Às vésperas do início da campanha, escolha de vice é problema para candidatos em São Paulo

Janaina Garcia e Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

A 13 dias de começar a campanha de rua, o eleitor da cidade de São Paulo ainda não sabe quem serão os candidatos a vice de pelo menos quatro das cinco principais candidaturas à prefeitura paulistana. Apesar do prazo, perante a Justiça Eleitoral, as legendas têm apenas mais uma semana para referendar os nomes em convenção.

Entre os quatro candidatos mais bem colocados na última pesquisa Datafolha, divulgada no último dia 17, apenas a ex-vereadora Soninha Francine (PPS) já divulgou o nome do companheiro de chapa: o do presidente estadual do PMN, Lucas Albano.

Por outro lado, as chapas dos pré-candidatos José Serra (PSDB), Celso Russomano (PRB), Fernando Haddad (PT) e Netinho de Paula (PC do B) ainda não terminaram as costuras, que podem indicar tanto o vice das próprias chapas quando a de outras siglas.

Leonardo Barreto, cientista político da UnB (Universidade de Brasília), afirma que a escolha do vice é particularmente delicada na capital paulista por causa do grande número de candidatos.

“Em São Paulo há muitos partidos lançando candidaturas próprias, mesmo candidaturas sem viabilidade alguma. É uma estratégia [das siglas] para não precisar fazer uma escolha agora e poder negociar de forma mais vantajosa no segundo turno da eleição”, analisa.

"Chapão"

O PSDB paulistano aprovou na última quinta-feira (21) a coligação com partidos aliados na chapa de vereadores.

Com a liberação do chamado “chapão” --uma necessidade do PSD, do atual prefeito Gilberto Kassab, para eleger seus vereadores--, o pré-candidato José Serra terá autonomia para escolher seu vice, e fontes no PSDB acreditam na criação de uma chapa “puro sangue”, com o ex-secretário Andrea Matarazzo ou, ainda, com Edson Aparecido, coordenador da campanha do tucano.

A convenção do PSDB acontece neste domingo (24), mas o nome do vice só deverá ser conhecido na próxima semana, já o partido aguarda o STF (Supremo Tribunal Federal) decidir se o partido de Kassab terá direito a tempo de TV nesta eleição --o nome mais forte do PSD para integrar a chapa de Serra é o do ex-secretário de Educação Alexandre Schneider. Outro nome cotado é o do deputado federal Rodrigo Garcia (DEM-SP).

Netinho é cortejado

A exemplo dos tucanos, o segundo colocado (21%) na pesquisa Datafolha, Celso Russomanno, não definiu ainda o nome de quem será o vice. A convenção do partido será no próximo dia 30.

Durante a pré-campanha, Russomanno chegou a cogitar uma candidatura única, com Netinho, como terceira via à polarização de PSDB e PT. A proposta, contudo, não vingou.

Sem uma aliança com os peemedebistas já no primeiro turno, Russomanno conversa agora com o PC do B para ter Netinho como seu vice de chapa. Segundo Pereira, as negociações estão avançadas. Além do PC do B, o PRB mantém negociações com o PT do B, PTN, PHS e PRP.

Indecisão

A executiva do PC do B se reúne na manhã deste sábado para definir se o partido manifestará apoio a alguma das candidaturas ou se vai manter candidatura própria.

O partido tem conversado nos últimos dias com o PT e com o PMDB do pré-candidato Gabriel Chalita, mas pode repetir em São Paulo a aliança que já tem no plano federal com o governo de Dilma Rousseff.

Segundo fontes do partido, se o apoio a outra candidatura não for confirmado, os comunistas deverão, então, divulgar quem será o vice com Netinho --posto cotado para ser da deputada estadual Leci Brandão, dos quadros do partido, cortejada também por petistas e peemedebistas.

Crise

Também sem vice definido, a campanha do ex-ministro Fernando Haddad chegou a contar com o nome da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) na chapa durante quatro dias, tempo que durou a parceria --após a entrada do PP, do deputado federal Paulo Maluf (SP), na coligação, Erundina, constrangida com o apoio de seu adversário histórico, anunciou sua saída da chapa.

Sem emplacar outro nome do PSB e sem ainda fechar com o PC do B, Haddad disse na sexta (22), em coletiva, que a escolha de seu vice na chapa cabe a ele próprio. Na ocasião, o petista ainda descartou que o advogado e presidente licenciado da OAB-SP Luiz D'Urso, pré-candidato a prefeito pelo PTB, estivesse cotado para seu vice.

Hora da "xepa"

Para Leonardo Barreto, a escolha do vice envolve variáveis que precisam ser controladas, mas que nem sempre conversam entre si, como a formação de alianças e a necessidade de escolher um vice que complemente a personalidade do candidato, ou seja, que agregue novas características, atraia um público diferente e contribua para a construção de uma imagem positiva.

“A escolha do vice não é simbólica, é importante. Quem não enxerga isso é descuidado”, diz.. De acordo com o cientista político, a questão deveria ser motivo de preocupação para os eleitores da capital paulista. “São Paulo já registrou situações em que o vice tomou posse como titular e o resultado não foi bom. O Kassab era vice de Serra e hoje tem uma rejeição grande", diz Barreto.

Em entrevista ao UOL esta semana, o professor de Ética e Filosofia da Unicamp, Roberto Romano, comparou a eleição paulista à hora da “xepa”, nas feiras livres, quando o negociante --no caso, o partido-- promove um verdadeiro vale-tudo para conseguir vender o produto.

Para Romano, a falta de distinção de programas entre os partidos ilustra ainda um processo de “corrosão do Estado” e de “perda dos conteúdos programáticos” que atinge outros países, desde o fim da União Soviética, e no qual partidos de direita e de esquerda passam a agir como meros negocistas em busca do poder.

“É um momento em que não se está mais preocupado com o conteúdo programático do partido, mas se vai ou não ganhar as eleições para chegar aos postos e se servir aos próprios propósitos. Aí, quando se chega ao poder, retribui-se se o apoio --mas é algo muito arriscado, pois o resultado não é garantido”, disse.

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