PT precisa justificar intervenção em Recife para evitar rejeição nas urnas, diz pesquisador

Felipe Amorim e Gil Alessi

Do UOL, em São Paulo

A intervenção da Executiva Nacional do PT na escolha do candidato à prefeito em Recife poderá ter consequências nas urnas, segundo afirma o cientista político Valeriano Costa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Se (a intervenção) for considerada um esbulho, isso pode ter um impacto negativo. O que mais importa agora é aguardar a reação do eleitorado petista e de Recife”, diz Costa.

Para o pesquisador, se a intervenção for  interpretada como indevida pelo eleitorado, o senador Humberto Costa pode ser rejeitado nas urnas por ser o candidato imposto pela direção do partido. “Mas isso as pesquisas eleitorais vão dizer, não dá para saber ainda”, pondera o pesquisador.

 

Nesta terça-feira (05), a Executiva Nacional do PT, durante reunião em São Paulo, indicou o nome do senador Humberto Costa (PT) como o candidato do partido à prefeitura de Recife, preterindo a candidatura à reeleição do atual prefeito João da Costa, que havia vencido as prévias internas do partido. A legalidade da votação nas prévias foi contestada pela oposição a João da Costa no PT.

Uma eventual rejeição ao nome de Humberto Costa, segundo o professor da Unicamp, está diretamente ligada ao nível de apoio que o prefeito João da Costa possui na militância. Fundamental ao partido, segundo Valeriano, é o PT apresentar uma boa justificativa para ter rejeitado à candidatura de João da Costa. “É preciso se criar um mínimo de legitimidade para essa intervenção”, diz o pesquisador da Unicamp.

Taxa de reeleição no Brasil chega a 50%

“Tradicionalmente todos os prefeitos buscam um segundo mandato, a taxa de reeleição no Brasil gira em torno de 50%, e o Nordeste segue essa lógica. Tendo isso em vista, foi muito estranho o partido anular as prévias ganhas pelo João da Costa semanas atrás”, afirma Ranulfo Paranhos, cientista político da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

“Esse modelo de prévias que o PT adota é uma evolução democrática, já que aumenta a participação popular no processo eleitoral. Quando é anulado porque o resultado não foi o esperado, sem que se apontem irregularidades, é um retrocesso", diz Paranhos.

Racha petista no Recife pode ter consequências no longo prazo

O racha no partido em Recife não será resolvido facilmente e pode ter consequências no longo prazo, segundo afirma o cientista político Valeriano Costa, da Unicamp.

Ele compara o acontecido na capital pernambucana ao processo de alianças do PT nas últimas eleições no Rio de Janeiro, onde o partido tem aberto mão de lançar candidaturas próprias em nome de alianças partidárias. “O PT no Rio foi sendo desmontado aos poucos, foi sendo desinflado e perdendo importância”, diz Costa.

Lealdade dentro do partido pode render dividendos para a legenda

O cientista político Clóvis Miyachi, do Nucleo de Estudos Políticos e Eleitorais da Democracia (NEPD) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirma que, do ponto de vista da lealdade partidária, a imagem do PT sai fortalecida após a intervenção da Executiva Nacional. "A princípio, o partido ganha em termos de mostrar que exige disciplina, porque, se não, daqui pra frente niguém segura mais o PT, que é constituído de varias tendências", diz Miyachi.

O professor compara a situação de Recife com a de São Paulo, onde a senadora petista Marta Suplicy, apesar de ser um nome mais conhecido dos eleitores e da militância da legenda, abriu mão de sua candidatura em nome da indicação de Fernando Haddad, que teve a candidatura patrocinada pelo ex-presidente Lula. "O que ela fez mostrou para todo mundo que ela é uma militante disciplinada e soube manter seu patrimônio politico. Nesses casos, o PT sai fortalecido e mostra à sociedade o que é um partido político", opina o pesquisador.

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