Ausência de Russomanno e críticas de arcebispo marcam debate entre candidatos em São Paulo

Priscila Tieppo

Do UOL, em São Paulo

Sem a presença de Celso Russomanno e com um formato que não permitiu muitos momentos de confronto direto, o debate feito pela Arquidiocese de São Paulo com os candidatos a prefeito da capital paulista na tarde desta quinta-feira (20), ficou marcado mais pelo discurso inicial do cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, do que pela discussão de propostas entre os candidatos.

Ao fazer o discurso que abriu o debate, dom Odilo afirmou que "não é função da igreja apoiar ou indicar candidatos" para o voto nas eleições.

"Nós devemos orientar, mas não indicar um candidato. Escolher o candidato é função do leigo católico e não da igreja", afirmou.

Criticas à ausência de Russomanno ficaram para o fim

Celso Russomanno (PRB), líder nas pesquisas de intenção de voto na capital paulista, não compareceu ao debate. Russomanno condicionou sua ida ao evento a uma reunião privada com dom Odilo, mas o pedido não foi atendido.

As críticas para a ausência de Russomanno foram feitas por seus adversários somente no fim do evento, durante as considerações finais que encerraram o debate ou nos comentários feitos a jornalistas na saída do local.

Gabriel Chalita (PMDB) disse estar preocupado com a "falta de propostas" do candidato do PRB: “Um candidato que não comparece ao debate, um candidato com não-propostas, isso me deixa preocupado”. Na saída do debate, Chalita voltou a atacar a ausência de Russomanno. "O argumento que ele usou [para justificar a ausência] é arrogante, é pernóstico".

"Devemos orientar, mas não indicar candidato", diz arcebispo de SP

José Serra (PSDB)  disse que era "previsível" a falta do candidato do PRB. “Porque é um debate de ideias, é previsível que ele não goste de fazer esse debate”.

Já Fernando Haddad (PT) disse que faltou "um gesto de humildade" de Russomanno. “Aqui não é para amador. Eu sempre digo que tem que ter propostas para São Paulo".

O debate, que foi chamado de colóquio pelos organizadores, foi realizado no teatro Fernando Torres, no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. Os candidatos presentes foram José Serra (PSDB), Fernando Haddad (PT), Gabriel Chalita (PMDB) e Soninha Francine (PPS).

Debate morno teve pouco confronto entre candidatos

Sem espaço para perguntas entre os candidatos -- que foram feitas por apenas dez religiosos escolhidos previamente pela Arquidiocese e selecionados por sorteio-- foram poucos os momentos de conflito entre os candidatos.

Um dessas raras ocasiões aconteceu quando o padre Júlio Lancelotti, conhecido por seu trabalho com a população de rua, perguntou a Haddad sobre o tratamento que o governo municipal dá aos moradores de rua e, em suas palavras, a política higienista adotada pela Prefeitura de São Paulo atualmente.

O candidato petista concordou com o ponto de vista expresso pela pergunta de padre Júlio e disse concordar com a visão de que há uma "política da  limpeza social": "É sofrível o que assistimos hoje. Não dá pra entender como, em numa época de prosperidade como agora, a população de rua em São Paulo aumente".

No espaço destinado ao comentário da resposta de Haddad, Serra disse que encomendou um levantamento em que houve 16 mil abordagens de moradores de rua, mas só oito denúncias de moradores de rua que foram agredidos. "O número de vagas em albergues aumentou, mas há uma ociosidade, há 800 vagas em albergues".

Outro momento que arrancou manifestações da plateia foi uma resposta de Chalita sobre a questão da moradia em São Paulo.

Chalita disse que a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB) foi a que mais fez casas populares na capital. “Mais, inclusive, que a última gestão, nesses oito anos”, disse referindo-se à dobradinha Serra-Kassab.

Com a “bola levantada”, já que Erundina era do PT quando prefeita e apoia a candidatura de Haddad, o candidato petista reforçou no comentário da resposta: “Nós temos projetos para a moradia, por isso que Erundina nos apoia”, disse.

Cronômetro atrapalhou

O cronômetro que conduzia o debate foi destaque pelos transtornos que provocou. Com problemas, parando e disparando a esmo, o relógio atrapalhou a organização, que tinha que a todo momento interromper as respostas dos candidatos para zerar a contagem de tempo.

Datafolha

Pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (20) aponta que Russomanno continua liderando a corrida pela Prefeitura de São Paulo, com 35% das intenções de voto e 14 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, José Serra.

O levantamento mostra também que Serra se descolou de Haddad, com quem aparecia tecnicamente empatado. O candidato tucano oscilou um ponto para cima e agora tem 21% das intenções de voto. Haddad, que variou dois para baixo, agora tem 15%. Gabriel Chalita (PMDB) manteve os 8% da pesquisa anterior. Soninha (PPS) oscilou de 5% para 4%.

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