Segurança pública preocupa mais nas capitais que em outras cidades, aponta enquete do UOL

Felipe Amorim

Do UOL, em São Paulo

A segurança pública é apontada como o principal problema de cinco das 26 capitais brasileiras, segundo resultado parcial da enquete do UOLAvalie sua cidade”, que recebeu 257.835 votos dos internautas até as 14h da quarta-feira (19). O problema foi considerado  um dos cinco mais relevantes em 21 das capitais (19%). Nas outras cidades do país, o tema segurança pública é apontado como o pior problema em 5,3% dos 1.120 municípios que receberam votos suficientes para que o ranking pudesse ser calculado.

Clique na imagem e vote no principal problema de sua cidade

Ainda assim, a corrupção desponta como o principal problema brasileiro, na capital ou no interior, como mostrado na primeira reportagem do UOL que analisou os números da enquete. O tema é apontado como a principal questão em sete das capitais do país, e aparece na lista dos cinco piores problemas em 24 das 26 capitais.

Entre todas as cidades que foram avaliadas, a segurança havia recebido 22.979 votos (9%) como principal problema até esta quarta-feira (19), ficando atrás apenas dos temas da corrupção (25%) e da saúde (12%). É importante ressaltar que a enquete criada pelo UOL, que também avalia o desempenho dos prefeitos dos municípios, não tem valor de amostragem científica.

Campanha x violência

A relevância do tema não passa despercebida no jogo político das eleições, seja em propostas para cativar o eleitor ou em críticas para minar o apoio político de governadores de Estado, a quem legalmente cabe o controle das polícias Civil e Militar --responsáveis de fato pela segurança pública.

A preocupação dos internautas reflete a explosão da taxa de homicídios em 11 capitais brasileiras, que entre os anos de 2000 e 2010 cresceu acima de 70%, apesar de o país, no total, ter registrado uma queda no índice de 2% segundo números do estudo mais recente sobre o tema, elaborado pelo Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Justiça.

O Brasil ocupa a 26ª posição no mundo com base na taxa de homicídios por 100 mil habitantes, mas é o país onde ocorreu o maior quantidade de assassinatos -- 43.909 vítimas em 2009 -- do planeta, segundo dados compilados pelo estudo mais recente da ONU (Organização das Nações Unidas).

Capital Nota média do prefeito Principal problema
Belém 2 Poluição
Boa Vista 1,7 Buracos nas ruas
Manaus 3,9 Segurança
Macapá 3,1 Corrupção
Porto Velho 1,7 Corrupção
Rio Branco 5 Falta de energia
Palmas 1,6 Corrupção
Salvador 1 Trânsito
Aracaju 2,6 Saúde
Maceió 4 Segurança
Recife 1,9 Trânsito
João Pessoa 4,9 Trânsito
Natal 0,79 Buracos nas ruas
Fortaleza 2,8 Segurança
Teresina 5,8 Trânsito
São Luis 2,1 Corrupção
Goiânia 2,2 Educação
Campo Grande 4,2 Corrupção
Cuiabá 2,6 Saúde
São Paulo 2,7 Transporte público
Rio de Janeiro 3,2 Corrupção
Belo Horizonte 4,8 Transporte público
Vitória 2,8 Segurança
Porto Alegre 4,1 Corrupção
Curitiba 4,5 Segurança
Florianópolis 2,9 Transporte público

O papel do prefeito

Na campanha, as promessas para a segurança quase sempre miram o reforço e o armamento da guarda municipal. Mas o papel dos prefeitos, segundo indicam especialistas, vai muito além dessa face mais repressiva do poder público.

“Segurança pública diz respeito a bem-estar, educação, saúde, transporte, lazer, iluminação. A cada dia você alarga a compreensão de que a segurança depende de um conjunto de fatores associados em uma perspectiva preventiva”, afirma a professora da UFBA (Universidade Federal da Bahia) Ivone Freire Costa, coordenadora na instituição da Renaesp (Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública).

Bairros com boa estrutura de iluminação, calçadas e recolhimento de lixo, além do acesso a serviços como lazer e educação, tendem a produzir menos crimes por dois motivos: a sensação de ordem e da presença do Estado provocada na comunidade inibe o aparecimento de pequenos delitos, como furtos e depredações, e a organização do bairro dificulta a ação dos criminosos de maior periculosidade, segundo explica o coronel da reserva da Polícia Militar e professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da PM de São Paulo, José Vicente da Silva Filho

“Já há um relativo consenso de que criar áreas de lazer é uma estratégia redutora da violência”, afirma Ivone Costa.

Silva Filho diz que a estratégia de trazer ordem ao espaço público foi usada com sucesso pelo então prefeito de Nova York (EUA), Rudolph Giuliani, que em seus dois mandatos na década de 1990 reduziu a criminalidade em 57% e o número de homicídios em 65%, segundo números da prefeitura da cidade americana.

O coronel cita ainda a queda no número de homicídios na cidade paulista de Diadema, quando em 2002 o município investiu na melhora da iluminação pública. “O crime tem três fatores: o agressor, a vítima e o local. E a gestão no local remete a possibilidades com alto potencial de intervenção das prefeituras. Trata-se de restaurar o espaço público e o devolver ao cidadão”, diz Silva Filho.

Guarda Municipal

Apesar de não ser a única – ou a principal – medida no combate à violência, são as guardas municipais que costumam receber o maior destaque entre as propostas dos candidatos para a segurança.

Para o sociólogo Michel Misse, coordenador do NECVU (Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), cabe à guarda municipal atuar como um primeiro nível de atendimento ao cidadão, cuidando de conflitos cotidianos com os gerados em bares, no trânsito e nas brigas de vizinhos.

“O papel do município [na segurança] é limitado, pois a guarda municipal, cujo crescimento foi induzido nos últimos anos pelo Ministério da Justiça, não deve clonar as polícias militares, o que só agravaria o problema de termos tantas polícias desconexas no Brasil”, avalia Misse.

De início criadas para fazer a segurança do patrimônio público, como parques, monumentos e prédios públicos, as guardas municipais estão tendo suas atribuições modificadas nas cidades brasileiras para desempenhar um papel mais ativo na prevenção à violência, segundo explica Ivone Costa, da Ufba.

“A guarda municipal ainda tem sua estrutura fragilizada, porque há a discussão sobre qual deve ser o seu perfil. Sou de opinião que a guarda não deve ser armada, e que deve ser capacitada no processo de educação preventiva da comunidade”, afirma Costa.

Leia mais sobre as eleições clicando aqui.

UOL Cursos Online

Todos os cursos