29/07/2010 - 16h41

Serra diz que pedágios em SP não são baratos e fala em "estatizar" órgãos públicos

Diego Salmen e Maurício Savarese
Do UOL Eleições
Em São Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, afirmou nesta quinta-feira (29) que a cobrança de pedágio em rodovias paulistas não é barata, mas ajuda a manter estradas em boas condições. Ele disse ainda que planeja "reestatizar" empresas e órgãos públicos que teriam sido subjugadas a interesses partidários durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Serra - que governou o Estado de São Paulo entre 2007 e abril deste ano - afirmou que as concessões de rodovias feitas pelo governo federal nos últimos anos foram mal feitas e que o aumento do número de praças de pedágio serve para diminuir os custos de quem viaja distâncias menores.

Durante sabatina promovida pelo portal R7 e pela Record News, Serra afirmou sobre o preço dos pedágios paulistas: "Eu não acho baratos. Agora, se não tivesse tido [cobrança], não teria nada". Em seguida, emendou crítica ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O governo federal tem R$ 3 para gastar em estradas e gasta R$ 1. Faltou investimento, sem dúvida."

O presidenciável tucano disse ainda que o regime de concessão feito pelo governo federal, que premia os interessados que ofereçam a menor tarifa ao usuário, precisa ser revisto. Em São Paulo, o Palácio dos Bandeirantes cobra a outorga, para construção de novas estradas e outros investimentos, e estipula um preço máximo da tarifa.

"Eu vou mudar a lógica", afirmou Serra, que acrescentou: "Às vezes você aumenta o número de praças para as pessoas que saem antes pagarem menos. E isso tem um custo". 

O tucano afirmou que importantes órgãos federais estão tomados por indicações de partidos aliados de Lula e que quer acabar com cerca de 40 mil cargos comissionados. Assim, reverteria os recursos economizados para áreas prioritárias. "Vou estatizar os Correios, o DNIT [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes], a Fundação Nacional de Saúde, as agências reguladoras. São todos do governo e estão loteados", disse.

A respeito dos cargos comissionados, declarou: "Sou fanático por concurso. Nomeação política para emprego político que não trabalha, para fazer campanha, não". Questionado, o tucano negou ser candidato da elite brasileira. "Cadê os ricos? Podiam estar me ajudando na campanha", brincou.

"Troglodita" e diplomacia
Serra rebateu as declarações de Marco Aurélio Garcia, coordenador da campanha de sua rival na disputa pelo Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT), segundo as quais o tucano teria "traído" a esquerda e migrado para uma "direita troglodita".

"Acho que troglodita de direita é quem apoia o Mahmmoud Ahmadinejad (presidente do Irã), que apedreja mulheres", disse o ex-governador de São Paulo, em referência à aproximação diplomática do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o Irã. "Isso vem de gente que não é mais de esquerda", afirmou.

"Ele (Marco Aurélio Garcia) não tem nada de esquerda (...) Você acha que o [ex-presidente Fernando] Collor, que é aliado deles, é de esquerda?", disse. Sobre seus aliados, desconversou: "Você já viu algum do Democratas posando de esquerda? Eu acho essa discussão uma bobagem".

O presidenciável tucano voltou a se referir aos vínculos entre o partido de Dilma e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), acusadas de terem ligação com o tráfico de droga. O candidato a vice de Serra, Indio da Costa (DEM), associou os dois em entrevista a um blog do PSDB. O tucano e a petista estão empatados nas intenções de voto, segundo o instituto Datafolha.

"O PT errou ao tratar como força política uma força que faz narcotráfico. Eles se iludiram com narcotraficantes como se fossem militantes de esquerda", afirmou Serra. "Ele [Indio] falou isso daí no meio de um debate. O pessoal do PT escolheu isso para fazer uma tremenda onda para ter um discurso. Eles não têm discurso. Exceto para dizer que é para continuar o Lula, eles não têm discurso", afirmou.

Questionado sobre sua postura crítica em relação à diplomacia do governo Lula, Serra fez questão de dizer que fala como candidato. "No governo é outra coisa", afirmou, para em seguida comentar o apoio do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a candidata petista. "O Chávez já declarou apoio a Dilma, ele é dilmista e o  PT é chavista", afirmou.

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O ex-governador de São Paulo foi questionado sobre as razões que fizeram seus adversários considerá-lo "autoritário, arrogante e centralizador", como dito pelos entrevistadores. "Não sei. Eu não sou centralizador, ao contrário, delego muito. Agora, eu tomo as decisões na hora em que elas têm de ser tomadas. Eu assumo riscos", afirmou.

Serra disse ainda que é necessário mobilizar entidades "religiosas ou de solidariedade" para combater as drogas. "O Estado é capaz de pagar [os custos] e de dar orientação. Mas se houver gente motivada por um sentimento religioso, algo especial, funciona melhor", afirmou.

Reforma política
Dizendo-se favorável a um mandato único de cinco anos para presidente, sem reeleição,Serra afirmou que não defende a "alternância (de poder) pela alternância", ao ser indagado sobre o fato de o PSDB estar no poder em São Paulo há 16 anos. "Eu nunca disse que mudança de governo por mudança é saudável ou não é", afirmou. "A questão é quem pode materializar o Brasil daqui para frente e ver quem pode mais".

O ex-ministro da Saúde propôs uma mudança do sistema eleitoral para dar início a uma reforma política mais ampla. "Vamos começar pelas grandes cidades com mais de 200 mil eleitores, onde tem segundo turno. Fazer o quê? O voto distrital puro. Você divide a cidade em distrito e cada distrito elege o seu vereador", prometeu.  "O importante é você restringir onde ele pega voto. Aumenta o controle (sobre o parlamentar)".

De São Paulo para o Brasil
O tucano prometeu expandir a Nota Fiscal Paulista, que reembolsa em dinheiro o cidadão cadastrado que se inscreve no programa, para o restante do país. No entanto, teve postura diferente ao comentar uma eventual expansão da Lei Antifumo, que proíbe o fumo em ambientes no Estado. "É um tema que deve ser regulado pelos Estados", afirmou.

Inchaço da máquina pública e MST

Apesar de considerar que há um "inchaço" na máquina pública, Serra não afirmou se irá cortar gastos por meio do corte de funcionários. Sinalizou, no entanto, que poderá acabar com alguns ministérios. "Não dá para ter uma estimativa", afirmou. "Tem que examinar direito, porque eu acho que há um exagero", disse.

Serra aproveitou para voltar a atacar o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). "Se o MST fosse mesmo um movimento pela reforma agrária, sabe quem eles estariam apoiando? O Plínio de Arruda Sampaio [candidato do PSOL à Presidência], um patriarca da reforma agrária", afirmou o tucano. "Eles são fisiológicos. Não tem nada de movimento social; é um movimento político socialista-revolucionário que usa a reforma agrária como pretexto, basicamente financiados pelo governo atráves de empregos, subsídios...", disse.

Quebrando as regras

Questionado sobre as multas que recebeu da Justiça durante a pré-campanha por ter desrespeitado a legislação eleitoral, Serra criticou o PT. "As primeiras transgressões foram do PT. Um advogado disse: 'quando a multa é pequena, tudo vale a pena'. Criou-se uma situação em que quem segue tudo direitinho tem uma enorme desvantagem em relação a quem não segue", disse. Não houve uma política deliberada do PSDB para isso", afirmou.

O ex-governador de São Paulo defendeu-se do fato de não ter entregue até hoje seu programa de governo ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) - no lugar, foram entregues documentos contendo discursos proferidos pelo tucano. "Meus discursos foram muito bem elaborados", afirmou.

Recentemente, a petista Dilma Rousseff foi criticada por ter substituido o programa de governo enviado ao tribunal. O ex-ministro da Saúde não deu data para entregar o documento. "Oportunamente. Se eu marcar uma data e atrasar um dia, vai aparecer: 'Serra atrasa o programa'", esquivou-se.

Previdência

O ex-governador disse que era preciso ter feito uma reforma previdenciária "mais profunda" do que a promovida no início do governo Lula. "Nós vamos tentar fazer isso no futuro", disse Serra, que não se comprometeu com valores ao ser questionado sobre porcentuais de reajuste. 

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