Eleição em Natal repete 'dinastias' familiares do Rio Grande do Norte

Elendrea Cavalcante

Do UOL, Natal

No Rio Grande do Norte o bastão da política passa de mão em mão dentro das famílias. E a prática vale tanto para aquelas tradicionalmente conhecidas por seu poder e influência no Estado quanto para aquelas que começam a articular seus substitutos na tribuna.

São filhos de parlamentares, sobrinhos, irmãos e esposas. A justificativas são geralmente as mesmas: a preocupação em ter um representante da família no poder ou a simples vocação de quem cresceu vendo avós, pais e tios cravarem seus nomes mandato após mandato.

Um exemplo é Felipe Alves (PMDB). Formado em direito, aos 25 anos o jovem disputa pela primeira vez a eleição para vereador de Natal.

A diferença é que ele é um Alves --um dos “herdeiros” da família de políticos mais conhecida do Rio Grande do Norte e que tem, há dezenas de anos, representantes em Brasília.

Seus dois fortes padrinhos são o deputado federal Henrique Eduardo Alves, que está em seu 11º mandato na Câmara Federal e o ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho.

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O ministro afirma que ficou surpreso quando ouviu do sobrinho o desejo de entrar para a política.

“A vida política de minha família começou com meu tio, Aluísio Alves, na década de 60. Daí veio meu pai Garibaldi Alves. Nos anos 70 entramos na vida pública eu e Henrique Alves.  E assim seguiu-se. Quando achávamos que o ciclo de políticos na família já havia se esgotado, eis que surge o Felipe. Mas acho que não podia ser diferente. Dentro de uma família que só fala de política, o que podia-se esperar era isso. Ele parece ter um futuro promissor. Tem sangue político. Como se diz poraí, Felipe também ‘foi picado pela mosca azul da política.’”

Cautela

Cauteloso, o ministro afirma que sempre que possível voa de Brasília para o Rio Grande do Norte nos fins de semana para participar não só de atividades políticas do sobrinho, mas de todos os candidatos que o PMDB tem no Estado.

“Eu e Henrique Alves somos as maiores lideranças políticas do partido, por isso temos de dar apoio para todos os candidatos que concorrem tanto para uma cadeira de vereador quanto para aqueles que disputam as prefeituras do Rio Grande do Norte. Só para se ter uma ideia da quantidade de cidades que preciso visitar nesta campanha: dos167municípios que o Estado tem, em 97 temos cabeça de chapa.”

Questionado sobre o favorecimento nas urnas por causa do nome dos tios, Felipe diz que precisa crescer pelo seu próprio trabalho, mas admite que ter, por exemplo, um tio na posição de ministro “ajuda os eleitores a terem uma referência".

Família Dickson

Saindo do eixo Brasília-Rio Grande do Norte, é bom ficar atento com tanto Dickson em Natal.  Até para que não se vote no candidato errado. Dickson Nasser (PSB) é vereador. Está em seu sexto mandato, não vai disputar nova reeleição, mas lança neste ano na política – como candidato a vereador - o filho Dickson Nasser Júnior (PSB), que é publicitário.

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“Como ele já trabalha comigo nestes anos todos, começou a gostar de política e agora vai tentar a eleição”, justifica o pai sobre a candidatura de Júnior.

Na família há ainda outro parlamentar: Dibson Nasser (PSDB) –deputado estadual e irmão do candidato.

Coincidentemente, a Câmara de Natal tem outro vereador que também é Dickson e disputa a reeleição. É Albert Dickson (PP). Mas ele, apesar do nome, não tem nenhum parentesco com a família.

De pai para filho

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, deputado estadual Ricardo Motta (PMN), diz que essa é a primeira vez em uma campanha que pede votos para um filho.

Rafael Motta (PP) concorre a uma das 29 cadeiras de vereador na capital potiguar e, segundo o pai, a vontade de entrar na vida política também surgiu dos anos e anos em que o rapaz acompanha o pai em seus trabalhos como parlamentar.

“Fui deputado com 27 anos. Temos outros parentes que também fizeram parte da história política no Estado. Além disso, Rafael já foi secretário da Juventude de Natal e ficou conhecido pela população. Não posso dizer que ele já está eleito, mas tenho muitos amigos que certamente nos ajudarão a elegê-lo”, diz o parlamentar.

Ainda na Assembleia Legislativa, a deputada Gesane Marinho (PSD) tem o irmão Bertone Marinho (PMDB) disputando uma das vagas na Câmara de Natal.

Nas ruas, ela o acompanha em caminhadas, distribui santinhos e pede votos para Bertone.

Pai e filho concorrem nas urnas

Dono de cinco mandatos e disputando nesta eleição pela sexta vez uma cadeira na Câmara, Adão Eridan (PR) neste ano foi ousado. Colocou o filho Jonatas Moab (PR) na mesma disputa eleitoral. Ou seja, os dois vão disputar a eleição para vereador de Natal.

Para Adão Eridan, não se trata de fogo amigo. É uma questão de estratégia. Morador do bairro Felipe Camarão, zona oeste de Natal, que conta com aproximadamente 26 mil eleitores, segundo o próprio vereador, Adão justifica que foram os votos dessa comunidade que sempre o elegeram e devem continuar o elegendo.

Já o filho foi designado para atuar nos bairros da zona norte da capital. “Meu filho é dentista. Eu o orientei a fazer sua campanha por um lado da cidade e eu por outro.”

Problemas com a Justiça

O motivo, no entanto, pode ser outro. Adão Eridan tem o mandato sob risco por ser.réu na Operação Impacto, que investigou um grupo de vereadores suspeitos de corrupção ativa e passiva durante a votação do Plano Diretor de Natal em 2007.

Adão já foi condenado em primeira instância. Porém, por lei, ele só se tornará inelegível se o colegiado do Tribunal Regional da 5ª Região mantiver a decisão do juiz da 4ª Vara Criminal, Raimundo Carlyle.

A previsão é de que este julgamento só ocorra no ano que vem.  Ao UOL, Adão negou qualquer receio com os desdobramentos da operação. 

O vereador Dickson Nasser também é réu no processo e está na mesma situação de Adão, mas justifica que a escolha do filho para a disputa eleitoral deve-se simplesmente a seu cansaço da carreira política.

“Estou cansado, mas sei que tenho um eleitorado forte e bom em Natal, portanto não posso ignorar esses votos.”

O vereador Adenúbio Melo (PSB) – que também é réu no mesmo caso– preferiu abrir mão de disputar um novo mandato e colocou a esposa Janderrê Melo (PV) como candidata à Câmara.

Ele afirma  que deixou a disputa por estar “vislumbrando algo lá na frente”.

“Sou primeiro suplente de duas deputadas na Câmara Federal: Fátima Bezerra (PT) e Sandra Rosado (PSB). E há meses está rolando um boato em Natal de que as duas serão convidadas para cargos públicos. Fátima Bezerra para a Secretaria Nacional de Direitos Humanos e Sandra Rosado para uma pasta aqui no Rio Grande do Norte mesmo. Então, como eu poderia me candidatar a vereador se lá na frente eu tenho a possibilidade de me tornar deputado federal?”, diz.

Membros da Assembleia de Deus,  Adenúbio e Janderrê dizem que os votos da igreja que sempre elegeram Adenúbio, certamente também farão da esposa, vereadora .

“Fazemos há muitos anos um trabalho com os membros da Igreja e outros ministérios. Como sempre estive ao lado dele em sua vida política, agora me sinto preparada para lutar por meu primeiro mandato”, diz Janderrê. 

De Natal para Jucurutu

Quem não pode fazer representantes, agora, dentro de Natal procura fazer em outros municípios do Estado. É o caso do deputado estadual Nelter Queiroz (PMDB) e do filho George Queiroz (PMDB). 

O pai está em seu sexto mandato na Assembleia Legislativa e tenta fazer do filho – ainda em sua primeira eleição – prefeito do município de Jucurutu (a 262 Km de Natal).

O deputado já tem planejado todos os passos do filho.

“Ele está com 22 anos e vai tentar se eleger prefeito de Jucurutu, uma cidade pequena com apenas 16 mil eleitores. Ele vai passar os quatro anos na prefeitura. Depois, se o povo quiser, George deve vir para Assembleia Legislativa. Eu confio na eleição dele. Entre outros fatores porque ele faz parte de uma família de políticos, que vem desde meu avô Chico Lula.”

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