Brigas entre partidos políticos, disputas por alianças que se arrastaram, em alguns casos, por meses nos Estados, multas aplicadas pelo TSE, gafes e mal entendidos foram alguns dos principais fatos que marcaram os 96 dias que antecederam o ínicio oficial da corrida eleitoral de 2010 (que começa em 06/07).
O período, chamado de pré-campanha, começou para alguns candidatos a partir da data em que eles deixaram seus postos (no final de março de 2010), para iniciarem os preparativos para a disputa de um novo cargo para os próximos quatro anos. No período, outros nomes também manifestaram interesse em concorrer às vagas. Na agenda, negociações para apoio político, convenções, entrevistas, viagens e sabatinas.
Segundo a legislação eleitoral a oficialização das candidaturas só ocorre com as convenções partidárias. Até ocorrer isso, os postulantes a cargos públicos não podem ser considerados candidatos. Assim, no período da pré-campanha, se convencionou chamá-los de "pré-candidatos". Além disso, a lei proibe qualquer tipo de propaganda eleitoral antecipada —algo não muito respeitado pelos políticos.
Para Cláudio Couto, cientista político da FGV, a pré-campanha de 2010 foi marcada por desrespeito às leis eleitorais e uma inversão de desempenho entre os dois presidenciáveis mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais, Serra e Dilma. “Por conta da atual legislação, os meses entre o início oficial da campanha e a saída dos políticos de seus atuais cargos cria um cenário onde os candidatos fingem que não são candidatos. Assim, o que se vê é um total desrespeito às leis”, diz o cientista se referindo ao número de multas por propagandas antecipadas no período ( 20 foram aplicadas pelo TSE, 6 delas para o presidente Lula, o mais multado por fazer suposta propaganda para sua candidata, Dilma Rousseff).
Segundo Couto, entre os presidenciáveis o que se viu foi o candidato José Serra começando bem em um momento onde a adversária petista ganhava destaque no cenário eleitoral, mas deslizando no final da pré-campanha, com o impasse na escolha do vice. “O tucano soube trabalhar temas que ainda deixam a desejar no governo de Lula, como política externa e saúde e preferiu fugir de um confronto em temas mais bem avaliados, como economia interna. Já o episódio do vice foi desastroso”, avalia.
Enquanto isso, Dilma Rousseff começava sua estratégia com algumas trapalhadas. “A candidata fez declarações ruins e tropeçou na comunicação, como a divulgação equivocada de fotos e vídeos em seu blog”, exemplifica o cientista indicando a publicação de uma fotomontagem de Dilma ao lado da atriz Norma Bengell em uma passeata contra a ditadura. A postagem gerou críticas à candidata. “No entanto, ao longo da campanha Dilma fez um bom uso do tempo na TV e teve grande apoio, embora ilegal, do presidente Lula. A candidata parece ir mais robusta para a campanha”, avalia o cientista.
Já Marina Silva destacou a adesão de figuras importantes para a campanha como a escolha de um vice do ramo empresarial (Guilherme Leal, presidente da Natura) e do economista Eduardo Gianetti da Fonseca, “o que mostra uma amplitude na campanha e na questão ambiental”, segundo Couto. O desafio da candidata do PV será aumentar sua preferência entre o eleitorado. Hoje, ela representa 8% das intenções de voto, segundo pesquisa Vox Populi divulgada na última quarta-feira (28).
"Quedas-de-braço" nos Estado
Nos Estados, a pré-campanha foi marcada por disputas entre partidos e impasses para definir alianças que se estenderam por meses e renderam até greve de fome. O deputado petista Domingos Dutra e o líder camponês Manoel da Conceição passaram sete dias sem comer em protesto à decisão do PT nacional em apoiar a reeleição de Roseana Sarney (PMDB) para governadora do Maranhão. Antes, o diretório havia indicado apoio a Flávio Dino, do PC do B.
Outros 7 Estados também protagonizaram uma verdadeira “ novela” no quesito alianças. No Paraná, Osmar Dias (PDT) decidiu na última hora, no final do dia 29, sair candidato ao governo. Antes, o político estava indeciso entre o governo do PR ou se reeleger ao Senado. Em Minas Gerais, a indefinição do candidato se arrastava desde 2009. Confira no mapa abaixo os principais acontecimentos: