18/05/2010 - 16h36

Para especialistas, Temer atua como "lã entre vidros" ao unir PMDB em torno de Dilma

Diego Salmen
Do UOL Eleições
De São Paulo

O presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), foi indicado nesta terça-feira (18) pela Executiva de seu partido para integrar a chapa de Dilma Rousseff (PT) como vice na disputa pela Presidência da República.

Para especialistas consultados pelo UOL Eleições, Temer,  tido como "conciliador", é o melhor nome disponível dentro do PMDB para o posto de vice-presidente caso Dilma - cujo perfil é visto como mais técnico e menos político - seja eleita.

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"Se Dilma ganhar, vai precisar de alguém com interlocução, de um braço direito no Congresso, e esse é Michel Temer", opina o professor Gaudêncio Torquato, da USP (Universidade de São Paulo). "Temer tem sido sido uma espécie de lã entre vidros e tem conseguido uma unidade excepcional no PMDB. Ele conseguiu fazer o PMDB estar até mais unido que na época do Ulysses Guimarães", acrescenta.

Das leis à política

Nascido em 1940 no município de Tietê, interior de São Paulo, Michel Temer formou-se advogado na USP (Universidade de São Paulo), onde foi professor de direito constitucional. Longe das salas de aula, foi procurador-geral do Estado de São Paulo (1983, 1984 e 1992), secretário de Segurança Pública (1984-1986 e 1992-1993) e secretário de Governo do Estado (1993-1994).

A despeito de sua longa atuação na área do direito, onde publicou diversos livros, foi com sua trajetória política que ganhou notoriedade. Presidente do PMDB desde 2001, atualmente está em seu sexto mandato como deputado federal.

Em 1997, presidiu a Câmara pela primeira vez, integrando a base de sustentação do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) no Congresso. Temer triplicou a verba de despesa de gabinetes disponível para os deputados ainda no início de sua gestão à frente da Casa.; ao mesmo tempo, permitiu aos colegas que aumentassem os salários de seus assessores.

Com isso, dava o primeiro passo na pavimentação de seu caminho rumo às cúpulas do Poder nacional.

"Ele é um político muito experiente. Presidir a Câmara representa um aprendizado muito grande, porque ele é obrigado a conciliar interesses divergentes, dar ritmo à pauta, conversar muito, pacificar", analisa Rubens Figueiredo, cientista político e diretor do Cepac (Centro de Pesquisas e Analises de Comunicação).

Pulando a cerca

Apoiador da presidência tucana, Temer não encontrou dificuldades em mudar de lado assim que os petistas assumiram o Palácio do Planalto com a eleição de Lula, em 2002.

A pulada de cerca não se deve ao perfil do agora pré-candidato a vice, mas sim às "próprias características do PMDB e de nosso sistema político", na avaliação de Figueiredo. "O PMDB é o que pode ser chamado, entre aspas, de 'partido profissional'. É aquele que está em busca de orçamento, cargos, poder. O lado que o PMDB apoia fica muito forte, e a capacidade do governo atrair apoio é muito grande, devido ao tamanho do Estado e à quantidade de cargos comissionados", avalia o cientista.

"Se José Serra [pré-candidato à Presidência pelo PSDB] ganhar, em 6 meses o PMDB está no governo dele", diz o cientista político.

Denúncias

Com sua capacidade de diálogo, o pemedebista passou incólume à suposta menção de seu nome em planilhas da empreiteira Camargo Corrêa, que indicariam "contabilidade paralela" realizada pela empresa.

Nelas, Temer teria sido citado 21 vezes - ao lado de quantias que chegam a US$ 345 mil - entre os anos de 1996 a 1998, segundo investigações feitas pela Polícia Federal durante a Operação Castelo de Areia, deflagrada no ano passado.

"A vida pública cobra seu preço de todos que a trilham. Infelizmente, vivi hoje o pior dia de toda minha trajetória política. Acusações vis e infames foram assacadas contra meu nome, maior patrimônio que construí com trabalho e afinco durante décadas", defendeu-se, em nota publicada à época.

Por ora, resta esperar pelas eleições que se avizinham para conferir se Dilma Rousseff conseguirá manter as rédeas do poder. A depender do resultado das urnas, contará não com o carisma e a popularidade de seu antecessor, mas sim com o poder pacificador de seu vice-presidente.

 

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