14/09/2010 - 16h30

Envolvidos em escândalos do Congresso se dividem entre Dilma e Serra

Carlos Bencke e Maurício Savarese
Do UOL Eleições
Em São Paulo

Agora a candidata do PT ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, lidera todas as pesquisas de intenção de voto sobre rival tucano, José Serra, e tem chances de vencer já no primeiro turno. Mas esse cenário favorável à petista já se consolidava no meio político desde antes do início do horário eleitoral obrigatório. Entre os parlamentares envolvidos em escândalos, não foi diferente: um levantamento do UOL Eleições indica que a maioria deles já preferia a petista a seu rival, que liderava as sondagens até algumas semanas atrás.

Entre janeiro de 2009 e o início da campanha no rádio e na TV, 106 deputados e 35 senadores que hoje exercem seus mandatos foram citados nos escândalos de abuso da estrutura do Congresso, nepotismo, farra das passagens aéreas, atos secretos do Senado ou mensalão do Democratas. O levantamento tem base no Monitor de Escândalos do UOL, do colunista Fernando Rodrigues. Ao todo, há 513 deputados e 81 senadores no Congresso Nacional. Foram consultados os gabinetes e assessorias de imprensa dos implicados logo no início do horário eleitoral obrigatório - quando a disputa pelo Palácio do Planalto prometia ser mais acirrada.

Apoios de senadores e deputados envolvidos em escândalos a presidenciáveis

  • Arte/UOL

Dilma contava já antes da abertura da campanha no rádio e na TV com o apoio de 62 desses deputados e 16 desses senadores – a maioria deles do PMDB, sigla que deu à petista seu candidato a vice-presidente, Michel Temer. Serra contava já com o apoio de 17 senadores envolvidos em escândalos e com 30 membros da Câmara dos Deputados, de onde saiu seu vice, Indio da Costa (DEM-RJ). O número, menos que a metade dos que davam suporte a Dilma, pode ter aumentado nas últimas semanas depois de a petista superar o tucano nas pesquisas.

A terceira colocada nas pesquisas, Marina Silva (PV), terá o apoio de pelo menos três deputados citados em denúncias, todos eles do partido ao qual ela aderiu no fim do ano passado. O presidenciável do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, contará com o apoio de um deputado federal e de um senador desse grupo. Nenhum outro candidato foi citado pelos gabinetes e assessorias de imprensa de parlamentares da Câmara e do Senado.

Dez deputados e um senador que figuraram em denúncias recentes preferiram não expor seu apoio na eleição presidencial até o início da campanha no rádio e na TV. Muitos deles são do PP, partido que liberou seus filiados para aderirem a tucanos ou petistas na eleição presidencial. Há relatos de que muitos deles se aproximaram da campanha petista. A sigla é aliada do PSDB em São Paulo e do PT em plano nacional. Ao todo, conta com 41 deputados federais.

Os dados indicam que 20% da Câmara e 43% do Senado estão comprometidos com denúncias desde o início do ano passado. Nenhum dos parlamentares deixou o cargo por conta das revelações. Alguns afastaram assessores ou trocaram de partido, mas os interessados em concorrer estarão no páreo.

Problema dos partidos
Para Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da Transparência Brasil, os presidenciáveis poderiam dizer que só fechariam aliança partidária sob a condição de que os suspeitos de corrupção e mau uso de verbas públicas não pudessem concorrer. “Mas seria fantasia. Eles dirão que a escolha cabe aos partidos. E a culpa maior é dos partidos, que não são obrigados a aceitar ninguém, mas aceitam”, disse.

“Esses indivíduos deram demonstrações insistentes de que não poderiam ocupar cargos públicos. Essa é uma questão política que os partidos não querem atacar. Por isso temos tantos parlamentares envolvidos em denúncias em tão pouco tempo: os partidos não têm capacidade de intervir”, afirmou. O envolvimento dos parlamentares nesses casos não os impede de disputar mandatos eletivos em 2010.

Deputados envolvidos em escândalos, por partidos

  • Arte/UOL

Abramo afirmou que nenhum partido tomou medidas concretas para cobrar os parlamentares pelas denúncias. Alguns deputados e senadores adotaram medidas isoladas para ressarcir os cofres públicos. Outros nada fizeram, sob a alegação de que não havia nenhum impedimento legal para que usassem os recursos da maneira que escolheram. "Na gestão pública só se faz o que é expresso em lei", diz o diretor da ONG.

Questão suprapartidária
O partido com mais acusados é o PMDB, aliado de Dilma: 27 deputados, entre eles o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), e nove senadores, incluindo o presidente do Senado, José Sarney (AP). Também figuram na lista os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Hélio Costa, que assumiram mandatos parlamentares ao deixarem o governo para se candidatarem, respectivamente, a governador na Bahia e em Minas Gerais.

Os partidos dos presidenciáveis também estão próximos no número de envolvidos em casos de mau uso de verbas. O PT de Dilma tem dez deputados e quatro senadores nessa situação. A bancada do partido na Câmara é de 79 membros e, no Senado, de nove parlamentares. O PSDB de Serra conta sete entre seus 59 deputados e sete entre seus 14 senadores na lista de acusados de confundir bens públicos com privados.

Senadores envolvidos em escândalos, por partidos

Logo depois dos peemedebistas e dos partidos dos candidatos, aparecem dois dos principais aliados dos líderes da corrida presidencial: o serrista DEM, com nove deputados e seis senadores, e o dilmista PR, com 11 deputados e um senador. Na Câmara, o DEM soma 56 membros e o PR, 40. No Senado, o partido da oposição tem tem 14 cadeiras e a legenda governista, quatro.

Considerando os congressistas de todos os partidos das coligações que apoiam a petista e o tucano, sem levar em conta os que contrariaram a orientação da cúpula de suas siglas, a situação fica a seguinte: entre os dilmistas -PT, PMDB, PSB, PDT e PCdoB, PR, PSC, PHS e PTC-, há 58 deputados envolvidos e 18 senadores.

No caso da coalizão tucana – PSDB, DEM, PPS, PTB e PMN e PT do B –, são 32 deputados citados em denúncias e 15 senadores que o apoiam. O cenário para as duas alianças considera os apoios declarados até o início do horário eleitoral.

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