25/10/2010 - 22h07

Ato pró-Dilma reúne intelectuais na USP

Patrícia Junqueira
Do UOL
Em São Paulo

O clima era de festa no prédio de História e Geografia da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) nesta segunda-feira (25). Pouco antes das 18h, as rampas estavam tomadas por alunos e ouvintes ansiosos para receber intelectuais como Marilena Chauí e Alfredo Bosi em um ato em favor da candidata à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff.

O encontro contou ainda com a presença do senador Eduardo Suplicy que, após fazer seu discurso em favor da petista, prometeu cantar ao final do ato, após incessantes pedidos de "Canta! Canta! Canta!".

Marilena Chauí, última a tomar a palavra no encontro, ganhou aplausos ao elogiar o Bolsa Família e o programa Luz Para Todos. "Este governo mudou a direção do olhar do Brasil", afirmou. Chauí destacou ainda a importância do papel que a mulher ganhou com os programas sociais do governo Lula, assim como o peso da possível eleição de uma mulher para a Presidência num "país machista e sexista em todas as classes sociais".

A pensadora não poupou a oposição de ataques. "A campanha tucana partiu do deboche que era no primeiro turno para a obscenidade no segundo", disse, em referência à abordagem de questões religiosas com a distribuição de santinhos em que JOsé Serra "garantiria" a verdade de Jesus Cristo. "Como se Jesus precisasse de Serra", brincou.

Chauí foi enfática ao classificar o uso da religião como "um desrespeito do sagrado e do ecumenismo", destacando que a república deve ser laica. Ao encerrar seu discurso, a filósofa disse ainda que a campanha tucana é "uma afronta, um escárnio" à memória de quem viveu sob a ditadura e foi ovacionada de pé ao dizer que "nossa geração viu Mandela ser eleito presidente da África do Sul, um índio ser eleito na Bolívia, um operário, no Brasil e  verá uma mulher na Presidência".

A fala de Alfredo Bosi, também uma das mais aguardadas da noite, já havia arrancado aplausos da plateia. O intelectual fez duras críticas à imprensa, que chamou de "marrom de papel couché" e formada por "estranhos paladinos da democracia". Ao falar das críticas à candidata
petista, comparou a campanha e a ditadura. "Dilma pagou duas vezes por sua luta contra a opressão. Primeiro, contra a ditatura. Agora, contra marqueteiros venais".

Bosi foi interrompido pelas palmas ao chamar de "oportunista" a teoria sociológica da dependência, da qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é um dos maiores expoentes. Bosi, que também criticou o uso da religião na campanha, encerrou sua participação atacando os liberais que se precipitam para a direita em busca de seus interesses.

O primeiro convidado a falar, Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP, criticou aqueles que não veem grandes diferenças entre Serra e Dilma. "Aqueles que dizem que são as grandes diferenças que contam, devem pensar bem, pois isso indica incapacidade de pensar a
política", afirmou. Para ele, votar em Dilma é "evitar o pior" para o Brasil.

Também tomaram a palavra as professoras Laura de Mello e Souza, filha de Antonio Candido, e Heloísa Fernandes, filha de Florestan Fernandes. "Se estivesse vivo [meu pai] estaria aqui falando com vocês", disse Heloísa Fernandes, ao declarar seu voto em Dilma.

"Eu estou aqui para dizer que vou votar em DIlma porque sou professora de uma universidade pública, historiadora, criada na ditadura e tenho compromissos com a minha memória e a de meu país", afirmou Laura, antes de ler a mensagem de seu pai, que não esteve presente. "O governo Lula manteve o país nos trilhos que podem levar à democracia plena. Votar em Dilma é assegurar a continuidade nesse rumo".

E Suplicy não cantou.

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