30/10/2010 - 00h18

Sem direito à réplica, indecisos ouvem discurso ensaiado no debate da Globo

Mauricio Stycer
Crítico do UOL

A proposta parece boa: a dois dias da eleição, dar voz aos indecisos e deixar que façam perguntas sobre temas que os afligem. O problema essencial: não permitir que repliquem aos candidatos.

Da mesma forma que os jornalistas quase não foram ouvidos nos primeiros nove debates – no máximo, fizeram perguntas, mas nunca tiveram direito a réplicas – no décimo e último encontro entre os candidatos o eleitor não teve a chance de contestar o que ouviu.

É um modelo cruel de diálogo, se é que se pode chamar isso de diálogo. Cada vez mais treinados por marqueteiros, os candidatos têm respostas prontas sobre qualquer assunto. A única chance de tirá-los do script seria confrontando o discurso preparado previamente com intervenções pontuais – uma técnica básica do jornalismo -, o que a regra do debate não permitia.

Os indecisos fizeram perguntas sobre assuntos importantes, em alguns casos fizeram até questões constrangedoras para os candidatos, mas não ouviram muitas respostas. Não surpreende que Dilma e Serra tenham iniciado todas as suas intervenções com elogios às perguntas: parecia uma forma de dizer que estavam preparados para responder.

Em mais de uma ocasião, o espectador ouviu a petista e o tucano repetindo frases inteiras que já haviam dito em suas respectivas propagandas eleitorais. Nada de novo, nada a acrescentar.

Sem disposição para discutirem entre si, as réplicas e tréplicas que Dilma e Serra tiveram direito sobre as perguntas dos indecisos serviram, mais uma vez, para monólogos ensaiados, sem correspondência direta com as perguntas nem com as respostas.

É difícil acreditar que algum indeciso tenha decidido algo depois do debate da Globo. No máximo, pode ter se decidido a não mais assistir debates deste tipo.

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