Em clima de campanha eleitoral, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quarta-feira (6), que "vale a pena" pedir voto para o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição nas eleições municipais de outubro e ex-desafeto do PT. Em 2005, quando estava no PSDB, Paes foi um dos mais combativos integrantes da oposição durante o escândalo do mensalão.

Mesmo com a voz fraca em função do tratamento contra um câncer na laringe, Lula fez questão de discursar em favor de Paes na inauguração do BRT (Bus Rapid Transit) Transoeste, em Guaratiba, na zona oeste da cidade. O trecho do BRT, apelidado de "Ligeirão", é o primeiro dos quatros corredores exclusivos de ônibus planejados em sua gestão.

"Confesso a vocês que, por não conhecer [o prefeito Eduardo Paes, em 2008], eu tinha dúvidas. Mas fui convencido de que eu deveria apostar na figura. Hoje eu posso dizer para vocês que valeu a pena pedir votos para Eduardo Paes. E posso dizer que eu farei isto agora em 2012, só que com muito mais convicção", disse.

"Eu, que frequento o Rio de Janeiro desde 1975, posso afirmar que a cidade nunca viveu um momento como este que está vivendo. (...) Valeu muito a pena o voto que vocês [da zona oeste] deram para o Eduardo Paes [em 2008]. Assim como vale a pena ver o reconhecimento do Paes dizendo que a eleição dele se deve ao povo da zona oeste", completou o ex-presidente.

Na semana passada, Lula participou do "Programa do Ratinho", onde fez campanha para Fernando Haddad, pré-candidato do PT à Prefeitura da capital paulista. A aparição da dupla na TV gerou protesto de partidos da oposição.

De acordo com a Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997), os candidatos às eleições municipais só podem fazer campanha a partir do dia 6 de julho do ano do pleito.

'Melhor da história'

O governador do Estado, Sérgio Cabral (PMDB), que também participou da inauguração do BRT, adotou o mesmo discurso do ex-presidente no sentido de enaltecer a gestão de Eduardo Paes -- a quem classificou como o "melhor prefeito da história do Rio".

"O prefeito Eduardo Paes tem sido o maior parceiro da segurança pública no Rio de Janeiro. Em todas as UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora] que estão sendo instaladas nas comunidades, quem paga a gratificação é o Eduardo Paes", afirmou.

De acordo com o governador, 134 policiais militares serão responsáveis por garantir a segurança no funcionamento do sistema BRT. Eles serão deslocados para a região através do Proeis (Programa de Estadual de Integração na Segurança), através do qual os PMs recebem remuneração extra vendendo suas folgas.

"É importante deixar claro aqui que o Eduardo Paes, quando se candidatou para prefeito, ele assumiu um compromisso com os mais pobres. E não é só a zona oeste. Temos que destacar o que você [dirigindo-se ao prefeito] está fazendo no subúrbio do Rio de Janeiro. O subúrbio hoje é outro. Temos que destacar o que você está fazendo no berço da cidade, a região portuária. São mais de R$ 3 bilhões em investimentos de infraestrutura", disse o governador.

Cabral discursou durante cerca de dez minutos, e em momento algum fez comentários sobre outros assuntos, tais como a CPI que investiga a atuação do contraventor Carlinhos Cachoeira, em Brasília, e a crítica situação financeira vivida pela Delta Construções --empresa cujo ex-proprietário, Fernando Cavendish, é seu amigo pessoal.

Paes diz que BRT é fim de um "Apartheid"

Paes não se esquivou do clima de campanha eleitoral ao fazer um longo discurso no qual elencou projetos, obras e ideias colocadas em prática durante a sua gestão.

Segundo o prefeito, o Ligeirão vai aproximar duas realidades sociais distintas coexistentes na zona oeste: a elite da Barra da Tijuca e a população dos bairros de Santa Cruz, Campo Grande, entre outros.

"O que a gente está fazendo aqui tem um simbolismo muito especial. De todas as obras que a gente está fazendo, a do BRT Transoeste é a mais simbólica de todas, pois ela significa o fim desse 'Apartheid', desse muro que se estabeleceu na região: o povo que mora do lado de lá [na Barra] e o povo que mora do lado de cá", afirmou.

Ao comentar sobre a antecipação do funcionamento do BRT Transoeste, previsto inicialmente para ser entregue no fim de 2012, o chefe do Executivo carioca disse que isso "nada tem a ver" com as eleições de outubro.

"Algumas pessoas falam que eu estou fazendo campanha por ter antecipado o BRT, mas não é nada disso. (...) O povo da zona oeste merece respeito e não quer andar em um 'quentão', como se estivesse em uma lata de sardinha", disse.

O Ligeirão Transoeste é o primeiro de quatro corredores expressos previstos no plano de reestruturação urbana apresentado para os Jogos Olímpicos de 2016. A via tem cerca de 56 km, e liga a Barra da Tijuca a Santa Cruz e Campo Grande, bairros da zona oeste. Segundo a prefeitura, mais de 120 mil pessoas serão beneficiadas.