16/08/2010 - 12h00

Propaganda eleitoral no exterior também apela para humor e emoção

Maurício Savarese
Do UOL Eleições
Em São Paulo

Para muitos, o horário eleitoral gratuito é, além de uma séria oportunidade para saber as diferenças entre candidatos, o melhor programa humorístico que existe. Outros gostam de assisti-lo como se fosse uma novela, cheia de brigas, algumas conciliações, muitas contradições e raras felizes pitadas de emoção. Mas comparadas a propagandas no exterior, as peças políticas brasileiras parecem de alto nível. Boas o bastante para exportar.

 

 

A primeira propaganda eleitoral de sucesso é datada de 1952, quando o republicano Dwight Eisenhower, também chamado de Ike, venceu o democrata Adlai Stevenson na corrida pela Casa Branca. “I like Ike” (Eu gosto do Ike) tornou-se referência logo em seguida com os seus versos. “Você gosta do Ike/Eu gosto do Ike/Todo mundo gosta do Ike/Tragam as bandeiras, rufem os tambores/Vamos levar Ike para Washington”. Até ali, as propagandas se resumiam a candidatos falando.

Os primeiros sinais de campanha televisiva moderna nos EUA, que disseminaram o modelo pelo mundo, vieram em 1964, na campanha reeleitoral do presidente democrata Lyndon Johnson. No auge da Guerra Fria com a União Soviética, ele explorou imagens de uma menina tirando pétalas de uma margarida em contagem regressiva. Surge a voz de um narrador e, depois do foco nos olhos da criança, uma bomba atômica explode. Estava inaugurada a campanha movida a medo.

Não a toa o marketing eleitoral surgiu nos EUA. Mas brasileiros já aparecem entre os grandes dessa área. Esse é o caso de pelo menos três deles: Nizan Guanaes, mais ligado ao PSDB, e Duda Mendonça e João Santana, próximos do PT. Por sua fama, já fazem campanhas no resto da América Latina e são respeitados no exterior. Mas preferem a emoção ao humor em suas peças publicitárias, algo que em outros países é visto com menos ressalvas pelos políticos.

Humor americano
Depois da sisudez inicial, os EUA ficaram mais bem humorados. Para os estrangeiros – e grande parte dos americanos -, George W.Bush foi um presidente impopular, violento e idiotizado. Mas recebeu muitos votos por fazer rir, como deixou claro em uma propaganda contra seu rival democrata em 2004, John Kerry. O vídeo que associa a suposta falta de firmeza de Kerry a um passeio de windsurf recebeu dezenas de prêmios e transformou o estrategista Karl Rove em referência.

“Em que direção John Kerry nos levaria?”, pergunta o narrador. “Kerry votou pela guerra no Iraque. Se opôs a ela. Deu apoio. E agora se opõe a ela de novo. Ele se gabou por votar a favor de US$ 87 bilhões para ajudar nossas tropas, antes de votar contra. Ele votou pela reforma da educação. E agora se opõe a ela. Ele diz ser contra o aumento das cobranças dos planos de saúde. Mas votou cinco vezes para fazer isso. John Kerry: ele vai para onde o vento soprar.”

Bush sabia fazer piadas, mas nunca teve um apoio tão explícito e impactante quanto o de seu colega Mike Huckabee, que tentou ser candidato do partido à Casa Branca em 2008, mas perdeu a indicação para John McCain. “Meu plano para cuidar das nossas fronteiras? Duas palavras: Chuck Norris”, diz o republicano, que engata uma série de “fatos” sobre o ator mito das artes marciais.

“Mike Huckabee é caçador desde criança e vai proteger nosso direito de manter armas”, afirma Norris. Huckabee devolve, no estilo das listas de internet que criam situações que mostrariam toda a força do ator: “Não há um queixo atrás da barba de Chuck Norris. Há outro punho”.

Norris comenta que o republicano quer acabar com a Receita Federal americana. E o candidato brinca: “Quando Chuck Norris faz flexões, ele não está se levantando. Ele está empurrando a Terra para baixo”. Norris elogia: “Mike é um conservador com princípios e autêntico”. E Huckabee conclui, para depois virar febre na internet: “Chuck Norris não declara apoio. Ele diz aos EUA como é que vai ser”.

Humor acidental
Se o humor político americano é intencional, o mesmo não se pode dizer sobre peças latinas. Em 2008, o candidato do Partido Democrático (PD), Walter Veltroni, autoproclamado “o Barack Obama” da Itália, causou choque nos rivais ao usar o hino disco/gay YMCA como jingle para enfrentar o premiê Silvio Berlusconi.

“Walter/Eu confio em você/Digo/Walter/Um país moderno/Com Walter/Chegou o momento de dizer não aos joguinhos/Vote/Pela estabilidade/Digo, vote/Nós corremos sozinhos/Você vota/Para mudar de verdade/Digamos que sim, podemos fazer”, cantam partidários do rival de Berlusconi, para depois emendarem o fatídico refrão. “Cantemos todos juntos, I’m PD”, em inglês e em referência ao Partido Democrático.

Berlusconi se saiu menos mal em seu vídeo mais importante para a televisão em 2008. O humor fica por conta da canastrice dos atores e do refrão, induzindo que a Itália poderia estar ainda pior se não fosse pela condução política do homem mais rico do país. “Presidente [de governo], estamos com você. Ainda bem que existe o Silvio!”.

Também em 2008, o presidente paraguaio, Fernando Lugo, rompeu um longo domínio do Partido Colorado, um dos principais do país. Mas sua candidatura, que prometia levantar o país, exibiu um vídeo que seria utilizável em qualquer programa de humor. Uma fila de pessoas cai até chegar ao então candidato, que segura a última delas. “Paraguaios, é a hora de nos levantarmos!”, bradou.

Dose de emoção
Com o conhecimento adquirido ao eleger prefeito de São Paulo o controvertido Paulo Maluf (PP), o marqueteiro Duda Mendonça tratou de recauchutar a imagem do então presidente argentino, Carlos Menem. Ele não poderia ser candidato à reeleição, mas impulsionaria seu preferido, Eduardo Duhalde, e se manteria como opção para retornar em 2004. A gratidão era a emoção a ser despertada.

“Ele pode não ter feito tudo, mas que fez muito ninguém pode negar”, diz a música, que passa a enumerar feitos de Menem. Duhalde perdeu para Fernando de la Rúa, que acabou defenestrado do poder por manejar mal a economia. Mas o ex-presidente, mesmo acusado de corrupção, com mandados de prisão expedido e cercado de suspeitas, conseguiu chegar ao segundo turno das eleições seguintes, quando perdeu para Néstor Kirchner, e se mantém como opção para a votação de 2011.

Outro tipo de emoção busca a propaganda eleitoral da campanha do atual presidente sul-africano, Jacob Zuma. Um homem fala em zulu sobre as melhoras no país desde que Nelson Mandela saiu da prisão, no sinal definitivo de fim do regime de segregação racial no país. As melhoras econômicas e a igualdade são o tema.

“Eu lembro quando era jovem e cheio de sonhos. Mas esses sonhos nunca foram realizados. Mas quando Mandela foi libertado, esses sonhos se realizaram. Foi o início de uma estrada empolgante para uma vida melhor para todos. Nos últimos 15 anos, vimos as vidas das pessoas melhorando”, diz um velho negro. Zuma comenta: “Como sul-africanos, conquistamos muito nos últimos 15 anos. Trabalhando juntos, podemos ainda mais”, afirma ele.

Os ingredientes de uma campanha eleitoral já estão globalizados.

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