23/07/2010 - 13h00

Parlamentares que desistiram da reeleição alegam desestímulo e dificuldades na campanha

Camila Campanerut
Do UOL Eleições
Em Brasília

Dos 513 parlamentares que compõem a Câmara dos Deputados, a eleição deste ano pode trazer algumas “caras novas” à Casa no lugar de deputados com mais de 10 anos de trabalho no Congresso, que desistiram de disputar o pleito em outubro. Dos 93 que não pretendem renovar o mandato, 34 desistiram de concorrer a qualquer cargo. O número é mais que o dobro do último pleito de 2006, quando 15 deixaram de disputar, segundo o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).

Entre os motivos alegados pelos deputados, está a falta da “prometida” reforma política, especialmente no que se refere ao financiamento de campanhas que dependem das empresas privadas. “Não quero ser candidato no modelo eleitoral atual que está esgotado. Não é desencanto nem com a vida pública nem com o meu mandato como deputado, o que rejeito é a eleição como é hoje”, diz o deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB-RS).

Não quero ser candidato no modelo eleitoral atual que está esgotado.

Deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB-RS)

Pinheiro pretende voltar às suas atividades como advogado e jornalista, enquanto aguarda que haja uma mudança “que só sei que não vai ser breve”. O peemedebista criticou o próprio partido e o PT por frustraram o compromisso que tinham de levar a votação o projeto da reforma política. Nele, o deputado defende que o voto não seja não para o candidato, mas para o partido, para que assim, a campanha ter financiamento público e não privado, “que ainda temos de dar satisfação da ficha do doador de campanha”.

Ainda na base do governo, o principal desfalque do PT é o deputado José Eduardo Cardozo (SP). Na mesma linha, o deputado também apoia o financiamento público nas campanhas, “por entender que as formas atuais de financiamento privado das eleições geram corrupção e uma real ausência de isonomia entre os candidatos”.

“As regras eleitorais que marcarão as próximas disputas aos cargos proporcionais serão as mesmas. Os vícios serão os mesmos. E o desestímulo dos que defendem posturas republicanas na atividade política cada vez maior”, afirmou, em carta aberta aos seus eleitores.

Cardozo é um dos coordenadores da campanha da petista Dilma Rousseff à Presidência. A desistência dele de participar da disputa eleitoral “não se prende a uma avaliação de descaso para com a vida parlamentar ou para com o Parlamento nem a divergências políticas com o partido ou a um inconformismo com as diretrizes políticas do [atual] governo”, disse.

De acordo com Cardozo, ele deverá continuar na política, mas não com mandato político, por meio da atuação da Executiva da legenda.

"Mandato improdutivo"

Desestímulo com o trabalho no Congresso é a justificativa do líder do PPS na Câmara dos Deputados, Fernando Coruja (SC). Depois de três mandatos como deputado federal, Coruja avalia que “o mandato parlamentar não é mais produtivo”.

“A capacidade política do deputado está muito diminuída. O fenômeno acontece internacionalmente e no Brasil. A imprensa, por exemplo, tem mais influência que o Congresso, que está fragilizado. O sistema atual não é eficaz”, disse.

Ao término do mandato, Coruja disse que irá se dedicar a“600 outras coisas”, incluindo clinicar como endocrinologista, e lecionar na área de Direito Constitucional, na qual também é especialista.

Senadores

Dos 81 senadores que compõem Casa, a eleição de outubro irá renovar apenas dois terços (54) das cadeiras. Entre os diferentes caminhos escolhidos pelos senadores para seguir suas carreiras políticas, 10 deles desistiram, pelo menos nos próximos dois anos, de ocupar um cargo eletivo. Diferentemente dos deputados, a principal razão para não disputar a reeleição foi a pressão e a falta de apoio dos próprios partidos.

Um dos casos é o do senador Valter Pereira (PMDB-MS), que perdeu as prévias da legenda realizada pela regional, angariando apenas cerca de 30% dos peemedebistas sulmatogrossenses. A maior parte do apoio ficou com o atual deputado federal Valdemir Moka. Deputado por três mandatos, Pereira avaliou que outro cargo no Legislativo, que não no Senado, não seria satisfatório para a evolução da sua carreira política.

A política está se tornando instrumento de quem tem poder [econômico], além de nos decepcionar, nos separa do processo [político].

Senador Geraldo Mesquita Jr. (PMDB-AC)

Desilusão também foi a motivação de não participar do pleito do senador Augusto Botelho (PT-RR). Segundo sua assessoria, Botelho tinha a “promessa” da legenda que seria encaminhado para a reeleição. No entanto, cerca de um mês antes da convenção regional, o PT indicou o nome da atual deputada federal Angela Portela para o posto. O fato de o partido ter mudado “de última hora” o lado que iria apoiar o fez desistir de tentar outro cargo, apesar de ter recebido ofertas para tentar uma vaga como deputado ou suplente a governador.

Por outro lado, o senador alagoano João Tenório (PSDB) se mostrou mais afinado com o partido e ofereceu seu lugar para se fizesse composição política com outras legendas coligadas. Tenório considerou que ajudaria mais seu Estado atuando como empresário. “Eu faço parte do grupo daqueles alagoanos que a coisa mais importante do nosso Estado é precisar se desenvolver de qualquer forma. Como empresário, posso dar uma contribuição maior do que como político. Minha vontade é de continuar a desenvolver o Estado”, afirma o tucano.

O senador Mauro Fecury (PMDB-MA) seguiu o mesmo raciocínio. Segundo sua assessoria, o peemedebista não trabalhou em suas coligações do Estado e pretende voltar a trabalhar na área educacional. Fecury é proprietário das instituições de ensino Uniceuma no Maranhão, da Unieuro no Distrito Federal e Faculdade Metropolitana da Amazônia em Belém (PA) e ocupa o posto na Casa Legislativa desde em 2009.

Ainda no ramo empresarial, o senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB) prometeu continuar agindo de modo a “influenciar os projetos de desenvolvimento na Paraíba” como empresário e ainda quer ter “mais qualidade de vida”. Cavalcanti atua há mais de 40 anos como empresário. É dono do Sistema Correio da Paraíba, composto por pelo principal jornal local, o Correio da Paraíba, estações de Rádio AMs e FMs e a TV Correio, afiliada a Rede Record.

Quem também deve voltar para os meios de comunicação é o senador Sérgio Ziambiasi (PTB-RS). Ziambiasi é radialista e trabalhou por mais de 20 anos na Rádio Farroupilha, do Grupo RBS. O trabalho dele como comunicador, em contato com os ouvintes de classes sociais mais baixas em seu programa de rádio, alavancou sua popularidade na região. Zambiasi alega que pretende ficar mais próximo de seus conterrâneos.

O senador Gerson Camata (PMDB-ES) abriu mão de buscar a reeleição em favor de sua esposa, a deputada federal Rita Camata (PMDB-ES). O peemedebista irá concentrar seus esforços para manter a cadeira no Senado em família, trabalhando na campanha dela.

Criticado pela imprensa regional e “voz dissidente” da própria legenda, o senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) “cansou” da vida pública e já solicitou sua aposentadoria como procurador da Fazenda Nacional, função que exerceu por mais de 20 anos.

“São varias as razões [para não se candidatar], as mais significativas, eu diria, que a economia era instrumento da política. Hoje, o processo está se invertendo, quando falo de economia, digo o comércio, a gana. A política está se tornando instrumento de quem tem poder [econômico], além de nos decepcionar, nos separa do processo [político]”, afirma.

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