12/10/2010 - 14h51

Em Aparecida, Serra diz que polêmica sobre aborto saiu de programa de Lula

Rosanne D'Agostino
Enviada especial do UOL Eleições
Em Aparecida (SP)

No dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, o presidenciável José Serra (PSDB) afirmou que a questão da religiosidade, que tomou o segundo turno da campanha, foi introduzida “pelas pessoas, não por partidos ou candidatos”, mas que a polêmica sobre o aborto já havia sido aprovada pelo governo Lula e assinada por sua adversária, Dilma Rousseff (PT), no terceiro Plano Nacional dos Direitos Humanos (PNDH-3).

Serra voltou a afirmar que não mudou de opinião, mas decidiu citar o PNDH-3, programa que criou polêmica durante o governo Lula por conter recomendação para que o aborto seja descriminalizado no país, além de diretrizes contestadas sobre reintegração de posse e mecanismos de controle de imprensa.

“O PNDH-3, que foi assinado pela candidata Dilma, diz que passaria a ser criminoso quem é contra o aborto. E depois reclama que a oposição está levantando as questões quando, na verdade, foram eles que levantaram esse assunto. Esse programa que é base de muitas das polêmicas que tiveram sequência a respeito de valores”, disse o tucano.

 

O tucano visitou nesta terça-feira (12) o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida onde participou de missa em homenagem à santa na Basílica de Aparecida, no Vale do Paraíba (SP).

Em entrevista coletiva após a missa, Serra citou o Dia das Crianças para dizer que elas ocupam um lugar central em seu programa de governo, “até mesmo antes de nascer”.

A agenda dos candidatos à Presidência ganhou tom religioso após polemica sobre a posição de Dilma em relação ao aborto. Ontem, a ex-ministra da Casa Civil também visitou Aparecida pela primeira vez. Inicialmente, os dois candidatos iriam à cidade nesta terça, mas no domingo à noite, Dilma decidiu antecipar a visita.

Questionado sobre a visita, Serra afirmou: “não é a primeira vez que venho. Eu não vi a outra candidata, não vou fazer nenhum julgamento”. Acompanhado da mulher, Monica Serra, do vice na chapa Índio da Costa, do governador eleito Geraldo Alckmin e do prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, Serra rezou o Pai Nosso e cumpriu todo o ritual católico na missa solene. Cerca de 35 mil devotos acompanharam a cerimônia e 150 mil pessoas estão em Aparecida para celebrações.

Ainda durante a missa, Monica Serra recebeu uma imagem de Nossa Senhora para ser enviada aos mineiros presos no Chile à espera de resgate. “Quero agradecer pelo sucesso desse resgate, desses mineiros que são exemplo de fé e esperança para o mundo”, disse ela. Monica nasceu no Chile e é naturalizada brasileira.

Serra também comentou a reportagem da Folha de S.Paulo publicada nesta terça, que cita fala de Dilma durante debate da Band, segundo a qual o ex-diretor de Engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, “fugiu” com R$ 4 milhões da campanha do tucano. “[A acusação] é absolutamente falsa. Se eu sou candidato, o pessoal da campanha saberia, eu saberia. Eu fico curioso de a candidata se preocupar com problemas internos da campanha, quando nós estamos preocupados com a Casa Civil, que é de dinheiro público. Isso [a acusação] é fantasia e falta de assunto”, argumentou.

Ao ser perguntado sobre o motivo de a religião ter se tornado um tema central no segundo turno, o tucano disse: “a questão da religiosidade foi introduzida pelas pessoas, não foi por partidos ou candidatos. Quem vai para a Presidência tem um papel de exemplo, então os valores acabam aparecendo. A maior parte da população brasileira é religiosa. Nós temos que falar porque as pessoas perguntam”, finalizou.

Panfletos
Um panfleto atribuído à Regional Sul 1 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) foi distribuído nesta terça-feira (12) nas entradas da Basílica em Aparecida (SP). O documento, intitulado "Votar bem", prega o voto em quem não defende o aborto e critica o PT. A Basílica recebe hoje milhares de fiéis por causa do dia da padroeira do Brasil. O aborto tem sido tema da campanha presidencial.

O panfleto critica o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos do governo Lula, que, segundo ressalta o documento, é "assinado pelo atual presidente e pela ministra da Casa Civil [Dilma Rousseff], no qual se reafirmou a descriminalização do aborto".

Em janeiro deste ano, a mesma regional da CNBB havia distribuído uma nota em que acusava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser o "novo Herodes". Herodes, segundo a Bíblia, ordenou a "matança de inocentes". A nota de janeiro se referia também ao 3º Programa Nacional de Direitos Humanos.

O UOL tentou contato com representantes da Igreja para que comentassem o conteúdo do panfleto, mas ninguém se manifestou. O telefone do escritório da Regional Sul 1 não atendeu. A assessoria de imprensa da CNBB nacional informou que desconhecia o documento e que somente a regional poderia comentar.

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