08/09/2010 - 23h41

Em debate sem Dilma, Serra acusa campanha petista de "truculência"

Diego Salmen
Do UOL Eleições
Em São Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, acusou a campanha de sua rival, a petista Dilma Rousseff, de agir "com truculência" na disputa eleitoral.

"Tem um setor importante que disputa a eleição com apoio em peso da máquina do governo federal, que nunca atuou tão maciçamente - eu diria até com truculência - numa campanha eleitoral, que não debate", afirmou, sem citar a ex-ministra da Casa Civil. "É a estratégia da caixa preta (...) esconde até os debates de campanha que são terceirizados", disse.

Serra, Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) participaram de um debate promovido na noite desta quarta-feira (8) pela TV Gazeta e pelo jornal O Estado de S. Paulo. Dilma foi convidada, mas não compareceu alegando problemas de agenda. Ela participou de um comício nesta noite em Betim (MG).

A declaração de Serra surge em meio a uma troca de acusações entre os dois principais candidatos sobre a autoria da quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do tucano, e de outras pessoas ligadas ao presidenciável.

No debate, o ex-governador de São Paulo voltou a atribuir as violações a sua adversária. "O PT da candidata Dilma tem estado por trás desses vazamentos (...) comprometendo a segurança dos cidadãos", criticou. "É o presidente da República que fala por ela, e essa pessoa se candidata à Presidência da República", disse.

Em outras ocasiões, a petista negou a autoria dos vazamentos, cujo conteúdo seria destinado a criação de um suposto dossiê para incriminar o candidato do PSDB. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou na briga no último sábado, quando disse que a campanha de Serra "mente descaradamente".

Desde então, o tucano abrandou as menções ao tema. A popularidade do governo Lula é recorde: quase 79% da população considera seu governo ótimo ou bom, segundo levantamento Datafolha realizado no final de agosto.

O candidato do PSOL também fez duras críticas à petista. "Ela [Dilma] gosta de passar a perna nos outros: passou no Brizola, o Lula que espere", afirmou. Antes de se filiar ao PT, em 2001, a presidenciável era filiada ao PDT de Leonel Brizola.

"Ela não pode discutir pelo seguinte: ela não é do ramo, ela foi inventada. Quando ela tem 200 guarda-costas atrás, ela fala. Agora vem aqui, pegar pessoas do ramo... (...) Ela tem sempre a capangada atrás", atacou Plínio.

Educação e meio ambiente

Marina Silva não deixou por menos. "Mais uma vez a Dilma não respeitou a nossa presença", afirmou. "A sociedade brasileira sente desconforto com esse desmando na Receita Federal", disse a candidata verde.

A candidata do PV também foi questionada sobre seu discurso ambiental e confrontada com sua colocação nas pesquisas de intenção de voto. "Eu não vou permitir que às vezes o oportunismo eleitoral, a ânsia por simpatia, possa desviar aquilo que é relevante para os brasileiros", disse.

Na última sondagem do Datafolha, Marina obteve a preferência de 10% do eleitorado, contra 28% de Serra e 50% de Dilma.

Plínio, por sua vez, propôs que o governo deixe de pagar os juros da dívida para que possa elevar os gastos em educação de 3% para 10% do PIB (Produto Interno Bruto). "Dinheiro tem. Esse país tem dinheiro de sobra", afirmou. "Se o que precisa ser dito implicar em não ganhar (a eleição), nós preferimos dizer o que precisa ser dito".

Segurança e saneamento

"A segurança, no plano nacional, está largada. Só tem uma ou outra ação pequenininha, para efeito de marketing", criticou Serra, ao falar sobre a atuação do governo Lula na área. "O governo federal tem que entrar nessa luta", disse.

O tucano também perguntou a Marina Silva sobre a situação do saneamento básico no país, uma de seus principais bandeiras de campanha. O tiro acabou saindo pela culatra. "Você, Serra, foi ministro da Saúde, do Planejamento, e como você explica o baixo investimento em saneamento?", indagou Marina. "Como ministro da Saúde eu fiz o maior investimento que o ministério já fez na sua saúde em saneamento", disse.

"Lamentavelmente a gente não consegue que o discurso se coadune com a prática", retrucou a candidata verde. "Foram R$ 3,3 R$ bilhões em oito anos - 20% do que precisaria para resolver o problema do saneamento em 10 anos. É muito pouco". No bloco seguinte, Serra retomou o assunto. "Os seus dados estão errados. Eu proponho que você verifique", disse.

FHC x Lula

Ao ser questionado pelo candidato do PSOL, o ex-governador de São Paulo negou estar escondendo o ex-presidente  Fernando Henrique Cardoso (PSDB) de sua campanha.

"Nós somos muito amigos. Trabalhei com ele, tenho muito orgulho", disse Serra, que também minimizou a aparição de Lula em seu programa eleitoral na TV. "O Lula é presidente da República... Lula passou pelo meu programa para citar um fato. Não teve nada de especial nesse sentido", disse. "Então você precisa demitir sua equipe de TV", retrucou Plínio, que completou: "No seu programa de TV aparece o Lula e aparece pouquíssimo o FHC (...) "Lula é continuação do FHC. É tudo farinha do mesmo saco".

Nas considerações finais, o candidato tucano aproveitou para criticar novamente sua principal rival. "Dilma, por que você aumentou tão fortemente o imposto federal sobre a energia elétrica, sob sua responsabilidade? Hoje, o Brasil tem a terceira tarifa de energia elétrica (mais cara) do mundo, e isso foi sob sua gestão", afirmou. "E por que manteve o imposto sobre saneamento que tira R$ 2 bilhões por ano do setor?", indagou.

Acompanhe o que aconteceu

Quebra
de sigilo de Eduardo Jorge
Reportagem publicada pela Folha de S.Paulo em 19 de junho apontou que cópias de declarações do imposto de renda do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, teriam sido obtidas por pessoas que faziam parte de uma "central de inteligência" que funcionava no comitê da candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff. O sigilo de Eduardo Jorge foi quebrado pelo menos 22 vezes, sendo que em 10 delas a quebra foi realizada pelo servidor Gilberto Souza Amarante, filiado ao PT.
Funcionárias
da Receita são investigadas
Um relatório de sindicância interna da Corregedoria da Receita apura uma possível quebra do sigilo fiscal de Eduardo Jorge. Duas funcionárias são investigadas: a analista tributária Antônia Aparecida Neves Silva e a servidora do Serpro Adeildda Ferreira Leão dos Santos.
Quebra de sigilo de outras pessoas ligadas a Serra Além de Eduardo Jorge, foram acessados os dados de outras três pessoas ligadas a José Serra: O ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, o ex-diretor da Previ Ricardo Sérgio e o primo do candidato tucano Gregorio Marin Preciato. Os dados foram acessados da sede dos terminais da delegacia da Receita Federal de Mauá, SP.
Sistema de compra e venda de dados sigilosos Após notícia de que mais de cem pessoas tiveram seus dados acessados na sede de Mauá (entre eles, a apresentadora Ana Maria Braga e integrantes da família Klein), o corregedor-geral da Receita Federal, Antonio Carlos Costa D'Ávila admite que há fortes indícios de um sistema de compra e venda de informações sobre declaração de Imposto de Renda.
Acesso a dados fiscais da filha
de José Serra
Em 31 de agosto, a Corregedoria da Receita Federal disse que econtrou indícios de que o esquema montado para acessar dados fiscais sigilosos teria consultado as declarações de renda de 2008 e 2009 de Verônica Serra, filha de José Serra.
Contador é quem pede acessos de IR da filha de Serra A consulta foi solicitada pelo contador Antonio Carlos Apella Ferreira por meio de uma declaração supostamente assinada pela filha de Serra. Com a falsa procuração, Ferreira teve acesso às declarações de imposto de renda de Verônica de 2008 e 2009.
Procuração de filha de José
Serra é falsa
O cartório que teria reconhecido a assinatura de Verônica Serra admitiu que o carimbo que aparece no documento é falso. Na ocasião, o procurador afirmou que apenas prestou um serviço terceirizado e não sabe quem fez a encomenda.
PT e PSDB apresentam
ações no TSE
Por conta do fato, o PSDB protocolou uma ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pedindo a investigação de um possível crime eleitoral, o que poderia causar, em última instância, a perda do mandato da petista caso ela fosse eleita. Já o PT entrou com ações que pedem que os tucanos sejam processaods por crime contra a honra (calúnia, injúria e difamação).
Falso procurador era filiado ao PT entre 2003 e 2009 TRE de São Paulo confirma que o falso procurador de Veronica Serra, Antonio Carlos Atella Ferreira, foi filiado ao PT entre 2003 e 2009. No entanto, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, afirmou que a filiação foi apresentada ao partido, mas não chegou a ser efetivada por um erro de grafia.
Assaltantes invadem comitê petista em Mauá Na manhã do dia 1º de setembro, um grupo de pelo menos seis homens invadiu e assaltou um comitê político de Mauá. O grupo levou apenas um celular de um político, duas armas e um rádio transmissor de dois guardas municipais que estavam no local na hora do roubo. A campanha de José Serra (PSDB) à Presidência acusou o PT de ter simulado o assalto ao comitê para "queimar arquivo".

 

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