13/07/2010 - 13h00

Brasileiros no exterior alegam distância, desinteresse e burocracia para não votar

Rodrigo Borges Delfim
Do UOL Eleições
Em São Paulo

Votar nas eleições de outubro também é uma obrigação para os brasileiros que vivem no exterior – no caso, apenas o voto para presidente. Neste ano, 169.825 pessoas que vivem fora do Brasil estarão habilitadas para participar do pleito, segundo o TSE. Em 2006, eram 86.360. O número atual representa cerca de 5% dos mais de 3 milhões de brasileiros que vivem atualmente no exterior, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores.

Brasileiros morando fora

  • 3.000.000

    Total

     

  • 169.825

    Aptos a votar

     

  • 51,92%

    Abstenção em 2006

     

Além do baixo número de pessoas aptas a votar, é grande a abstenção de brasileiros no exterior. Em 2006, ela foi de 51,92 % dos eleitores que vivem fora. Em 2002, atingiu 48,24% da comunidade. A distância dos locais de votação, a burocracia e a falta de entusiasmo com os candidatos são os principais motivos citados pelo integrantes da comunidade para a baixa participação nas eleições.

Distância

Para votar do exterior, o eleitor precisa ter seu titulo registrado na zona eleitoral mais próxima de onde mora, situada em consulados ou embaixadas do Brasil, o que dificulta o voto dos brasileiros que vivem distantes desses locais.

“A distância é o grande problema. É necessário pessoal, maior estrutura para a abertura de novos locais de votação – os chamados municípios eleitorais”, admite Sayonara Bracks, chefe do Cartório Eleitoral do Exterior, sediado em Brasília. São necessários ao menos 30 eleitores registrados em uma localidade para que a mesma possa ter direito a receber uma urna para votação.

Voto no exterior

O voto para presidente é obrigatório para brasileiros que residem no exterior. Para isso, a pessoa deve encaminhar um Requerimento de Alistamento Eleitoral à embaixada ou consulado com jurisdição sobre o local onde mora. O prazo para fazer o requerimento acabou em 5 de maio.

Fonte: TSE (Tribunal Superior Eleitoral)

“Em 2006, para votar, precisei gastar uns US$ 40 em passagem de trem e perder umas quatro horas, entre ir e voltar”, diz o jornalista Rui Martins, residente há três décadas fora do país e que hoje vive em Berna (Suíça).

A distância atrapalha também no acompanhamento das campanhas. “Como não estou no Brasil e acompanho apenas pela internet algumas notícias sobre a eleição, não sei ao certo qual o melhor candidato para governar o país. Por isso, prefiro não votar”, afirma o estudante Alessandro Serrato, fora do país desde 2005 e que atualmente mora em Londres.

“Ler jornais e se informar pela internet não é suficiente. Na eleição passada, foi fácil votar, porque eu conhecia os candidatos e já sabia quem era meu favorito. Já nesta próxima eleição, vou ter mais dificuldade em escolher”, diz a assistente comercial Íris Viana, que mora desde 2006 em Livry Gargan, na região de Paris (França).

Burocracia para transferir título

Além da distância dos locais de votação, brasileiros que vivem no exterior também reclamam da burocracia na hora de transferir o titulo de eleitor para onde moram. Ela também é feita nas sedes das Embaixadas ou das Repartições Consulares com jurisdição sobre a nova residência ou no Cartório da Zona Eleitoral do Exterior, localizado em Brasília.

Para efetuar a transferência, é necessário o eleitor residir há pelo menos três meses no novo domicílio, estar quite com as obrigações eleitorais e ter cópia dos seguintes documentos: comprovante de residência em nome do requerente ou declaração de residência, documento oficial brasileiro de identificação original ou cópia autenticada. É necessário o comparecimento pessoal do requerente, no ato da transferência, para assinatura do Requerimento de Alistamento Eleitoral (RAE). O prazo para transferência de titulo visando a eleição deste ano foi encerrado em 5 de maio.

O bancário Igor Sismon Silva, que mora há um ano em Lisboa (Portugal), mantém seu documento registrado no Brasil. “Para votar daqui de Portugal nas eleições, o trabalho é imenso. Posso fazer tudo isso ou aproveito uma viagem ao Brasil para fazer uma justificativa póstuma, que leva uns 20 minutos no cartório eleitoral”, explica.

“Ao meu ver, os brasileiros optam pela alternativa mais facil, que é justificar o voto, devido a essa burocracia para votar no exterior”, diz o analista de qualidade Carlos Eduardo Sabbadin, que chegou em maio deste ano a Miami (EUA).

Falta de interesse

Além da distância e da burocracia, a falta de interesse pela política e pela eleição aparece como outro fator de peso para a baixa presença dos emigrantes nas urnas.

“Acho que brasileiro no exterior quer o menor envolvimento possível com qualquer coisa oficial do Brasil”, diz a pedagoga Lia Vitoria Bøckel, que mora há 15 anos em Copenhague (Dinamarca).

“De acordo com o consulado daqui, eu deveria me registrar em Londres. Não o fiz por causa da burocracia do consulado e do pouco interesse que tenho sobre a política brasileira”, diz a intérprete Lizabeth Barreto, que mora na cidade desde 1976 e que já vota nas eleições britânicas.

Para Rui Martins, a falta de representação para emigrantes no governo desestimula a participação na eleição de quem vive no exterior. “Sem um órgão institucional para emigrantes, sem parlamentares emigrantes, os votos dos emigrantes são uma ficção. Mas se houver deputados, senadores emigrantes, os partidos criarão comitês no Exterior e o número de eleitores poderá subir a um milhão, número capaz de decidir até eleição presidencial”, diz o jornalista.

“Acredito que brasileiros que se interessam por política antes de ir para o exterior, continuarão a se interessar e a votar. E quem pouco se importava com a eleição no Brasil terá menos vontade ainda de votar do exterior”, afirma Íris, que diz que vai participar do pleito de outubro. “Vou votar porque sou brasileira, meu país é o Brasil e então meu presidente é o presidente do meu país”, diz.

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