Ação de milícias e traficantes preocupa Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro

Gil Alessi

Do UOL, em São Paulo

Traficantes e milicianos preocupam a Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro, que desde já prepara esquema que contará com as polícias Civil, Militar, Federal e o Exército. O temor é que a ação dos grupos criminosos tenham influência no voto do eleitor. Quatro vereadores eleitos pelos cariocas nas duas últimas eleições acabaram presos por ligação com milícias.

O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Rio espera um mapeamento, que é feito pelos setores de inteligência da polícia, sobre locais onde há a presença de milícias e facções para criar zonas de exclusão --onde haverá, no dia da eleição, policiamento reforçado contra a presença de "olheiros" de candidatos.

“Vamos examinar os locais onde possa haver influência negativa de certos grupos ligados ao tráfico e a milícias, e criar zonas de exclusão para garantir mais tranquilidade aos eleitores”, disse Luiz Zveiter, desembargador do TRE-RJ, em entrevista ao UOL. “Dessa forma pretendemos evitar a prática do curral eleitoral."

A Justiça Eleitoral carioca avalia ainda vetar celulares nas cabines de votação. “Já soubemos de casos em que ele [eleitor] era obrigado a tirar foto do seu voto para provar que apoiou um determinado candidato. Queremos acabar com essa forma de coação”, disse.

Os locais onde as zonas de exclusão vão funcionar não foram definidos, mas Zveiter adianta que alguns bairros tradicionalmente ligados a grupos milicianos, como Gardênia Azul, Campo Grande ou Rio das Pedras estarão entre eles, dependendo da avaliação dos serviços de inteligência da policia.

Neste ano, além de possíveis candidatos milicianos, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) é pré-candidato à prefeitura da cidade. Ele foi relator da CPI das Milícias em 2008, e recebeu inúmeras ameaças de morte por sua atuação contra grupos paramilitares.

“O Disque Denúncia Eleitoral, inaugurado pelo TRE-RJ dia 14 para receber informações sobre propaganda eleitoral antecipada e irregular, também é um canal para que a população denuncie candidatos ligados a milícias”, disse Zveiter.

“Vamos investigar tudo o que nos enviarem, mas é importante que sejam apresentadas provas, senão estamos de mãos atadas”, afirmou.

Para Ignácio Cano, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência, as medidas apenas atenuam o problema, pois o curral eleitoral não acontece apenas no dia da eleição.

“Em muitas comunidades certos candidatos são proibidos de fazer campanha. Há um candidato ligado à milícia, que acaba sendo o único que pode se manifestar no local. Isso também configura curral eleitoral”, afirmou.

“Nas eleições passadas, alguns candidatos só conseguiram entrar em determinadas comunidades com escolta policial. Isso não é a maneira adequada de se fazer campanha”,

disse.

Segundo o professor, as milícias aprenderam com os próprios erros.

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“Antigamente os cabeças das organizações concorriam nas eleições. Hoje em dia muitos foram presos ou assassinados, e isso serviu de lição. Provavelmente teremos candidatos laranjas apoiados por milicianos, mas com uma ficha criminal limpa, para evitar problemas quando o partido entregar ao TRE sua lista”, disse.

“Por isso acredito que estes grupos paramilitares novamente elegerão candidatos”, afirmou.

Milicianos no poder

De acordo com uma lista divulgada pelo ex-deputado federal Fernando Gabeira, atualmente cerca de 160 comunidades cariocas são controladas por grupos milicianos, que além de impor seus candidatos, cobram taxas de TV a cabo (apelidada de "gatonet"), gás e transporte coletivo.

O número supera a quantidade de favelas dominadas pela maior facção ligada ao tráfico de drogas no Estado, o Comando Vermelho, que atua em aproximadamente 80 comunidades. 

Desde 2007, quatro vereadores da capital fluminense já foram presos por crimes relacionados a atividades de milícia.

Quase todos faziam parte da Liga da Justiça, formada principalmente por policiais civis, militares, bombeiros e agentes penitenciários.

São eles o policial civil Jerônimo Guimarães (PMDB), vulgo Jerominho; o sargento da PM Cristiano Girão (PMN); Luiz André Ferreira da Silva (PR), o Deco; e Josinaldo Francisco da Cruz (DEM), o Nadinho de Rio das Pedras, assassinado em 2009.

Eles foram indiciados após o relatório final da CPI das Milícias apontar sua participação em esquemas de curral eleitoral, homicídio, extorsão e formação de quadrilha.

Já o deputado Jorge Babu, do PTN, foi condenado em 2010 a sete anos de prisão por formação de quadrilha. Ele foi apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como integrante de uma milícia na zona oeste da capital fluminense.

Em 2011, a juíza Patrícia Acioli, que investigava atividades de milicianos foi morta em Niterói, na porta de sua casa. Onze policiais militares foram acusados de envolvimento no assassinato.

 

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