25/05/2010 - 07h00

Mercadante aposta em racha de aliados de Alckmin na disputa por SP e já pede debate

Maurício Savarese e Diogo Pinheiro
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Veja os melhores momentos da entrevista

Pré-candidato do PT ao governo paulista, o senador Aloizio Mercadante quer rachar o PMDB e o PTB no maior colégio eleitoral do país para minar a base de seu adversário tucano, Geraldo Alckmin, favorito para vencer no primeiro turno, de acordo com as pesquisas de intenção de voto. Como atrair apoio em partidos aliados do ex-governador pode não bastar, ele quer debater com o rival o quanto antes.

Em entrevista ao UOL Notícias, Mercadante, derrotado na disputa estadual em 2006 já no primeiro turno, diz ter mais chances de vencer porque Alckmin não foi o preferido sequer de membros importantes do partido, como o governador em exercício, Alberto Goldman, e o ex-secretário da Casa Civil Aloysio Nunes Ferreira – este o candidato da preferência do presidenciável e ex-governador José Serra (PSDB).

O mesmo valeria para dois aliados importantes de Serra: o prefeito Gilberto Kassab (DEM), que superou Alckmin na disputa pelo cargo em 2008, e o ex-governador Orestes Quércia (PMDB), provável candidato ao Senado. “Não há uma coesão, uma adesão militante. Há em relação à campanha nacional, mas não em relação à estadual. Isso favorece a nossa campanha”, afirmou Mercadante.

Apesar de Quércia, presidente do PMDB paulista, dar apoio oficial a Alckmin, o petista vê chances de dividir o partido no Estado com a ajuda do deputado federal Michel Temer (SP), candidato a vice da presidenciável Dilma Rousseff (PT). O PTB, presidido pelo deputado cassado Roberto Jefferson, denunciante do esquema do mensalão em 2005, também é um dos alvos de Mercadante.

“Nós teremos uma parte muito importante do PMDB na minha campanha. Não tenho como dizer quanto. Mas Michel Temer, Wagner Rossi, que é ministro da Agricultura, e muitos prefeitos do interior estão mobilizados no apoio a Dilma e Mercadante”, disse ele, que anunciou um ato de peemedebistas em defesa de sua candidatura para meados de junho.

“O PMDB também quer mudança em São Paulo. Há uma insatisfação em setores importantes com a estratégia que foi definida em São Paulo.”

Além desse apoio extraoficial, o petista tem 12 siglas aliadas – em 2006, ao ser derrotado por Serra, tinha três. A negociação atual deve render a ele um tempo de TV e rádio duas vezes maior do que os parcos minutos ocupados há quatro anos. É com essa base que espera reverter a tendência atual de nova vitória tucana em São Paulo.

“Alckmin sai muito bem nas pesquisas. Mas na eleição municipal, ele saiu com 45%, chegou com 22% e nem foi para o segundo turno”, alfinetou, referindo-se à derrota do ex-governador na capital paulista em 2008. Na ocasião, Serra foi acusado de privilegiar Kassab, seu vice na Prefeitura de São Paulo, em detrimento do colega de partido que tomou dele a vaga tucana para disputar a Presidência em 2006.

Vereadores oposicionistas em São Paulo dizem que colegas ligados a Kassab já sinalizaram apoio a Mercadante em São Paulo, com o objetivo de minar os esforços de Alckmin de retornar ao Palácio dos Bandeirantes.

Debate e vice
Em maio de 2006, Mercadante somava cerca de 8% nas pesquisas de intenção de voto. Apesar de ter terminado com 32% do eleitorado – o maior índice obtido pelo PT no primeiro turno de uma eleição em São Paulo -, perdeu. A possibilidade de vitória de Alckmin sem necessidade de segunda votação fez o petista já cobrar debates.

“Pode marcar debate. Se quiser amanhã, eu estou aí. Depois de amanhã. Fala o dia em que o Alckmin vier, que já estou aqui. Se ele não vier também, eu venho. Eu só quero debate. Eu peço a São Paulo o seguinte: me ponham no segundo turno para ver esse debate de modelo, de política, de proposta”, clamou. O ex-governador não tem dado entrevistas e apareceu em raros eventos públicos nas últimas semanas. O UOL Eleições já convidou o ex-governador Alckmin para uma entrevista. Segundo a sua assessoria, ele está em um período de montagem de propostas, preferindo não conversar com a mídia no momento.

Para tentar dar fim à série de vitórias tucanas nas disputas pelo Palácio dos Bandeirantes, o PT pode alçar outro senador à chapa: a vice pode ficar com Eduardo Suplicy. O PDT, no entanto, tem a primazia de indicar o companheiro de chapa de Mercadante. Mas a preferência pessoal do líder petista no Senado é clara.

“O PR e o PDT reivindicavam a vice e ficou pré-acordado que o PDT indicaria. Eles têm bons nomes. De outro lado, o Suplicy é uma liderança política que São Paulo conhece, respeita e gosta. Ele venceu todas as eleições parlamentares que disputou. Na última derrotou o vice da outra chapa. Eu me sentiria muito bem com ele na vice. Mas isso tem que ser construído na aliança”, afirmou.

Questionado sobre sua potencial substituta no Senado, a ex-prefeita Marta Suplicy, e a possibilidade de disputar com ela a vaga de candidato a prefeito de São Paulo em 2012, Mercadante indicou que, se derrotado nas eleições deste ano, quer a primazia para concorrer ao cargo ocupado por Kassab, desgastado diante da opinião pública.

“Ela como senadora vai para o lugar que eu estava. Vai ser imprescindível o papel dela na defesa do governo Dilma, como foi o meu”, disse. “Fui convidado pelo presidente para ser ministro em duas situações. Conversando, chegamos à conclusão de que não tinha como eu sair do Senado. Acho que a Marta vai ter um papel muito importante ao dar sustentação à primeira presidenta do Brasil”, declarou.

Críticas
O pré-candidato disse ainda que terá educação e segurança pública como prioridades na campanha. “Faltam 11 mil agentes no sistema prisional de São Paulo. E há 59 mil presos além da capacidade que deveríamos ter. E eles não foram capazes de responder a crise do sistema. Eles não separam os presos por grau de periculosidade, não introduziram trabalho e educação no presídio. Não usaram monitoramento eletrônico”, criticou.

“Sergipe e Piauí pagam em torno de R$ 8 mil por delegado. Aqui é em torno de R$ 5,5 mil. Como é que o Estado de São Paulo paga para um delegado menos do que o Piauí? Menos que Sergipe? E a polícia está do jeito que está: desmotivada, falta policiamento ostensivo. Aí na hora que os indicadores todos crescem, falam para a polícia partir para cima. (Quando) aumentaram 40% os homicídios pela própria Polícia Militar neste início de ano, mudaram o comando”, declarou.

Crítico à política educacional implementada pelo PSDB, Mercadante evitou um confronto direto com seu neoaliado, o ex-secretário da Educação Gabriel Chalita, ex-tucano e aliado de Alckmin que se filiou ao PSB por discordâncias com Serra. Afirmou que os governos tucanos cometeram “um erro estrutural” ao contratarem mais de 100 mil professores sem concurso.

Mercadante disse ainda que os 16 anos de gestão tucana em São Paulo transformaram as rodovias paulistas nas mais caras do mundo. “Que tem que ter pedágio para investimento e manutenção, eu concordo. Mas que tem um abuso de pedágio que está prejudicando a competitividade em algumas regiões e dificultando investimento, é inegável”, disse ele, que prometeu revisar contratos se eleito.

Outra campanha que ele prometeu fazer é a de indicar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao premio Nobel da Paz, por conta do acordo fechado com o Irã na semana passada. O presidente Lula merece muito mais do que alguns que receberam. E eu vou começar essa campanha de colher assinatura, vou colher internacionalmente. Vai sair desse governo como a liderança política mais importante da história do Brasil”, disse.
 

Entrevista na íntegra

 

 

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