No programa da noite, Olimpíada no Rio é utilizada na campanha de Paes

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

  • Marcelo Fonseca/Brazil Photo Press/AE

    No dia 19 de agosto, Paes levou a bandeira olímpica ao Cristo Redentor, junto com o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman (de óculos).

    No dia 19 de agosto, Paes levou a bandeira olímpica ao Cristo Redentor, junto com o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman (de óculos).

O prefeito do Rio de Janeiro e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PMDB), utilizou o horário político noturno, nesta quarta-feira (22), para exibir um clipe com imagens da escolha da capital fluminense como a sede dos Jogos Olímpicos 2016. Além disso, apesar das observações críticas da Procuradoria Regional Eleitoral, a coligação "Somos um Rio" não hesitou em utilizar a imagem de Paes no encerramento de Londres 2012.

O atual prefeito também aproveitou a edição noturna do horário eleitoral gratuito para investir na publicidade do sistema BRT (Bus Rapid System) Transoeste, o Ligeirão, que liga a Barra da Tijuca a Santa Cruz, na zona oeste da cidade, por meio de uma faixa exclusiva para ônibus articulado.

No restante do programa, o peemedebista manteve a estratégia de enaltecer o "orgulho dos cariocas". O atual prefeito da capital fluminense conta com 16m17s de tempo na TV --tempo pelo menos 3 minutos maior do que a soma de todos os candidatos.

Dos principais adversários de Paes na corrida eleitoral --o atual prefeito é considerado favorito de acordo com as pesquisas do Ibope e do Datafolha--, apenas o concorrente do DEM, Rodrigo Maia, optou por uma peça publicitária diferente em relação ao programa exibido à tarde.

O filho de César Maia abriu espaço para a vice, Clarissa Garotinho (PR), filha do ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR).

Já Marcelo Freixo (PSOL) repetiu o mesmo programa exibido anteriormente. Ao falar de seus dois mandatos como deputado estadual, Freixo citou a CPI das Milícias, da qual foi presidente, realizada na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) em 2008.

O tema é fundamental para Freixo, que ganhou visibilidade a partir das investigação sobre a máfia do poder paralelo. O deputado optou por uma apresentação centralizada em sua trajetória política, o que incluiu um depoimento do cantor Chico Buarque, que faz campanha para Freixo.

Uso político da Olimpíada

Conforme o UOL mostrou na semana passada, o tema Jogos Olímpicos é considerado fundamental pela coligação "Somos um Rio". No entanto, na visão do procurador regional eleitoral do Rio, Maurício da Rocha Ribeiro, a veiculação de propagandas eleitorais associadas ao evento e a participação de Paes na solenidade de encerramento de Londres 2012 já são consideradas "abuso de poder político".

O programa noturno desta quarta-feira (22) teve início com um depoimento do atual prefeito supostamente após a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres (Paes levou para a Europa uma equipe de TV a fim de gerar vídeos de campanha), no qual ele comenta sobre a sua participação na festa. Na ocasião, Paes balançou a bandeira olímpica --essa imagem também é mostrada.

"Para mim ficou muito essa marca daquele túnel ali. Quando eu estava lá dentro balançando a bandeira, já era mais euforia. Quando eu vi aquele túnel ali, você pensa sempre ser uma criança no Rio, penso nos meus filhos e nos filhos dos outros, que podem daqui a alguns anos dizer: estou vivendo numa cidade muito melhor", disse.

Em seguida, a coligação exibe imagens do anúncio do COI (Comitê Olímpico Internacional) a respeito da escolha do Rio para sediar o evento em 2016, e mostra a festa feita em Copacabana com uma imensa faixa: "Rio loves you" --"Rio ama você", em português. Durante a comemoração dos dirigentes brasileiros, Paes aparece ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-jogador Pelé.

Visivelmente emocionado ao levantar e balançar a bandeira olímpica, ritual que significa a passagem do evento --de Londres para o Rio--, Paes utiliza a imagem em sua propaganda eleitoral através de dois ângulos diferentes, sendo esta sucedida pela cena na qual a bandeira brasileira é hasteada. Na sequência, o atual prefeito comenta:

"Essa bandeira representa muito para a gente. Para quem é carioca, para quem é brasileiro. Eu sempre acreditei muito nessa vitória, sempre acreditei que a Olimpíada é uma superoportunidade para transformar e mudar a vida das pessoas pra melhor. Agora é a vez do Rio", afirma.

Questionado pelo UOL sobre a participação de Paes na chegada da bandeira olímpica à capital fluminense e a possível utilização do evento como marketing político, antes do início do horário político, o procurador Maurício da Rocha Ribeiro afirmou que a campanha do peemedebista "está cometendo excessos no uso político dos Jogos".

"Supostamente ele está na condição de prefeito, mas é um momento de transição. Ele está com essa bandeira olímpica na mão e não larga. Já estão ocorrendo excessos, e inclusive ele começou a disparar várias mensagens seguidas pelo Twitter, começou a extrapolar", disse Ribeiro. "Juntando com outras situações que ocorreram anteriormente, podemos dizer que se configura o abuso de poder político", disse.

Jogos: efeito positivo

Para o professor de marketing político da ESPM-RJ (Escola Superior de Propaganda e Marketing) Eugênio Giglio, as imagens que associam Eduardo Paes aos Jogos Olímpicos, a exemplo do momento em que o atual prefeito recebeu a bandeira durante a solenidade de encerramento de Londres 2012, geram "um efeito inegavelmente positivo".

Paes tem quase 3min a mais que os demais candidatos juntos

O especialista afirma que tal "gancho eleitoral" seria o "maior bônus" em face da escolha do Rio como sede da Olimpíada 2016, argumentando assim que Paes não poderia ser culpabilizado por adotar essa estratégia. "Nessas condições, qualquer candidato faria o mesmo", disse.

Do ponto de vista do marketing político, Giglio diz que a propaganda de TV pode criar no inconsciente da população uma ideia de "dívida", isto é, a sensação de que a vitória da capital fluminense na eleição do Comitê Olímpico Internacional (COI), superando metrópoles como Chicago e Madrid, está obrigatoriamente vinculada aos feitos da atual gestão.

"Ele pode até chamar para si o crédito pela escolha da cidade, passando a ideia de que o Rio só foi escolhido por causa dele. Ou seja, ele se apodera da Olimpíada para fortalecer a propaganda. O episódio da bandeira, por exemplo, gera essa ideia. E aquela imagem não tem mais como tirar. Indiscutivelmente, é uma imagem muito forte, que pode trazer mais intenções de voto e, consequentemente, decidir a eleição", completou.

Paes destaca retomada da "autoestima"

Na estreia do horário político na TV para os concorrentes à Prefeitura do Rio de Janeiro, à tarde, Paes manteve a estratégia adotada desde que o seu nome foi confirmado como candidato à reeleição: enaltecer o "orgulho dos cariocas".

Os principais adversários do peemedebista na corrida eleitoral, Marcelo Freixo e Rodrigo Maia, não partiram diretamente para o ataque contra a atual gestão. Ambos optaram por uma apresentação centralizada em suas respectivas trajetórias políticas, o que incluiu depoimentos de familiares e personalidades.

No programa do atual prefeito, foram exibidos vários depoimentos de cariocas que retornaram ao Rio de Janeiro após deixar a capital fluminense em busca de oportunidades em outros Estados.

O peemedebista insere uma série de entrevistas --em uma delas, o próprio Paes vira o entrevistador in loco-- com pessoas que foram supostamente beneficiadas por programas desenvolvidos na atual gestão, tais como o Cegonha Carioca e o Bairro Carioca.

Todos os projetos mostrados --tais como o Parque de Madureira, a praça do Conhecimento, o Morar Carioca-- beneficiam principalmente moradores das zonas norte e oeste, ou de favelas como a Babilônia, por exemplo, na zona sul. Esse fato indica que a campanha de Paes busca se aproximar da população mais pobre, criando assim a imagem de um "candidato popular".

"O prefeito veio aqui no morro, viu o que estava acontecendo e afirmou que iria tirar todas as pessoas daqui... E está tirando", afirma um morador da comunidade Parque João Paulo II, beneficiado pelo projeto "Bairro Carioca".

Tempo curto na TV faz Freixo apostar na internet

O pouco tempo de TV designado para a campanha do candidato do PSOL (1m22s) levou Freixo a adotar uma estratégia simples de campanha neste primeiro dia de horário político. Sem ataques mais elaborados à atual gestão, ele se limitou a uma apresentação curricular e de sua família.

Uma alternativa encontrada pela campanha de Marcelo Freixo é a extensão do programa de TV para a internet, através de um bate-papo diário com eleitores e internautas --sempre após a propaganda na TV. O candidato também utiliza com bastante frequência as redes sociais para divulgar as suas ideias.

A campanha do concorrente do PSOL já confirmou que serão utilizadas nos próximos programas na TV imagens do filme Tropa de Elite 2, cujo personagem Diogo Fraga, o deputado que luta contra milicianos, foi inspirado na atuação de Freixo na Alerj.

Rodrigo Maia se apresenta como oposição a Paes, Cabral, Lula e Dilma

Maia foi o único candidato a citar o caso do mensalão na tentativa de atribuir a ele, então líder do extinto PFL e atual DEM, méritos por conta do trabalho realizado pela CPI que investigou o caso, instalada em julho de 2005.

"E quando veio o assunto do mensalão, a maioria da oposição não acreditava que nós tivéssemos condições, número, para conseguir instalar a CPI. Como líder de um partido de oposição, o PFL, eu cumpri o meu papel. E hoje a gente está vendo a importância que foi a instalação daquela CPI depois de todo o trabalho que nós realizamos", disse.

O filho do ex-prefeito César Maia citou ainda o fim da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos), imposto que foi extinto em janeiro de 2008, também no sentido de atribuir méritos ao seu desempenho como parlamentar.

"O governo dizia: se acabar a CMPF, o Brasil vai quebrar. Depois que acabou a CPMF foi o período onde o Brasil cresceu mais. E nós temos que pensar que se, de fato, todos os tributos que nós cobramos dos cariocas são adequados", afirmou.

A estratégia do candidato do DEM, considerando o tom de sua campanha até aqui, é a de fazer com que possíveis polêmicas relacionadas aos governos federal e estadual reflitam na imagem do candidato à reeleição, que possui larga vantagem nas pesquisas feitas desde o início do processo eleitoral. Já Eduardo Paes vem utilizando em seu favor, há muito tempo, justamente a parceria com as demais esferas governamentais.

Enquanto o concorrente do DEM tenta inseri-lo em um contexto de escândalos, a abertura de seu primeiro programa na TV, por exemplo, se deu com um depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já havia afirmado --na inauguração do Ligeirão Transoeste, na zona oeste do Rio-- que pediria votos para o peemedebista. Ambos foram punidos pelo discurso de Lula, já que ainda estavam na pré-campanha.

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