Rachado, PT marca prévias para decidir candidato em Recife

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

  • Hélia Scheppa/JC Imagem

    O prefeito de Recife, João da Costa (à dir.), que quer disputar a reeleição, mas enfrenta resistência de ala liderada pelo senador Humberto Costa (PT-PE)

    O prefeito de Recife, João da Costa (à dir.), que quer disputar a reeleição, mas enfrenta resistência de ala liderada pelo senador Humberto Costa (PT-PE)

Apesar de ter o prefeito no poder e com interesse de disputar a reeleição, o diretório municipal do PT, em Recife, decidiu, na noite desta quinta-feira (29), marcar prévias para resolver um impasse e pôr fim à disputa interna do partido em torno do nome que vai disputar a eleição em outubro. A prévia foi marcada para o próximo dia 20 de maio, quando cerca de 30 mil filiados podem votar.

Com o clima de tensão declarado no partido, pelo menos dois nomes são certos na disputa: o do atual prefeito João da Costa e o do deputado federal Maurício Rands. Nos últimos dias, os dois travaram um duelo interno, com direito a troca de acusações. O nome do ex-prefeito e deputado federal João Paulo também é cogitado, mas ainda não está confirmado. 

Para atual gestor, houve um ato de “traição” de líderes do partido, já que o nome dele deveria ser avalizado por ser prefeito em exercício de mandato e com direito à reeleição. Já Rands assegurou que a pré-candidatura dele representa a vontade de um grupo de petistas, que não querem que Costa seja candidato à reeleição.

 

João da Costa afirmou que está sendo vítima de uma “violência” do próprio partido e acusa o diretório estadual de sequer avisá-lo da candidatura de Rands, que teria sido anunciado pela imprensa. "Em lugar nenhum um gestor com condições de reeleição passa por prévias", disse. Apesar de tentar, sem sucesso, a união de petistas em torno do seu nome, o prefeito recifense acredita que ganhará as prévias, já que contaria com apoio da militância.

O ato de oficialização da candidatura de Maurício Rands foi realizado na manhã desta sexta-feira (30), em um hotel do Recife. A candidatura conta com o apoio de caciques importantes do partido, como o senador Humberto Costa, além de diversas lideranças sindicais.

Fiel aliado de governo federal no Congresso e integrante da frente CNB (Construindo um Novo Brasil), Rands apresentou, nesta sexta-feira, manifesto da CNB, afirmando que sua candidatura é uma resposta ao estilo do prefeito, conhecido por centralizar as decisões. “Entendemos que o estilo excessivamente centralizador e avesso às indispensáveis e permanentes negociações com as forças internas do PT, com as lideranças da Frente Popular e do legislativo municipal, terminou por consolidar um ambiente extremamente negativo, aliás, constatado pelo próprio prefeito ao reconhecer que houve um ‘déficit de diálogo’”, afirmou a CNB, citando que “divergimos do modelo político conduzido pelo prefeito.”

Rands tem como trunfo o possível apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador Eduardo Campos (PSB). Porém, logo após encontro entre os ex-presidente e o governador pernambucano, no último domingo (25), Campos fez questão de ir às rádios da capital pernambucana negar apoio a qualquer um dos candidatos e afirmar que a escolha deverá ser feita internamente pelo PT, sem interferência –pelo menos a princípio-- dos líderes nacionais. O governador ressaltou ainda que pretende mantém a aliança entre os dois partidos, que se estende desde do segundo turno de sua primeira eleição, em 2006. Nos bastidores, porém, especula-se que os dois já se movimentam para emplacar o nome de Rands  e excluir Costa da disputa.

Campos disse que existe um interesse do PSB nacional em manter o apoio ao PT nas cidades de Fortaleza e Recife, onde o PSB governa os Estados e o PT, as prefeituras das capitais. Segundo ele, o acordo foi costurado junto com o governador cearense, Cid Gomes, que recentemente se desentendeu com a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. 

Lideranças 

Outra liderança importante do PT recifense, o ex-prefeito e deputado federal João Paulo é o terceiro nome que pode aparecer na disputa interna. Segundo ele, o clima de acirramento entre os dois pré-candidatos é ruim para o partido, já que traria uma “unidade artificial”. O deputado disse que nenhum dos dois pré-candidatos conseguiu reunir grande número de apoio de outros partidos, mas afirmou, em entrevistas esta semana, que ainda não decidiu se lançará seu nome para avaliação interna.

O cenário de indefinição interna do PT, as alianças políticas do PT vão ficando mais longe de serem costuradas. O PTB, do senador Armando Monteiro Neto, já indicou que não aceitará apoiar nenhum dos dois pré-candidatos petista e deve lançar candidato próprio.

O histórico de desentendimentos é antigo no PT do Recife, desde a eleição de João da Costa. Com o apoio de João Paulo, que ficou à frente da prefeitura do Recife por oito anos, Costa –que foi secretário do ex-prefeito-- foi eleito em 2008, mas a harmonia entre os dois durou pouco. Em menos de um ano no poder, o prefeito já estava isolado e sem o apoio de João Paulo, que declarou publicamente as desilusões com o mandato de Costa. Desde lá, o clima entre os dois nunca mais foi o mesmo, e o prefeito se mostrou pouco eficaz na atração de partidos da Frente Popular, que ameaçam lançar candidaturas próprias.

UOL Cursos Online

Todos os cursos