu antecessor e padrinho político, o governador Beto Richa (PSDB), e a de Cassio Taniguchi (DEM, prefeito entre 1997 e 2005).

Em seu primeiro programa de televisão no horário eleitoral gratuito, Ducci antecipou-se às críticas dizendo que “usariam a dor das pessoas para atacar sua gestão”.

Em outro, o “doutor Luciano”, como foi chamado pelo locutor, admitiu que “nem tudo está andando como a gente gostaria que andasse” no sistema de saúde da capital, antes de pedir “um voto de confiança” aos eleitores. “Me considero o candidato mais capacitado para cuidar dessa área”, justificou.

As críticas, de fato, vieram. Ratinho Jr. (PSC), principal adversário de Ducci, segundo a última pesquisa divulgada pelo Datafolha, falou em “espera absurda para conseguir uma simples consulta”, e prometeu reabrir um hospital privado fechado pela Vigilância Sanitária usando o mote “onde a prefeitura vê problema, vou buscar solução”.

O ex-tucano Gustavo Fruet (PDT), que já teve inclusive a irmã Eleonora no comando da Secretaria da Educação da gestão de Luciano Ducci, acusa o prefeito de “incompetência, falta de preocupação e negligência” no comando da saúde pública.

Rafael Greca (PMDB) fustiga Ducci sobre a paternidade do “Mãe Curitibana”, maior trunfo na área da saúde da gestão do atual prefeito. Para o ex-ministro do Turismo, que governou a cidade entre 1993 e 93, trata-se apenas de uma ampliação do “Nascer em Curitiba Vale a Vida”, criado durante sua gestão.

A coligação de Ducci refuta a acusação. Para a campanha do prefeito, o programa de Greca destinava-se apenas aos cuidados com o bebê, enquanto o “Mãe Curitibana”, lançado oficialmente em 1999, acompanha também a mãe desde o início da gestação.
 

O que os principais candidatos dizem que farão

Canditato Propostas para saúde
Ratinho Jr. (PSC) O nosso plano de governo prevê a melhoria da gestão, com a implantação de mutirões de saúde por bairro. Nosso objetivo é melhorar a qualidade no atendimento, principalmente na agilização da triagem. Para isso, vamos ter um contínuo cuidado na recontratação de médicos e de todos os profissionais da área de saúde
Luciano Ducci (PSB) Vamos construir, em parceria com o governador Beto Richa, o Hospital da Zona Norte. Também serão construídas mais 3 Centros de Urgências, no Pilarzinho, Tatuquara e na região central, além de mais 10 Unidades de Saúde e a ampliação de outras 10
Gustavo Fruet (PDT) Para resolver as deficiências do sistema de saúde vamos contratar mil novos profissionais e ter um plano real de cargos, carreiras e salários. Vamos construir o hospital da região norte e o hospital da mulher. Construir e reformar 20 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) nos bairros. Construir CMUMs (Centros Municipais de Urgências Médicas) no Tatuquara e na Matriz
Rafael Greca (PMDB) Construção de dez novos Centros de Especialidades Médicas e Odontológicas e outros 10 Centros de Atendimento Psicossocial. Criação de 15 Unidades de Saúde 16 Horas, uma em cada oito postinhos, diminuindo a pressão sobre as unidades 24 Horas destinadas exclusivamente para os casos de urgência

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