31/10/2010 - 20h53

Superintendente da PF em Roraima diz que compra de voto faz parte da cultura eleitoral do Estado

Ivan Richard
Da Agência Brasil
Em Boa Vista (RR)

A compra de voto está enraizada na cultura do estado de Roraima, avaliou hoje (31) o superintendente da Polícia Federal (PF) no estado, Herberte Gasparini. Nestas eleições, a PF apreendeu no estado um dos maiores volumes de dinheiro do país, R$ 2,611 milhões. O montante refere-se ao total apreendido nos dois turnos, sendo que R$ 1,5 milhão está depositado judicialmente. Roraima tem o menor eleitorado país.

“O eleitor, sem querer generalizar, quer saber, de imediato, o que ele vai receber pelo voto e fica esperando alguém pagar. Não se preocupa com projetos. Com isso, depois das eleições acaba o laço”, disse o superintende à Agência Brasil. No primeiro turno, foram apreendidos R$ 2,094 milhões e, no segundo turno, R$ 517 mil.

“O político se sente descompromissado porque já pagou pelo voto e fica um descompasso total entre eleitor e candidato”, acrescentou. Gasparini acredita que essa cultura acaba por prejudicar o estado em todos os aspectos. “Essa [cultura da compra de votos] é uma das razões para o atraso e a consequente falta de desenvolvimento do estado”, avaliou.

Para o superintendente, a compra de voto tem outra consequência, que é a perpetuação de políticos no poder. “É difícil entrar novos políticos porque eles não dão espaço com essa prática reiterada. Não entra nenhum novo e, quando entra um novo político, é ligado ao que vinha comprando voto”, ressaltou.

Na última quarta-feira (27), a PF fez uma operação em que apreendeu R$ 250 mil com o empreiteiro Inácio Veiga Escobar e, na quinta-feira (28), foram apreendidos R$ 238,1 mil com o prefeito de Caracarí. Ambos, segundo o superintende, são aliados políticos do atual governador do estado, José de Anchieta Júnior (PSDB), que concorre à reeleição.

Gasparini explicou que uma parte do dinheiro apreendido está depositada judicialmente e o restante já foi devolvido porque as coligações apresentaram documentos que comprovariam que os recursos eram para despesas legais de campanha. “Isso não significa que as investigações pararam por aí. Após as eleições, vai ser feito um trabalho de investigação, um levantamento comparando o que foi gasto nas campanhas, usando a documentação apresentada pelos partidos, verificando os valores e as pessoas que receberam dinheiro, com o que foi apreendido. Esse trabalho vai ser encaminhado ao Ministério Público, que vai decidir se indicia ou não ou investigados”.

Segundo ele, a PF desenvolve um trabalho de planejamento desde o início do ano, observando os municípios com histórico de compra de voto aliado a casos passados em que atuou.

Nestas eleições, o trabalho da PF de Roraima resultou na prisão, em flagrante, do deputado federal eleito Chico das Verduras (PRB), e do deputado estadual eleito George Melo (PSDC). Eles foram presos porque foram flagrados por agentes da PF prometendo distribuir gratuitamente carteiras de habilitação e dizendo que iriam sortear um carro cheio de dinheiro para os eleitores que votassem neles.

Sites relacionados

Siga UOL Eleições

Hospedagem: UOL Host