Coordenador da campanha de Russomanno não tinha o direito de ofender a Igreja Católica, diz arcebispo de São Paulo

Julianna Granjeia

Do UOL, em São Paulo

O arcebispo metropolitano de São Paulo, dom Odilo Scherer, afirmou nesta sexta-feira (14) que o presidente do PRB, pastor Marcos Pereira, --um dos coordenadores da campanha de Celso Russomanno (PRB)-- não tinha o direito de ofender a Igreja Católica e negou que tenha trazido a questão do “kit-gay” para o contexto eleitoral.

Por meio de documento assinado pelo secretário de comunicação da Arquidiocese de São Paulo, dom Odilo afirmou que a nota de repúdio divulgada pela arquidiocese na quinta-feira (13) a um texto de Pereira "é uma resposta pontual à ofensa que o senhor Marcos Pereira fez à Igreja Católica Apostólica Romana”.

O texto “Qual o futuro da educação no Brasil?”, publicado no blog do pastor no dia 18 de maio de 2011, repercutiu nas redes sócias durante esta semana, quando chegou ao conhecimento da Arquidiocese de São Paulo.

No post, Pereira critica o material elaborado na gestão do candidato Fernando Haddad (PT) no Ministério da Educação, que ficou conhecido como "kit-gay" --cujo objetivo seria de combater a homofobia nas salas de aula com vídeos e textos didáticos.

“As autoridades já impuseram a nós, brasileiros, o ensino religioso nas escolas públicas. [...] Agora, tentam nos impor os famigerados 'kits-gays'. Até quando o Vaticano terá o controle das ações do governo, seja federal, estadual ou municipal? Até quando o Brasil do século 21 continuará se curvando às 'batinas púrpuras' de Roma? Precisamos salvar o Brasil e torná-lo um país verdadeiramente laico, completamente livre da influência da religião.”, diz o texto do pastor.

A nota de repúdio divulgada ontem, a pedido de d. Odilo, diz que “numa clara demonstração de destempero”, Pereira atribui à Igreja o "kit-gay" e incita a intolerância religiosa.

“Qual seria o motivo para ataques tão gratuitos, infundados e ridículos à Igreja Católica em tempo de campanha eleitoral? Lamentavelmente, se já fomentam discórdia, ataques e ofensas, sem o poder, o que esperar, se o conquistarem, mesmo parcialmente, pelo voto? É pra pensar!”, diz a nota.

Pereira rebateu o texto do arcebispo. "Lamento que tal exercício de pensamento publicado há um ano e quatro meses seja usado de maneira indevida às vésperas da eleição para a prefeitura de São Paulo", escreveu em seu blog hoje.

Questionado se a nota de repúdio da arquidiocese levou o assunto para o contexto eleitoral, d. Odilo respondeu, por meio de seu secretário, que não.

“O texto continua postado no blog do pastor Marcos Pereira, que continua presidente do partido do candidato Russomano, o PRB. Além disso, Pereira continua uma das principais lideranças da campanha de Russomano para a Prefeitura de São Paulo. Tudo isso é que traz a questão para o contexto eleitoral, e não a reação, justa, da Igreja Católica a uma ofensa tão grave”, afirmou.

De acordo com ele, não se trata de Russomanno ser católico ou evangélico.

“A Igreja Católica não apoia e nem deseja que se instaure um clima de disputa religiosa na campanha eleitoral pela Prefeitura de São Paulo. Tanto assim que convocou um colóquio com os principais candidatos cujo único objetivo é debater e refletir, com eles e padres e religiosos, sobre questões e temas de interesse para a cidade de São Paulo”, respondeu hoje a arquidiocese.

Repercussão entre os candidatos

Em sabatina promovida pelo portal "R7" e pelo canal "Record News", Haddad afirmou hoje que seus adversários querem fazer uma "guerra santa", estimulando uma cultura de intolerância religiosa que não tem raiz na história do país.

"Não faz sentido criar uma guerra religiosa na cidade. Já chegou a hora de por um ponto final nessa história. Chega de brincar com a boa fé das pessoas. Foi liberada uma emenda parlamentar, o material não foi aprovado e não foi distribuído. Ponto. Pra que continuar com essa celeuma?”, afirmou o candidato.

O petista também insinuou que Pereira não tem clareza sobre o princípio do Estado laico, um dos fundamentos da República.

"Se a pessoa não tem clareza desse princípio, se não tem formação democrática nessa direção, ela vai cometer equívocos. O Estado laico implica em combate à intolerância religiosa, e não o contrário", disse Haddad.

Russomanno, em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo” hoje, minimizou a nota de repúdio emitida pela arquidiocese de São Paulo.

"Esta era uma opinião de um blogueiro, que é o presidente do meu partido. Uma opinião de maio do ano passado, num contexto que era a sobre a distribuição da cartilha ['kit-gay']." "Estão requentando esta história toda porque estamos num bom momento político", disse Russomanno.

Já o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, chamou de absurda a vinculação que o PRB fez entre a Igreja Católica e a distribuição do material.

"Me parece absurda a crítica feita à Igreja Católica responsabilizando-a pelo 'kit-gay'. Não tem cabimento", afirmou o tucano em entrevista à Folha.

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