No Rio, candidatos da região serrana exploram tragédia e fazem campanhas milionárias

Marcela Rahal, Priscila Tieppo e Danillo Sperandio

Do UOL, em Teresópolis e Nova Friburgo

Os eleitores de Nova Friburgo e Teresópolis, cidades mais afetadas pelo temporal que deixou cerca de 900 mortos na região serrana do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011, terão uma árdua tarefa neste ano de eleição: escolher candidatos que consigam definitivamente reconstruir as cidades atingidas pelas chuvas.

 

Priscila Tieppo/UOL

Um ano e meio depois da tragédia, nenhuma casa popular foi construída, alguns bairros afetados ainda estão abandonados e repletos de escombros, ruas e estradas destruídas continuam cheias de lama, poucas obras para evitar deslizamentos e enchentes foram concluídas e o pior: moradores continuam em áreas de risco. Em Teresópolis, são aproximadamente 55 mil pessoas nesses locais, e em Nova Friburgo são cerca de 10 mil moradores, segundo a Defesa Civil dos municípios.

Além das chuvas que destruíram a região, a administração municipal também foi afetada: os prefeitos de Teresópolis e Nova Friburgo foram afastados na época da tragédia acusados de desviar verbas federais. O prefeito de Nova Friburgo Dermeval Barboza Neto (ex-PMDB, agora filiado ao PT do B) foi afastado em agosto de 2011 pela Justiça Federal. Em Teresópolis, o prefeito Jorge Mário Sedlaceck (ex-PT, atual PHS) foi afastado em agosto do mesmo ano e depois cassado pela Câmara em novembro.

É em meio a essa situação que candidatos para prefeitos e vereadores saem às ruas para fazer campanha nas cidades. Nas regiões mais afastadas e afetadas pelo temporal são poucos os candidatos que se arriscam a pedir votos. Nesses locais, por enquanto, apenas santinhos e placas com propaganda política foram distribuídos. Na opinião de alguns moradores, os candidatos estão com “vergonha”. Até candidatos da oposição são vistos com desconfiança pelos eleitores de Teresópolis e Nova Friburgo, que se mostram descrentes quanto ao futuro da região.


Campanhas milionárias
Enquanto os investimentos nas cidades vão devagar, - apesar do alto volume de recursos repassados pelo governo federal para a reconstrução das cidades, cerca de R$ 323 milhões para Nova Friburgo e Teresópolis – campanhas milionárias pretendem ganhar o voto do morador desiludido, nessas cidades com menos de 150 mil eleitores cada uma. Os recursos declarados à Justiça Eleitoral pelos candidatos a prefeito, para gastos de campanhas, somam quase R$ 20 milhões nos dois municípios.

R$ 20 milhõesem campanhas eleitorais

Em Nova Friburgo, os seis candidatos anunciaram, no total, R$ 11,25 milhões para as campanhas, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Os candidatos Pedro Rogério Vieira Cabral, do PSD, e Jairo Wermelinger Araújo, do PHS, encabeçam a lista dos gastos: cada um pretende desembolsar R$ 3 milhões. Em Teresópolis, os gastos registrados para a campanha dos oito candidatos à prefeitura somam R$ 8,7 milhões. Nilton Wilson Salomão, candidato do PT, é o que mais pretende investir na campanha com R$ 2,5 milhões.

Candidatos exploram tragédia na campanha
Alguns candidatos, além de investirem pesado nas campanhas, aproveitam a falta de ações dos últimos prefeitos para prometer soluções pós-tragédia. A catástrofe aparece nos nomes das coligações e também nos programas de governo.

O candidato do PMN à Prefeitura de Nova Friburgo, Marconi Jair Medeiros, é um dos que promete a solução, pelo menos, no nome da coligação: “Para Chegar e Resolver”. Mas sua proposta tem apenas 14 itens, expostos de forma simplificada e a respeito da tragédia ele anuncia - sem detalhar - a “construção de casas e muros de contenção de encostas”. Os gastos para sua campanha devem ser de R$ 1,45 milhão.

Na disputa, a candidata do PSB Maria da Saudade Braga, que anunciou gastos de R$ 1,7 milhão, fez sua proposta de governo com base nos estragos causados pelo temporal e estampou no nome de sua coligação: “Nova Friburgo Vai Dar a Volta Por Cima”. Entre suas promessas estão: eficiência e investimentos para melhorar a atuação da Defesa Civil e campanhas para esclarecer a ocupação do solo. Em Teresópolis, o candidato do PT Nilton Wilson Salomão também promete ações para as áreas de risco. O nome da coligação é “Reage Tere” e sua campanha deve sair por R$ 2,5 milhões.

O prefeito interino de Teresópolis que assumiu há um ano e agora é candidato à eleição, Arlei de Oliveira Rosa (PMDB), tem feito uma campanha ostensiva pela cidade – com recursos que podem chegar a R$ 1,5 milhão. Em seu programa de governo o candidato explica que “já fez muito mais, em muito menos” e que “concentrou seus esforços para áreas mais emergenciais” e cita algumas ações que pretende fazer, como obras de contenção de encostas, construção de casas populares e limpeza de rios e córregos. Ao contrário dos demais candidatos, Arlei também está investindo em propaganda política nas áreas atingidas pelo temporal, que têm tido mais resistência por parte dos eleitores.

O “Programa Municipal de Prevenção a Desastres Naturais” é a aposta da candidata Maria do Rosário Carneiro do PTB que anunciou em sua proposta o plano anti-tragédia. O pacote consiste em “ações preventivas e de preparação para reduzir a ocorrência de danos e prejuízos, incluindo pronta resposta de todos os órgãos competentes às situações de emergências”. A previsão de gastos para sua campanha é de R$ 2 milhões.

O candidato do PR Cleyton Silva Valentim - que pretende gastar R$ 1 milhão - também usa a tragédia em sua campanha, critica a atual administração, mas não específica suas ações. “Há a necessidade imediata de oferecer alternativas às áreas afetadas pelo desastre de 2011, através da construção de moradias para desalojados/desabrigados, bem como há a necessidade de se recuperar os bairros e localidades atingidas pelo desastre natural”.

Mesmo com tantos apelos a possíveis soluções, os moradores da região serrana estão desiludidos e até revoltados com a administração pública. Alguns prometem não votar, outros dizem que vão votar em branco ou ainda nulo.

Obras
A Prefeitura de Teresópolis diz que o dinheiro repassado pelo governo federal para a reconstrução das sete cidades atingidas pela tragédia está sendo administrado pelos governos estadual e federal. O governo federal repassou um total de R$ 678 milhões para as sete cidades (Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Areal, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim). Desse total, cerca de R$ 108 milhões foram para Teresópolis.

O temporal, que deixou quase 400 mortos, atingiu 12 localidades da cidade e provocou 560 deslizamentos de terra no município, segundo o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

Desde então, segundo a prefeitura, quatro obras de contenção de encosta para evitar novos deslizamentos estão sendo feitas pelo governo estadual no município. Outras duas obras de contenção já foram concluídas. Além disso, um projeto de desassoreamento dos rios está em andamento, desde setembro de 2011, pelo governo estadual. O Inea (Instituto Estadual do Ambiente) também está fazendo um trabalho de redimensionamento das calhas dos rios Príncipe e Imbuí.

Com recursos próprios, a prefeitura informou que executou obras de recuperação e extensão de galeria de águas pluviais, construção de muros de contenção em três bairros e reconstrução de duas pontes e de uma passarela de pedestres.

Uma das marcas que ainda restam da tragédia, os escombros das casas destruídas pelo temporal, ainda continuam em bairros como Campo Grande e Caleme, visitados pela reportagem.

Segundo o subsecretário de obras de Teresópolis, Sebastião Correia Pinto, os destroços devem continuar lá até os moradores serem indenizados pelo governo estadual. Por enquanto, os escombros servem como uma “prova” de que existia uma casa ali. “[O morador diz] A minha casa era aqui. Mas e aí, está filmado?”, questiona o secretário.

Em Nova Friburgo, a situação é parecida. O temporal deixou cerca de 450 mortos e provocou 300 deslizamentos de terra. Assim, como a cidade vizinha, bairros continuam aparentemente abandonados, moradores ainda estão em áreas de risco, poucas indenizações foram pagas e nenhuma casa popular foi entregue às vítimas.

A Prefeitura de Nova Friburgo informou, por meio de nota, que 26 obras para a reconstrução da cidade estão “em fase de licitação”. O volume de recursos previstos para estas obras é de aproximadamente R$ 26,5 milhões.

Segundo o secretário de obras do município, Clauber Domigues dos Santos, a troca de prefeitos provocou o atraso dos serviços. “Você pega uma casa que passou um tufão dentro, até você arrumar tudo para começar a fazer uma gestão, conforme a caraterística do prefeito Sérgio Xavier, demorou um pouco. Em primeira instância, o que a gente começou a fazer foi resolver as coisas emergenciais para manter o mínimo para a população”.

Em nota, o governo do Estado do Rio de Janeiro não especifica quanto já foi investido em cada uma das sete cidades, mas diz que R$ 61,3 milhões já foram gastos em aluguel social para os moradores da região. Além disso, R$ 472 milhões foram usados para a construção de moradias e mais R$ 619 milhões foram investidos em obras de contenção de encostas, recuperação de rios e reconstrução de pontes. Ao todo, segundo a nota, os governos federal e estadual estão investindo 1,28 bilhão nos sete municípios.

 

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