Por reeleição de prefeito de Curitiba, governador do Paraná deve enfraquecer seu secretariado

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

Cinco dos homens de confiança do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), devem trocar nos próximos dias seus cargos no primeiro escalão da administração estadual por um posto na campanha de reeleição do prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB).

São eles José Richa Filho (irmão do governador Beto Richa e secretário da Infraestrutura e Logística) Michele Caputo (Saúde), Norberto Ortigara (Agricultura), Mounir Chaowiche (presidente da Cohapar) e Juraci Barbosa (presidente da Agência de Fomento).

Os cinco se juntariam a outros três que já deixaram a administração estadual motivados por interesses eleitorais –-Fernanda Richa, mulher do governador, Fernando Gighnone, coordenador da campanha de reeleição de Ducci, e Ricardo Barros, que trabalha por candidatos em Maringá e Londrina.

Embora a assessoria de imprensa do governo do Estado afirme que “não há nenhuma confirmação da licença de outros secretários”, a saída é dada como certa nos bastidores. “Cada um [dos prováveis licenciados] sempre teve um papel nas campanhas do grupo”, disse um tucano que trabalha próximo a Richa.

O próprio governador admitiu, em entrevistas, “avaliar a possibilidade” de deixar o cargo para trabalhar pela reeleição de Ducci, que foi seu vice-prefeito em Curitiba. “Tenho responsabilidade com a cidade, e não vou ficar de fora do processo eleitoral”, afirmou, no início do mês, a uma rádio da cidade.

Governo x comitê eleitoral

“O receio de que o candidato não esteja bem nas pesquisas motiva a convocação de membros do governo para a campanha”, disse, ao UOL, o cientista político Ricardo Costa de Oliveira, professor-associado de Sociologia Política da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Na última pesquisa Ibope, divulgada em 10 de agosto, Ducci tem 25% das intenções de voto, e está tecnicamente empatado com Gustavo Fruet (PDT, 24%), e Ratinho Jr. (PSC, 23%). A margem de erro do levantamento é de quatro pontos percentuais, para mais ou menos.

“O que vemos é o governo se transformar em comitê eleitoral de um candidato. De certa forma, isso afeta o resultado do trabalho do governo. E temos uma indesejável mistura entre diferentes esferas administrativas, que são o estado e a prefeitura. Seria ideal que houvesse uma autonomia relativa entre elas”, disse Oliveira.

Ao tomar posse como governador, Richa afirmou que seus secretários teriam que assinar “contratos de gestão” com “metas a “cumprir”. O UOL questionou a assessoria de imprensa do governo do Estado se tais contratos e metas não seriam prejudicados com a saída de seus signatários.

“Se acontecer o pedido [de licença dos secretários], não deve haver prejuízo com relação às metas estabelecidas nos contratos de gestão”, informou a assessoria, em nota enviada à reportagem. “Os secretários assinam o documento, mas as metas são estabelecidas por secretaria. Além disso, todos os secretários contam com suas equipes para alcançar os objetivos.”

Prossegue a nota: “Como ocorre em qualquer outro ambiente de trabalho, seja público ou privado, o trabalho é coletivo. Se houver afastamento, o titular deve indicar um responsável para dar continuidade aos projetos e programas em execução.”

“É uma contradição a saída dos secretários para campanha justamente no momento em que se discutem importantes projetos para o estado. Mais uma vez, o projeto eleitoral é colocado à frente da infraestrutura do Paraná”, diz Gustavo Fruet. Para ele, o desembarque em massa de secretários de estado para a campanha de seu adversário “não tem precedentes na história política do Paraná.”

A reportagem também procurou as campanhas de Ratinho Jr. e Luciano Ducci, para que ambos comentassem a possível saída dos secretários. Por meio de assessores, ambos informaram que não iriam se manifestar.

Quem já saiu

Mulher do governador do Paraná, Fernanda Richa deixou na semana passada o comando da secretaria da Família e Desenvolvimento Social para trabalhar em tempo integral pela reeleição do ex-vice-prefeito do marido.

Herdeira da família que fundou o banco Bamerindus --passado às mãos do HSBC em 1997 pelo Proer, após intervenção do Banco Central--, ela goza de grande prestígio entre líderes comunitários e moradores de bairros periféricos da cidade após seis anos à frente da FAS (Fundação de Ação Social), da prefeitura, durante a gestão do marido em Curitiba. Por isso, é vista como estratégica para a reeleição de Ducci.

No comando da campanha do prefeito, está outro integrante do primeiro escalão do governo Richa, também de licença: o presidente da estatal de saneamento, a Sanepar, Fernando Gighnone.

Segundo a assessoria de imprensa da empresa, que enfrentou uma greve de parte de seus trabalhadores na semana passada, Gighnone requereu licença no período entre 2 de agosto e 15 de outubro.

Ricardo Barros, que comandava a pasta da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul, deixou o governo no dia 10 de agosto, sem prazo para retornar, segundo sua assessoria. Ele trabalha como coordenador de campanhas eleitorais em Maringá (onde ele já foi prefeito e o irmão, Silvio Barros, atualmente comanda a cidade e tenta fazer o sucessor) e Londrina.

Outro lado

O UOL também procurou os secretários cotados para trocar o governo do Paraná pela campanha de Ducci se realmente deixariam seus cargos.

A Secretaria do Estado da Saúde informou que Michele Caputo está em férias até 25 de agosto e de que não há licença prevista até seu retorno.

A Secretaria do Estado da Agricultura informou que Norberto Ortigara “cogita” a licença, mas “ainda não sabe quando”. Além disso, a assessoria do secretário disse que ele “já trabalha na campanha de Ducci nos horários em que a lei permite, à noite e nos finais de semana".

A Agência de Fomento do Paraná informou que Juraci Barbosa está em férias até 8 de setembro, e não soube informar se ele irá se licenciar do cargo após seu retorno.

A Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná) informou “não saber responder” se Mounir Chaowiche irá pedir licença do cargo para se engajar na campanha de reeleição do prefeito.

A Secretaria de Infraestrutura e Logística, comandada por José Pepe Richa, também foi procurada, mas a assessoria de comunicação não respondeu ao pedido de informações até o fechamento desta reportagem.

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