Quase um ano após o início de um de seus maiores escândalos políticos, que culminou na cassação do prefeito e do vice, Campinas (93 km de São Paulo) realiza nesta terça-feira (10) uma eleição indireta que vai culminar na quinta troca no comando da cidade em nove meses. A eleição no município fez com que os partidos antecipassem as articulações do pleito de outubro.

A escolha do novo prefeito está na mão da Câmara Municipal pela primeira vez na história da cidade de1,1 milhão de habitantes. Os 33 vereadores, que decidiram pelas cassações do prefeito e de seu vice no ano passado, vão escolher por voto aberto, a partir das 10h, o chamado “prefeito-tampão”. O eleito toma posse na quinta-feira (12) e governará a cidade até o dia 31 de dezembro de 2012.

Em maio do ano passado, o Ministério Público deflagrou uma operação que resultou na denúncia de um suposto esquema de fraudes e corrupção que envolveu o alto escalão do governo do então prefeito Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio (PDT), que havia sido reeleito em 2008 com 69% dos votos.

Após a cassação de Dr. Hélio, em agosto de 2011, o vice dele, Demétrio Vilagra (PT), tomou posse, mas também enfrentou uma Comissão Processante. Acabou afastado, retomou o cargo por quatro meses por meio de uma liminar, mas acabou sofrendo o impeachment da Câmara em dezembro do mesmo ano.

Tanto o petista quanto Dr. Hélio negaram o envolvimento no suposto esquema. Ambos recorreram e ainda aguardam decisões da Justiça que possam reverter as suas cassações.

Entenda como será a disputa

Dos quatro candidatos ao “mandato-tampão”, três são vereadores que participaram da cassação de Dr. Hélio e de Demétrio. São candidatos o prefeito em exercício e ex-presidente da Câmara, Pedro Serafim (PDT), os vereadores Arly de Lara Romêo (PSB) e  Antônio Francisco dos Santos, o Politizador (PMN), além do procurador de carreira da prefeitura, José Ferreira Campos Filho (PRTB).

Foi montado um esquema especial de segurança para a eleição: serão deslocados grupos de guardas municipais para patrulhamento interno e externo, e haverá o auxílio da Polícia Militar, que controlará a entrada no plenário.

De acordo com a assessoria de imprensa da Câmara, haverá distribuição de senhas e será proibida a entrada de pessoas portando faixas, cartazes, apitos e qualquer material semelhante.

Também não será permitido o acesso de pessoas com alimentos, copos ou garrafas de água ou outro tipo de bebida. As bolsas serão revistadas e haverá detector de metais.

Como o número de vagas no plenário será limitado, a presidência da Câmara decidiu instalar um telão na entrada principal do prédio, na avenida Engenheiro Roberto Mange, que será fechada parcialmente ao trânsito.

Como será a votação

Após a abertura da sessão, os candidatos terão até 30 minutos, pela ordem de inscrição, para uso da tribuna e defesa da candidatura. O voto dos vereadores será aberto e pronunciado da tribuna.

O vencedor só será anunciado se obtiver maioria absoluta dos votos --no caso, 17. Se isso não ocorrer, os dois mais votados seguem para um segundo turno de votação, que será realizado, se necessário, ainda nesta terça-feira, e o candidato vencedor será aquele que obtiver maioria simples.

Em caso de empate no segundo turno, o candidato mais idoso será declarado vencedor da disputa, conforme prevê a legislação eleitoral. 

Conheça os candidatos

O médico Serafim é do mesmo partido do ex-prefeito Dr. Hélio, foi seu aliado em boa parte de seus quase sete anos de governo e é considerado o favorito na disputa. O atual prefeito em exercício tenta confirmar o cargo nesta eleição interna para ganhar força no pleito de outubro.

O principal trunfo do pedetista para vencer a disputa é o fato de já governar a cidade com o apoio da Câmara Municipal. Isso porque Serafim aceitou indicações de seus colegas do Legislativo para cargos de primeiro, segundo e terceiro escalão dentro de sua administração interina (ele tomou posse no final de dezembro como prefeito em exercício).   

Seu principal opositor nas eleições, Arly de Lara Romêo, busca se eleger para abrir caminho ao colega de partido e pré-candidato nas eleições de outubro, deputado federal Jonas Donizette (PSB).

O apoio já declarado do PSDB de Campinas ao deputado do PSB em outubro criou uma “saia justa” entre tucanos, já que um dos vereadores do PSDB, Valdir Terrazan, aceitou recentemente o convite para ser secretário de Serviços Públicos do governo interino de Serafim. Terrazan já anunciou que vai afastar-se do cargo de secretário para voltar à Câmara hoje e votar em Serafim.

O terceiro vereador-candidato é “O Politizador”. Ele deve ter apenas o seu próprio voto. Eleito vereador em 2008, ele ficou conhecido na cidade por andar pelas ruas com um megafone, criticando políticos locais e nacionais.

Já o procurador da prefeitura, conhecido como Dr. Campos, chegou a ter sua candidatura impugnada pela Mesa da Câmara, mas conseguiu reverter a decisão na Justiça. Ele dificilmente deve ter um dos 33 votos, já que seu partido, o PRTB, não possui nenhum vereador na cidade.