Associação de cidade de 13 mil habitantes vira parceira da Transparência Internacional

Maria Denise Galvani

Do UOL, em São Paulo

  • Ueslei Marcelino - 26 set. 2007/Folhapress

    Manifestantes da Amarribo em protesto em Brasília

    Manifestantes da Amarribo em protesto em Brasília

A parceira brasileira da gigante Tranparência Internacional, ONG que é referência mundial no combate à corrupção, fica numa cidade de 13 mil habitantes no interior de São Paulo. A Amarribo Brasil foi procurada para coordenar o próximo Encontro Mundial contra a Corrupção e pode depois virar o braço brasileiro da organização, que tem sede na Alemanha e representação em 140 países.

O currículo que atraiu atenção internacional inclui a cassação de dois prefeitos e cinco vereadores, em pouco menos de dez anos. A atuação da Amarribo Brasil para destituir políticos corruptos também inspirou a organização de cidadãos em Analândia (SP) e Januária (MG), assim como a formação de mais de 200 ONGs que hoje integram a Rede Amarribo.

 

“Foi um convite inesperado, como muita coisa que aconteceu na história da ONG”, diz o engenheiro Guilherme von Haehling, diretor-executivo da entidade.

 

Já não estava nos planos dos Amigos Associados de Ribeirão Bonito virar “Amarribo Brasil” e coordenar a rede de mais de 200 ONGs que trabalha com o combate à corrupção em nível municipal. O projeto inicial do grupo de ex-moradores, convocados pelo padre da cidade a fazer obras sociais, era reformar uma praça. Ao esbarrar nos trâmites exigidos pela prefeitura, eles encontraram evidências de corrupção e resolveram mudar o estatuto da ONG priorizar a transparência da administração municipal.

Com evidências suficientes de desvio de verbas, a Amarribo pediu a instauração de um inquérito pelo Ministério Público e de uma Comissão de Investigação na Câmara Municipal. “O que aconteceu em Ribeirão Bonito é que conseguimos mobilizar a população em torno do problema. Marcamos uma grande reunião no cinema da cidade, bem no dia em que se votaria a cassação do prefeito. Mostramos todas as provas que tínhamos juntado e de lá, saímos todos para a Câmara. Não tinha como os vereadores não votarem pela cassação”, lembra Haehling.

Improbidade

Desde então, o mandato de mais um prefeito e de cinco vereadores também foi cassado. Ações por improbidade administrativa em cada um dos casos aguardam desfecho na Justiça.
“Depois que o primeiro prefeito foi cassado, em 2002, pessoas de outras cidades começaram a ligar, querendo saber como nós tínhamos conseguido”, conta ele. A partir daí, a associação começou a montar um arsenal de assistência a interessados em combater a corrupção: um “kit ONG” mostrando às pessoas como se organizar, uma cartilha com técnicas de investigação de corrupção e um banco de dados com modelos de ofícios e decisões judiciais.

O protagonismo das associações de moradores no combate à corrupção em nível local foi um dos fatores que motivou a realização do 15º Encontro Mundial contra a Corrupção, evento anual da Transparency International, no Brasil. A conferência acontecerá em novembro, em Brasília, organizada pela Amarribo e com recursos da Controladoria Geral da União.

Também com o objetivo de incentivar a atuação da população no combate a corrupção, a Controladoria-Geral União prepara a primeira Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social. Desde o início do ano, dezenas de encontros municipais já enviaram propostas para discussão na etapa nacional da Conferência, programada para o fim de maio – logo depois que a Lei de Transparência Nacional entrar em vigor.

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