Cacique do PMDB, Requião vê rebelião de aliados na escolha de candidato a prefeito de Curitiba

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

  • Zulmair Rocha/UOL

    Senador Roberto Requião (PMDB-PR)

    Senador Roberto Requião (PMDB-PR)

Por quase três décadas líder incontestável do PMDB no Paraná, o senador Roberto Requião pode conhecer uma derrota até há pouco tempo impensável na definição do candidato do partido à prefeitura de Curitiba.

Requião aposta no ex-ministro do Turismo Rafael Greca, lançada nesta quinta-feira (10) à noite na capital paranaense sob as vistas do presidente nacional da legenda, o senador Valdir Raupp (RO). Mas boa parte do partido prefere apoiar o prefeito Luciano Ducci (PSB).

Candidato à reeleição em outubro e em desvantagem nas pesquisas divulgadas até agora, Ducci tem no governador Beto Richa (PSDB), adversário e crítico contumaz de Requião, seu principal cabo eleitoral.

Na lista dos descontentes com a postura de Requião estão 12 dos 13 deputados estaduais do partido.

“Se Requião insistir na candidatura de Greca, vai aprofundar seu isolamento no partido. O que o senador pensa vai na contramão do que pensa a bancada”, afirmou o deputado estadual Luiz Claudio Romanelli.

Atualmente, integrante do secretariado de Richa, Romanelli foi líder de Requião na Assembleia Legislativa durante boa parte dos dois últimos mandatos dele à frente do governo do estado, entre 2003 e 2010.

Além dos ex-deputados, o grupo dos descontentes com Requião inclui aliados históricos, como o ex-vereador Doático Santos.

“Greca está implodindo o partido. Nenhum integrante do secretariado de Requião (quando governador) está com ele. A insistência de Greca em ser candidato aprofunda o isolamento de Requião no partido”, disse.

O grupo sequer iria à reunião convocada por Requião para alardear a pré-candidatura de Greca, que também trouxe a Curitiba o deputado federal Eliseu Padilha (RS). Em vez disso, requisitou uma reunião com Raupp nesta sexta-feira (11) pela manhã para defender o apoio a Ducci.

Publicamente, os descontentes argumentam que tentam convencer Requião a apoiar a tentativa de reeleição do prefeito. Enquanto isso, nos bastidores, já costuram a montagem de uma chapa para enfrentar a pré-candidatura de Greca na convenção do partido, em junho.

“A reunião (que lançaria Greca nesta quinta) não tem valia, politicamente. É apenas uma manifestação pública de carinho de Requião para Greca. Quem vai decidir é a convenção partidária. Procuramos construir um diálogo com Requião. Queremos respeitá-lo, mas também avançar na coligação com Ducci”, avisa Romanelli.

“Não queremos discutir a liderança de Requião, mas a falta de identidade de Greca no partido”, argumentou Doático, que lançou manifesto de repúdio ao candidato escolhido pelo senador horas antes da chegada de Raupp a Curitiba.

“Deparado com a propositura do Requião de apresentar Rafael Greca como candidato a prefeito de Curitiba, dou-me o direito a rebeldia. Não! Ninguém me verá nas ruas pedindo votos para o Greca”, escreveu, em seu blog.

“Isolado”

Ao convocar a reunião, via internet, Requião cutucou seus críticos. “Esta reunião do velho MDB de guerra é um ‘não’ a toda esta posição covarde, frouxa. É um ‘não’ ao adesismo. É a volta ao protagonismo”, disse.

Para o senador, a oposição ao que chama de “PMDB protagonista” é natural. “[Os opositores] São pessoas sem ambição, sem proposta, sem rumo, sem norte, que querem utilizar o partido para alianças fisiológicas, e não para a transformação da sociedade”, criticou.

“Antes das eleições para o governo, em 2010, já defendia uma aliança com Richa, inclusive junto a Requião. [Os deputados do PMDB] Estamos muito confortáveis na relação com Richa, ao mesmo tempo que não temos nenhum desconforto na relação com governo federal. Também apoio a presidente Dilma”, contrapôs Romanelli.

“Requião de fato está isolado”, analisa um peemedebista. “Gente historicamente ligada a ele agora quer entregar o partido a Beto Richa, sob o argumento de que Rafael Greca não representa o PMDB autêntico.”

Na convenção, marcada para 10 de junho, 56 eleitores têm direito a 111 votos. Romanelli e Requião, por exemplo, votam quatro vezes, por serem parlamentares eleitos, integrantes das executivas municipais e estaduais e delegados na convenção nacional da legenda.

Quem é Rafael Greca

Prefeito de Curitiba entre 1993 e 97 pelo PDT, Greca surgiu na política sob Jaime Lerner (atualmente no PSB) a quem sucedeu na prefeitura. Em 1997, migraria com Lerner – adversário histórico de Requião – para o PFL. Pelo partido, foi o deputado federal mais votado do Paraná em 1998.

Pouco depois, seria convocado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para o Ministério do Esporte e Turismo. No ministério, Greca comandou as celebrações do quinto centenário do descobrimento do Brasil. A réplica da nau capitânia, porém, naufragou, e ele acabou demitido.

Enquanto isso, no Paraná, Lerner chegava ao fim de seu segundo mandato como governador com baixos índices de popularidade e, em 2002, viu o adversário Requião conquistar o governo do estado. Na mesma eleição, Greca elegeu-se deputado estadual, já com votação bem mais modesta.

Em 2004, numa mudança considerada surpreendente, Greca filiou-se ao PMDB. Pelo partido, disputou a reeleição para a Assembleia Legislativa, em 2006, mas fracassou. Em 2010, nova tentativa, e novo fracasso.

Para analistas da política paranaense, a ida ao PMDB custou a Greca os eleitores que apoiam Jaime Lerner (principal cabo eleitoral de sua eleição à prefeitura em 1992). Ao mesmo tempo, ele jamais foi aceito pelos eleitores peemedebistas. Agora, também enfrenta a rejeição aberta de integrantes do partido.

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