17/05/2010 - 14h56

Veja na íntegra os discursos de Serra, Dilma e Marina

Leia na íntegra os discursos de pré-candidatura à Presidência da República de:

Dilma Rousseff (PT), em 20 de fevereiro de 2010

José Serra (PSDB), em 10 de abril de 2010

Marina Silva (PV), em 16 de maio de 2010

Discurso de pré-candidatura de Dilma Rousseff (20 de fevereiro de 2010)

"Queridas companheiras,
Queridos companheiros

Para quem teve a vida sempre marcada pelo sonho e pela esperança de mudar o Brasil, este é para mim um dia extraordinário.

Meu partido --o Partido dos Trabalhadores-- me confere a honrosa tarefa de dar continuidade à magnífica obra de um grande brasileiro.

A obra de um líder --meu líder-- de quem muito eu tenho orgulho: o presidente Lula, o Lula.

Jamais pensei que a vida me reservasse tamanho desafio. Mas me sinto absolutamente preparada para enfrentá-lo - com humildade, com serenidade e com confiança.

Neste momento, ouço a voz da minha Minas Gerais, terra de minha infância e de minha juventude. Dessa Minas que me deu o sentimento de que vale a pena lutar, sim, pela liberdade e contra a injustiça. Ouço os versos de Drummond:

"Teus ombros suportam o mundo/
E ele não pesa mais do que a mão de uma criança"

Até hoje eu sinto o peso suave da mão de minha filha, quando nasceu.

Que força naquele momento ela me deu. Quanta vida ela me transmitiu. Quanta fé na humanidade me passou.
Eram, naquela época, tempos difíceis.

Ferida no corpo e na alma, fui acolhida e adotada pelos gaúchos ---pelos gaúchos generosos, solidários, insubmissos, como são os gaúchos.

Naqueles anos de chumbo, onde a tirania parecia eterna, encontrei nos versos de outro poeta --Mário Quintana-- a força necessária para seguir em frente. Mário Quintana disse:

"Todos estes que aí estão/
Atravancando o meu caminho,/
Eles passarão.
Eu passarinho."

Eles passaram e nós hoje voamos livremente.

Voamos porque nascemos para ser livres.

Sem ódio, sem revanchismo e com serena convicção afirmo que nunca mais viveremos numa gaiola, numa jaula ou numa prisão.

Hoje estamos construindo um novo país na democracia. Um país que se reencontrou consigo mesmo. Onde todos, todos, mas todos mesmo, expressam livremente suas opiniões e suas idéias.

Mas um país que não tolera mais a injustiça social. Que descobriu que só será grande e forte se for de todos.

Vejo nesta manhã --já quase tarde-- nos jovens que nos acompanham e nos mais velhos que aqui estão --um extraordinário encontro de gerações. De gerações que, como a minha, levaram nosso compromisso do país e com o país às últimas conseqüências.

Amadureci. Amadurecemos nós todos.

Amadureci na vida. No estudo. No trabalho duro. Nas responsabilidades de governo no Rio Grande do Sul e, sobretudo, aqui no governo do Brasil.

Mas esse amadurecimento não se confunde com perda de convicções.

Não perdemos a indignação frente à desigualdade social, à privação de liberdade, às tentativas de submeter nosso país.

Não sucumbimos aos modismos ideológicos. Persistimos em nossas convicções, buscando, a partir delas, construir alternativas concretas e realistas.

Continuamos movidos a sonhos. Acreditando na força do povo brasileiro, em sua capacidade de construir um mundo melhor.

A história recente mostrou que estávamos certos.

Tivemos um grande mestre --o Presidente Lula nos ensinou o caminho.

Em um país, com a complexidade e as desigualdades do Brasil, ele foi capaz de nos conduzir pelo caminho de profundas transformações sociais em um clima de paz, de respeito e fortalecimento da democracia.

Não admitimos, portanto, que alguém queira nos dar lições de liberdade. Menos ainda aqueles que não tiveram e não têm compromisso com ela.

Companheiras, Companheiros

Recebo com humildade a missão que vocês estão me conferindo. Com humildade, mas com coragem e determinação. Coragem e determinação que vêm do apoio que recebo de meu partido e de seu primeiro militante mais ilustre --o Presidente Lula.

Do apoio que espero ter dos partidos aliados que, com lealdade e competência, também são responsáveis pelos êxitos do nosso Governo. Com eles quero continuar nossa caminhada. Participo de um governo de coalizão. Quero formar um Governo de coalizão.

Estou consciente da extraordinária força que conduziu Lula à Presidência e que deu a nosso Governo o maior respaldo da história de nosso país --a força do povo brasileiro. Esta é a força que nos conduziu até aqui e que nos mantém.

A missão que me confiam não é só de um partido ou de um grupo de partidos.

Recebo-a como um mandato dos trabalhadores e de seus sindicatos.

Dos movimentos sociais.

Dos que labutam em nossos campos.

Dos profissionais liberais.

Dos intelectuais.

Dos servidores públicos.

Dos empresários comprometidos com o desenvolvimento econômico e social do país.

Dos negros. Dos índios. Dos jovens.

De todos aqueles que sofrem ainda distintas formas de discriminação.

Enfim, das mulheres.

Para muitos, elas são "metade do céu". Mas queremos mesmo é metade da terra também. Com igualdade de direitos, salários e oportunidades.

E como disse o presidente Lula, não há limite para nós mulheres. É esse, inclusive, um dos preceitos da primeira vez nós termos uma candidata mulher.

Quero com vocês --mulheres do meu país-- abrir novos espaços na vida nacional.

É com este Brasil que quero caminhar. É com ele que vamos discutir e seguir, avançando com segurança, mas com a rapidez que nossa realidade social exige sistematicamente de nós.

Nessa caminhada encontraremos milhões de brasileiros que passaram a ter comida em suas mesas e hoje fazem três refeições por dia.

Milhões que mostrarão suas carteiras de trabalho, pois têm agora emprego e melhor renda.

Milhões de homens e mulheres com seus arados e tratores cultivando a terra que lhes pertence e de onde nunca mais serão expulsos.

Milhões que nos mostrarão suas casas dignas e os refrigeradores, fogões, televisores ou computadores que puderam comprar.

Outros milhões acenderão as luzes de suas modestas casas, onde reinava a escuridão ou predominavam os candeeiros. E estes milhões de pontos luminosos pelo Brasil afora serão como uma trilha incandescente que mostra um novo caminho.

Nessa caminhada, veremos milhões de jovens mostrando seus diplomas de universidades ou de escolas técnicas com a convicção de quem abriu uma porta para o futuro, para o seu futuro.

Milhões --mas muitos milhões mesmo-- expressarão seu orgulho de viver em um país livre, justo e, sobretudo, respeitado em todo o mundo.

Muitos me perguntam por que o Brasil avançou tanto nos últimos anos. Digo que foi porque soubemos construir novos caminhos, e ter a vontade política de um grande líder, como o presidente Lula com a sua vontade de fazer trilhar, derrubando velhos dogmas que funcionavam como barreiras nos caminhos do Brasil.

O primeiro caminho é o do crescimento com distribuição de renda - o verdadeiro desenvolvimento. Provamos que distribuindo renda é que se cresce. E se cresce de forma mais rápida e sustentável.

Essa distribuição de renda permitiu construir um grande mercado de bens de consumo de massa, de consumo popular. Ele nos protegeu dos efeitos da crise mundial. O nosso consumo, o consumo do povo brasileiro sustentou o país diante do medo que se abateu sobre o sistema financeiro internacional e privado nacional.

Criamos 12 milhões de empregos formais. A renda dos trabalhadores aumentou. O salário mínimo real cresceu como nunca. Expandimos o crédito para o conjunto da sociedade. Estamos construindo um Brasil para todos. Não o Brasil para uma minoria, como fizemos sistematicamente desde os tempos da escravidão.

O segundo caminho foi o do equilíbrio macro-econômico e da redução da vulnerabilidade externa.

Eliminamos as ameaças de volta da inflação. Reduzimos a dívida em relação ao Produto Interno Bruto.

Aumentamos nossas reservas de 38 bilhões de dólares para mais de 241 bilhões. Multiplicamos por três nosso comércio exterior, praticando uma política externa soberana, que buscou diversificar mercados.

Deixamos de ser devedores internacionais e passamos à condição de credores. Hoje não pedimos dinheiro emprestado ao FMI. É o Fundo que pede dinheiro a nós.

Grande ironia é essa: os mesmos 14 bilhões de dólares que foram sacados do empréstimo, que antes o FMI nos emprestava, agora somos nós que emprestamos ao FMI.

E isso faz a diferença no que se refere à nossa postura soberana.

O terceiro caminho foi o da redução das desigualdades regionais. Invertemos nos últimos anos o que parecia uma maldição insuperável. Quando o país crescia, concentrava riqueza nos estados e regiões mais prósperos. Quando estagnava, eram os estados e regiões mais pobres que pagavam a conta.

Governantes e setores das elites viam o Norte e o Nordeste como regiões irremediavelmente condenadas ao atraso.

A vastos setores da população não restavam outras alternativas que a de afundar na miséria ou migrar para o sul em busca de oportunidades. É o que explica o inchaço das nossas grandes cidades e das médias também.

Essa situação está mudando por decisão do governo do presidente Lula que focou nessas questões, num grande conjunto de sua política de desenvolvimento.

O Governo Federal começou um processo consistente de combate às desigualdades regionais. Passou a ter confiança na capacidade do povo das regiões mais pobres. O Norte e o Nordeste receberam investimentos públicos e privados. O crescimento dessas duas regiões passou a ser sensivelmente superior ao do Brasil como um todo no período da crise.

Nós vamos aprofundar esse caminho e esse compromisso de acabar com esse desequilíbrio. O Brasil não mais será visto como um trem em que uma única locomotiva puxa todos vagões, como nos tempos da "Maria Fumaça". O Brasil de hoje é como alguns dos modernos trens de alta velocidade, onde vários vagões são como locomotivas e contribuem para que o comboio avance, se desenvolva e cresça. Nós queremos 27 locomotivas puxando o trem do Brasil.

O quarto caminho que trilhamos e continuaremos a trilhar é o da reorganização do Estado.

Alguns ideólogos chegavam a dizer que quase tudo seria resolvido pelo mercado. O resultado foi desastroso para muitos países.

Aqui, no Brasil, o desastre só não foi maior --como em outros países-- porque os brasileiros resistiram a esse desmonte e conseguiram impedir a privatização parcial e integral da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica ou de FURNAS.

Alguns falam todos os dias de "inchaço da máquina estatal". Omitem, no entanto, que estamos contratando basicamente médicos e profissionais de saúde, professores e pessoal na área da educação, diplomatas, policiais federais e servidores para as áreas de segurança, controle e fiscalização.

Escondem, também, que a recomposição do corpo de servidores do Estado está se fazendo por meio de concursos públicos.

Vamos continuar valorizando o servidor e o serviço público. Reconstituindo o Estado. Recompondo sua capacidade de planejar, gerir e induzir o desenvolvimento do país.

É muito bom lembrar que diante da crise, quando o crédito secou, não sacrificamos os investimentos públicos e privados. Ao contrário, utilizamos nossos bancos para impulsionar o desenvolvimento e a garantia de emprego no País. Por isso, quando em muitos países, o emprego caia, em 2009, aqui, nós conseguimos criar quase um milhão de empregos.

Na verdade, quando a crise mundial apenas começava, Lula disse em seu discurso na ONU em 2008:

É chegada a hora da política!

Nada mais apropriado do que essa frase. A maior prova nós demos ao mundo: o Brasil só pôde enfrentar com sucesso a crise porque tivemos políticas públicas adequadas. Soubemos articular corretamente Estado e mercado, porque colocamos o interesse público no centro de nossas preocupações.

O quinto caminho foi o de nossa presença soberana no mundo.

O Brasil não mais se curva diante dos poderosos. Sem bravatas e sem submissão, o país hoje defende seus interesses e, como diz minha mãe, se dá ao respeito. É solidário com as nações pobres e em desenvolvimento. Tem uma especial relação com a América do Sul, com a América Latina e com a África. Estreita os laços Sul-Sul, sem abandonar suas relações com os países desenvolvidos. Busca mudar instituições multilaterais obsoletas, que impedem a democratização econômica e política do mundo.

Essa presença global, e o corajoso enfrentamento de nossos problemas domésticos em um marco democrático, explicam o respeito internacional que hoje gozamos.

O sexto caminho para onde convergem todos os demais foi o do aperfeiçoamento democrático.

No passado, tivemos momentos de grande crescimento econômico. Mas faltou democracia. E nós sabemos como faltou!

Em outros momentos tivemos democracia política, mas faltou democracia econômica e social. E sabemos muito bem que quando falta democracia econômica e social, é a democracia como um todo que começa a ficar ameaçada. O país fica à mercê das soluções de força ou de aventureiros.

Hoje nós estamos crescendo e distribuindo renda, com equilíbrio macro-econômico, com expansão da democracia, com forte participação social na definição das políticas públicas e com respeito aos Direitos Humanos.

Quem duvidar do vigor da nossa democracia que leia, que escute ou que veja o que dizem os jornais livremente, o que dizem nos jornais livremente as vozes oposicionistas. Mas isso não nos perturba. Preferimos as vozes dessas oposições --ainda quando mentirosas, injustas e caluniosas-- ao silêncio das ditaduras.

Como disse o Presidente Lula, a democracia não é a consolidação do silêncio, mas a manifestação de múltiplas vozes defendendo seus direitos e interesses. Nela, vai desaparecendo o espaço para que velhos coronéis e os velhos senhores tutelem o povo. Este passa a pensar com sua cabeça e a se constituir uma nova e verdadeira opinião pública.

As instituições funcionam no país. Os poderes são independentes. A Federação é respeitada. Diferentemente de outros períodos de nossa história, o Presidente relacionou-se de forma republicana com governadores e prefeitos, não fazendo qualquer tipo de discriminação em função de suas filiações partidárias.

Não praticamos nenhum casuísmo. Basta ver a reação firme e categórica do Presidente Lula ao frustrar as tentativas de mudar a Constituição para que pudesse disputar um terceiro mandato. Não mudamos --como se fez no passado-- as regras do jogo no meio da partida.

Como todos podem ver, temos um extraordinário alicerce e uma herança bendita sobre a qual construir o terceiro Governo Democrático e Popular. Temos rumo, experiência e impulso para seguir o caminho iniciado por Lula. Não haverá retrocesso, nem aventuras. Mas podemos avançar muito mais. E muito mais rapidamente.

Queridas companheiras, queridos companheiros.

Não é meu propósito apresentar aqui um Programa de Governo.

Este Congresso aprovou as Diretrizes para um programa que será submetido ao debate com os partidos aliados e com a sociedade.

Hoje quero assumir alguns compromissos como pré-candidata, para estimular nossa reflexão e indicar como pretendemos continuar este processo iniciado há sete anos.

Vamos manter e aprofundar aquilo que é marca do Governo Lula --seu olhar social, seu compromisso social. Queremos um Brasil para todos. Nos aspectos econômicos e em suas projeções sociais, mas também um Brasil sem discriminações, sem constrangimentos. Ampliaremos e aperfeiçoaremos os programas sociais do Governo Lula, como o Bolsa Família, e implantaremos novos programas com o propósito de erradicar a miséria na década que se inicia.

Vamos dar prioridade à qualidade da educação, essencial para construir o grande país que almejamos, fundado no conhecimento e na justiça social. Mas a educação será, sobretudo, um meio de emancipação política e cultural do nosso povo. Uma forma de pleno acesso à cidadania. Daremos seguimento à transformação educacional em curso --da creche ao pós-graduação.

Os jovens serão os primeiros beneficiários da era de prosperidade que começamos a construir no primeiro governo do presidente Lula, que continuamos no segundo e que continuaremos. Nosso objetivo estratégico é oferecer a eles a oportunidade de começar a vida com segurança, liberdade, trabalho e realização pessoal.

No Brasil temos hoje 50 milhões de jovens, entre os 15 e os 29 anos de idade. Mais de um quarto da nossa população. É para eles que estamos construindo um Brasil melhor. Eles têm direito a um futuro melhor.

O Brasil precisa muito da juventude. De profissionais qualificados. De mulheres e homens bem formados.
Isto se faz com escolas que propiciem boa formação teórica e técnica, com professores contratados, concursados, bem treinados e bem remunerados. Isso não é inchaço da máquina, é imprescindível para todos. Com bolsas de estudo e apoio para que os alunos não sejam obrigados a abandonar a escola. Com banda larga gratuita para todos, computadores para os professores, salas de aula informatizadas para os estudantes. Com acesso a estágios, cursos de especialização e ajuda para entrar no mercado de trabalho.

Serão esses jovens bem formados e preparados que vão nos conduzir à sociedade do conhecimento nas próximas décadas.

Protegeremos as crianças e os mais jovens da violência, do assédio das drogas, da imposição do trabalho em detrimento da formação escolar e acadêmica.

As crianças e os mais jovens devem ser, sim, protegidos pelo Estado, desde a infância, para que possam se realizar, em sua plenitude, como brasileiros.

Companheiros e companheiras,

Um País se mede pelo grau de proteção que dá a suas crianças. São elas a essência do nosso futuro. E é na infância que a desigualdade social cobra seu preço mais alto. Crianças desassistidas do nascimento aos cinco anos serão jovens e adultos prejudicados nas suas aptidões e oportunidades. Cuidar delas adequadamente é combater a desigualdade social na raiz.

Vamos ampliar e disseminar por todo o Brasil a rede de creches, pré-escolas e escolas infantis. Um tipo de creche onde a criança tem acesso à socialização pedagógica, aos bens culturais e aos cuidados de nutrição e saúde indispensáveis ao seu pleno desenvolvimento. E o governo federal vem fazendo isso. E é isso é o que está previsto no PAC 2.

Vamos resolver os problemas da saúde, pois temos um incomparável modelo institucional --o SUS. Com mais recursos e melhor gestão vamos aprimorar a eficácia do sistema. Vamos reforçar as redes de atenção à saúde e unificar as ações entre os níveis de governo. Darei importância às Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs --pretendemos chegar até 2010, até o fim do governo do presidente Lula, a 500 UPAs. Daremos prioridade também ao SAMU, aos hospitais públicos e conveniados, aos programas Saúde da Família, Brasil Sorridente, que o presidente Lula tanto se empenha para implantar, e Farmácia Popular.

Vamos cuidar das cidades brasileiras. Colocar todo o empenho do Governo Federal, junto com estados e municípios, para promover uma profunda reforma urbana, que beneficie prioritariamente as camadas mais desprotegidas.

Vamos melhorar a habitação e vamos perseguir a universalização do saneamento. Implantar transporte seguro, barato e eficiente. Tudo isso está previsto no chamado PAC 2.

Vamos reforçar, também, os programas de segurança pública.

A conclusão do PAC 1 e a implementação do PAC 2, junto com a continuidade do programa Minha Casa, Minha Vida serão decisivos para realizar esse compromisso. Serão decisivos para melhorar as condições de vida dos brasileiros. Naquilo que é talvez uma das maiores chagas da história do Brasil, que é o fato de uma parte da população ter sido obrigada a morar em favelas, em áreas de riscos, como beiras de córregos e, quando caem as grandes chuvas, são eles os mais afetados e os que mais sofrem conseqüências dramáticas, incluindo a morte.

Vamos fortalecer a proteção de nosso meio ambiente. Continuaremos reduzindo o desmatamento e impulsionando a matriz energética mais limpa do mundo. Vamos manter a vanguarda na produção de biocombustíveis e desenvolver nosso potencial hidrelétrico. Desenvolver sem agredir o meio ambiente, com usinas a fio d'água e utilizando o modelo de usinas-plataforma. Aprofundaremos nosso zoneamento agro-ecológico. Nossas iniciativas explicam a liderança que alcançamos na Conferência sobre a Mudança do Clima, em Copenhague. As metas voluntárias de Copenhague, assumidas pelo Brasil, serão cumpridas, haja ou não acordo internacional. Este é o nosso compromisso haja, ou não, acordo internacional. Esse é o compromisso do presidente Lula e o meu compromisso.

Vamos aprofundar os avanços já alcançados em nossa política industrial e agrícola, com ênfase na inovação, no aperfeiçoamento dos mecanismos de crédito, aumentando nossa produtividade.

Agregar valor a nossas riquezas naturais é fundamental numa política de geração de empregos no País. Tudo que puder ser produzido no Brasil deve ser ---e será-- produzido no Brasil. Sondas, plataformas, navios e equipamentos aqui produzidos, para a exploração soberana do Pré-sal. Essa decisão vai gerar emprego e renda para os brasileiros. Emprego e renda que virão também da produção em indústrias brasileiras de fertilizantes, combustíveis e petroquímicos derivados do óleo bruto. Assim, com este modelo soberano e nacional, a exploração do Pré-sal dará diversidade e sofisticação à nossa indústria.

Os recursos do Pré-sal, aplicados no Fundo Social, sustentarão um grande avanço em nossa educação e na pesquisa científica e tecnológica. Recursos que também serão destinados para o combate à pobreza, para a defesa do meio ambiente e para a nossa cultura.

Vamos continuar mostrando ao mundo que é possível compatibilizar o desenvolvimento da agricultura familiar e do agronegócio. Assegurar crédito, assistência técnica e mercado aos pequenos produtores e, ao mesmo tempo, apoiar os grandes produtores, que contribuem decisivamente para o superávit comercial brasileiro.

Todas as nossas ações de governo têm, sem sombra de dúvida, uma premissa: a preservação da estabilidade macro-econômica.

Vamos manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e a política de câmbio flutuante.

Vamos seguir dando transparência aos gastos públicos e aperfeiçoando seus mecanismos de controle.

Vamos combater a corrupção, utilizando todos os mecanismos institucionais, como fizemos até agora.

Vamos concretizar, junto com o Congresso, as reformas institucionais que não puderam ser completadas ou foram apenas parcialmente implantadas, como a reforma política e a tributária.

Uma coisa é estratégica. Vamos aprofundar nossa postura soberana no complexo mundo de hoje. É como diz o presidente Lula: "quem não se respeita, não pode ser respeitado". Seremos intransigentes na defesa da paz mundial e de uma ordem econômica e política mais justa.

Enfim, vamos governar para todos. Com diálogo, tolerância e combatendo as desigualdades sociais e regionais.

Companheiras e companheiros,

Faremos na nossa campanha um debate de idéias, com civilidade e respeito à inteligência política dos brasileiros e das brasileiras. Um debate voltado para o futuro.

Nós somos aqueles que temos o que apresentar.

Recebo essa missão especialmente como um mandato das mulheres brasileiras, como mais uma etapa no avanço de nossa participação política e como mais uma vitória contra a discriminação secular que nos foi imposta. Gostaria de repetir: quero com vocês, mulheres do meu País, abrir novos espaços na vida nacional.

Queridas amigas e amigos

No limiar de uma nova etapa de minha vida, quando sou chamada a tamanha responsabilidade, penso em todos aqueles que fizeram e fazem parte de minha trajetória pessoal.

Em meus queridos pais.

Em minha filha, meu genro e em meu futuro neto ou neta.

Nos tantos amigos que fiz.

Nos companheiros com quem dividi minha vida.

Mas não posso deixar de ter uma lembrança especial para aqueles que não mais estão conosco. Para aqueles que caíram pelos nossos ideais. Eles fazem parte de minha história.

Mais que isso: eles são parte da história do Brasil.

Quero recordar três companheiros que se foram na flor da idade.

Carlos Alberto Soares de Freitas.

Beto, você ia adorar estar aqui conosco.

Maria Auxiliadora Lara Barcelos

Dodora, você está aqui no meu coração. Mas também aqui com cada um de nós.

Iara Yavelberg.

Iara, que falta fazem guerreiras como você.

O exemplo deles me dá força para assumir esse imenso compromisso.

A mesma força que vem de meus companheiros de partido, sobretudo daquele que é nosso primeiro companheiro --o presidente Lula.

Este ato de proclamação de minha candidatura tem uma significação que transcende seu aspecto eleitoral.
Estamos hoje concluindo o Quarto Congresso do Partido dos Trabalhadores.

Mais do que isso: estamos celebrando os Trinta Anos do PT.

Trinta anos desta nova estrela que veio ocupar lugar fundamental no céu da política brasileira.

Em um período histórico relativamente curto mudamos a cara de nosso sofrido e querido Brasil.

O PT cumpriu essa tarefa porque não se afastou de seus compromissos originais. Soube evoluir. Mudou, quando foi preciso.

Mas não mudou de lado.

Até chegar à Presidência do país, o PT dirigiu cidades e estados, gerando práticas inovadoras políticas, econômicas e sociais que o mundo observa, admira e muitas vezes reproduz. Fizemos isso, preservando e fortalecendo a democracia.

Mas, a principal inovação que o PT trouxe para a política brasileira foi colocar o povo --seus interesses, aspirações e esperanças-- no centro de suas ações.

Olhando para este magnífico plenário o que vejo é a cara negra, branca, índia e mestiça do povo brasileiro.

Esta é a cara do meu partido.

O rosto daqueles e daquelas que acrescentam à sua jornada de trabalho, uma segunda jornada - ou terceira, no caso das mulheres: a jornada da militância.

Quero dizer a todos vocês que tenho um enorme orgulho de ser petista. De militar no mesmo partido de vocês. De compartilhar com Lula essa militância.

Companheiros e companheiras,

Estou aceitando a honrosa missão que vocês me delegam com tranqüilidade e determinação.

Sei que não estou sozinha.

A tarefa de continuar mudando o Brasil é uma tarefa de milhões. Somos milhões.

Vamos todos juntos, até a vitória.

Viva o povo brasileiro!

 

Discurso de pré-candidatura de José Serra (10 de abril de 2010)

Venho hoje, aqui, falar do meu amor pelo Brasil; falar da minha vida; falar da minha experiência; falar da minha fé; falar das minhas esperanças no Brasil. E mostrar minha disposição de assumir esta caminhada. Uma caminhada que vai ser longa e difícil mas que com a ajuda de Deus e com a força do povo brasileiro será com certeza vitoriosa.

Alguns dias atrás, terminei meu discurso de despedida do Governo de São Paulo afirmando minha convicção de que o Brasil pode mais. Quatro palavras, em meio a muitas outras. Mas que ganharam destaque porque traduzem de maneira simples e direta o sentimento de milhões de brasileiros: o de que o Brasil, de fato, pode mais. E é isto que está em jogo nesta hora crucial!

Nos últimos 25 anos, o povo brasileiro alcançou muitas conquistas: retomamos a Democracia, arrancamos nas ruas o direito de votar para presidente, vivemos hoje num país sem censura e com uma imprensa livre. Somos um Estado de Direito Democrático. Fizemos uma nova Constituição, escrita por representantes do povo. Com o Plano Real, o Brasil transformou sua economia a favor do povo, controlou a inflação, melhorou a renda e a vida dos mais pobres, inaugurou uma nova Era no Brasil. Também conquistamos a responsabilidade fiscal dos governos. Criamos uma agricultura mais forte, uma indústria eficiente e um sistema financeiro sólido. Fizemos o Sistema Único de Saúde, conseguimos colocar as crianças na escola, diminuímos a miséria, ampliamos o consumo e o crédito, principalmente para os brasileiros mais pobres. Tudo isso em 25 anos. Não foram conquistas de um só homem ou de um só Governo, muito menos de um único partido. Todas são resultado de 25 anos de estabilidade democrática, luta e trabalho. E nós somos militantes dessa transformação, protagonistas mesmo, contribuímos para essa história de progresso e de avanços do nosso País. Nós podemos nos orgulhar disso.

Mas, se avançamos, também devemos admitir que ainda falta muito por fazer. E se considerarmos os avanços em outros países e o potencial do Brasil, uma conclusão é inevitável: o Brasil pode ser muito mais do que é hoje.

Mas para isso temos de enfrentar os problemas nacionais e resolvê-los, sem ceder à demagogia, às bravatas ou à politicagem. E esse é um bom momento para reafirmarmos nossos valores. Começando pelo apreço à Democracia Representativa, que foi fundamental para chegarmos aonde chegamos. Devemos respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais afrontá-la.

Democracia e Estado de Direito são valores universais, permanentes, insubstituíveis e inegociáveis. Mas não são únicos. Honestidade, verdade, caráter, honra, coragem, coerência, brio profissional, perseverança são essenciais ao exercício da política e do Poder. É nisso que eu acredito e é assim que eu ajo e continuarei agindo. Este é o momento de falar claro, para que ninguém se engane sobre as minhas crenças e valores. É com base neles que também reafirmo: o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais.

Governos, como as pessoas, têm que ter alma. E a alma que inspira nossas ações é a vontade de melhorar a vida das pessoas que dependem do estudo e do trabalho, da Saúde e da Segurança. Amparar os que estão desamparados.

Sabem quantas pessoas com alguma deficiência física existem no Brasil? Mais de 20 milhões – a esmagadora maioria sem o conforto da acessibilidade aos equipamentos públicos e a um tratamento de reabilitação. Os governos, como as pessoas, têm que ser solidários com todos e principalmente com aqueles que são mais vulneráveis.

Quem governa, deve acreditar no planejamento de suas ações. Cultivar a austeridade fiscal, que significa fazer melhor e mais com os mesmos recursos. Fazer mais do que repetir promessas. O governo deve ouvir a voz dos trabalhadores e dos desamparados, das mulheres e das famílias, dos servidores públicos e dos profissionais de todas as áreas, dos jovens e dos idosos, dos pequenos e dos grandes empresários, do mercado financeiro, mas também do mercado dos que produzem alimentos, matérias-primas, produtos industriais e serviços essenciais, que são o fundamento do nosso desenvolvimento, a máquina de gerar empregos, consumo e riqueza.

O governo deve servir ao povo, não a partidos e a corporações que não representam o interesse público. Um governo deve sempre procurar unir a nação. De mim, ninguém deve esperar que estimule disputas de pobres contra ricos, ou de ricos contra pobres. Eu quero todos, lado a lado, na solidariedade necessária à construção de um país que seja realmente de todos.

Ninguém deve esperar que joguemos estados do Norte contra estados do Sul, cidades grandes contra cidades pequenas, o urbano contra o rural, a indústria contra os serviços, o comércio contra a agricultura, azuis contra vermelhos, amarelos contra verdes. Pode ser engraçado no futebol. Mas não é quando se fala de um País. E é deplorável que haja gente que, em nome da política, tente dividir o nosso Brasil.

Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma Nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos brasileiros e não pela sua divisão. Pode haver uma desavença aqui outra acolá, como em qualquer família. Mas vamos trabalhar somando, agregando. Nunca dividindo. Nunca excluindo. O Brasil tem grandes carências. Não pode perder energia com disputas entre brasileiros. Nunca será um país desenvolvido se não promover um equilíbrio maior entre suas regiões. Entre a nossa Amazônia, o Centro Oeste e o Sudeste. Entre o Sul e o Nordeste. Por isso, conclamo: Vamos juntos. O Brasil pode mais. O desenvolvimento é uma escolha. E faremos essa escolha. Estamos preparados para isso.

Ninguém deve esperar que joguemos o governo contra a oposição, porque não o faremos. Jamais rotularemos os adversários como inimigos da pátria ou do povo. Em meio século de militância política nunca fiz isso. E não vou fazer. Eu quero todos juntos, cada um com sua identidade, em nome do bem comum.

Na Constituinte fiz a emenda que permitiu criar o FAT, financiar e fortalecer o BNDES e tirar do papel o seguro-desemprego – que hoje beneficia 10 milhões de trabalhadores. Todos os partidos e blocos a apoiaram. No ministério da Saúde do governo Fernando Henrique tomei a iniciativa de enviar ou refazer e impulsionar seis projetos de lei e uma emenda constitucional – a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e da Agência Nacional de Saúde, a implantação dos genéricos, a proibição do fumo nos aviões e da propaganda de cigarros, a regulamentação dos planos de saúde, o combate à falsificação de remédios e a PEC 29, que vinculou recursos à Saúde nas três esferas da Federação - todos, sem exceção, aprovados pelos parlamentares do governo e da oposição. É assim que eu trabalho: somando e unindo, visando ao bem comum. Os membros do Congresso que estão me ouvindo, podem testemunhar: suas emendas ao orçamento da Saúde eram acolhidas pela qualidade, nunca devido à sua filiação partidária.

Se o povo assim decidir, vamos governar com todas e com todos, sem discriminar ninguém. Juntar pessoas em vez de separá-las; convidá-las ao diálogo, em vez de segregá-las; explicar os nossos propósitos, em vez de hostilizá-las. Vamos valorizar o talento, a honestidade e o patriotismo em vez de indagar a filiação partidária.


Minha história de vida e minhas convicções pessoais sempre estiveram comprometidas com a unidade do país e com a unidade do seu povo. Sou filho de imigrantes, morei e cresci num bairro de trabalhadores que vinham de todas as partes, da Europa, do Nordeste, do Sul. Todos em busca de oportunidade e de esperança.

A liderança no movimento estudantil me fez conhecer e conviver com todo o Brasil logo ao final da minha adolescência. Aliás, na época, aprendi mesmo a fazer política no Rio, em Minas, na Bahia e em Pernambuco, aos 21 anos de idade. O longo exílio me levou sempre a enxergar e refletir sobre o nosso país como um todo.

Minha história pessoal está diretamente vinculada à valorização do trabalho, à valorização do esforço, à valorização da dedicação. Lembro-me do meu pai, um modesto comerciante de frutas no mercado municipal: doze horas de jornada de trabalho nos dias úteis, dez horas no sábado, cinco horas aos domingos. Só não trabalhava no dia 1 de janeiro. Férias? Um luxo, pois deixava de ganhar o dinheiro da nossa subsistência. Um homem austero, severo, digno. Seu exemplo me marcou na vida e na compreensão do que significa o amor familiar de um trabalhador: ele carregava caixas de frutas para que um dia eu pudesse carregar caixas de livros.

E eu me esforço para tornar digno o trabalho de todo homem e mulher, do ser humano como ele foi. Porque vejo a imagem de meu pai em cada trabalhador. Eu a vi outro dia, na inauguração do Rodoanel, quando um dos operários fez questão de me mostrar com orgulho seu nome no mural que eu mandei fazer para exibir a identidade de todos os trabalhadores que fizeram aquela obra espetacular. Por que o mural? Por justo reconhecimento e porque eu sabia que despertaria neles o orgulho de quem sabe exercer a profissão. Um momento de revelação a si mesmos de que eles são os verdadeiros construtores nesta nação.

Eu vejo em cada criança na escola o menino que eu fui, cheio de esperanças, com o peito cheio de crença no futuro. Quando prefeito e quando governador, passei anos indo às escolas para dar aula (de verdade) à criançada da quarta série. Ia reencontrar-me comigo mesmo. Porque tudo o que eu sou aprendi em duas escolas: a escola pública e a escola da vida pública. Aliás, e isto é um perigo dizer, com freqüência uso senhas de computador baseadas no nome de minhas professoras no curso primário. E toda vez que escrevo lembro da sua fisionomia, da sua voz, do seu esforço, e até das broncas, de um puxão de orelhas, quando eu fazia alguma bagunça.

Mas é por isso tudo que sempre lutei e luto tanto pela educação dos milhões de filhos do Brasil. No país com que sonho para os meus netos, o melhor caminho para o sucesso e a prosperidade será a matrícula numa boa escola, e não a carteirinha de um partido político. E estou convencido de uma coisa: bons prédios, serviços adequados de merenda, transporte escolar, atividades esportivas e culturais, tudo é muito importante e deve ser aperfeiçoado. Mas a condição fundamental é a melhora do aprendizado na sala de aula, propósito bem declarado pelo governo, mas que praticamente não saiu do papel. Serão necessários mais recursos. Mas pensemos no custo para o Brasil de não ter essa nova Educação em que o filho do pobre freqüente uma escola tão boa quanto a do filho do rico. Esse é um compromisso.

É preciso prestar atenção num retrocesso grave dos últimos anos: a estagnação da escolaridade entre os adolescentes. Para essa faixa de idade, embora não exclusivamente para ela, vamos turbinar o ensino técnico e profissional, aquele que vira emprego. Emprego para a juventude, que é castigada pela falta de oportunidades de subir na vida. E vamos fazer de forma descentralizada, em parcerias com estados e municípios, o que garante uma vinculação entre as escolas técnicas e os mercados locais, onde os empregos são gerados. Ensino de qualidade e de custos moderados, que nos permitirá multiplicar por dois ou três o número de alunos no país inteiro, num período de governo. Sim, meus amigos e amigas, o Brasil pode mais.

Podemos e devemos fazer mais pela saúde do nosso povo. O SUS foi um filho da Constituinte que nós consolidamos no governo passado, fortalecendo a integração entre União, Estados e Municípios; carreando mais recursos para o setor; reduzindo custos de medicamentos; enfrentando com sucesso a barreira das patentes, no Brasil e na Organização Mundial do Comércio; ampliando o sistema de atenção básica e o Programa Saúde da Família em todo o Brasil; prestigiando o setor filantrópico sério, com quem fizemos grandes parcerias, dos hospitais até a prevenção e promoção da Saúde, como a Pastoral da Criança; fazendo a melhor campanha contra a AIDS do mundo em desenvolvimento; organizando os mutirões; fazendo mais vacinações; ampliando a assistência às pessoas com deficiência; cerceando o abuso do incentivo ao cigarro e ao tabaco em geral. E muitas outras coisas mais. De fato, e mais pelo que aconteceu na primeira metade do governo, a Saúde estagnou ou avançou pouco. Mas a Saúde pode avançar muito mais. E nós sabemos como fazer isso acontecer.

Saúde é vida, Segurança também. Por isso, o governo federal deve assumir mais responsabilidades face à gravidade da situação. E não tirar o corpo fora porque a Constituição atribui aos governos estaduais a competência principal nessa área. Tenho visto gente criticar o Estado Mínimo, o Estado Omisso. Concordo. Por isso mesmo, se tem área em que o Estado não tem o direito de ser mínimo, de se omitir, é a segurança pública. As bases do crime organizado estão no contrabando de armas e de drogas, cujo combate efetivo cabe às autoridades federais . Ou o governo federal assume de vez, na prática, a coordenação efetiva dos esforços nacionalmente, ou o Brasil não tem como ganhar a guerra contra o crime e proteger nossa juventude.

Qual pai ou mãe de família não se sente ameaçado pela violência, pelo tráfico e pela difusão do uso das drogas? As drogas são hoje uma praga nacional. E aqui também o Governo tem de investir em clínicas e programas de recuperação para quem precisa e não pode ser tolerante com traficantes da morte. Mais ainda se o narcotráfico se esconde atrás da ideologia ou da política. Os jovens são as grandes vítimas. Por isso mesmo, ações preventivas, educativas, repressivas e de assistência precisam ser combinadas com a expansão da qualificação profissional e a oferta de empregos.

Uma coisa que precisa acabar é a falsa oposição entre construir escolas e construir presídios. Muitas vezes, essa é a conversa de quem não faz nem uma coisa nem outra. É verdade que nossos jovens necessitam de boas escolas e de bons empregos, mas se o indivíduo comete um crime ele deve ser punido. Existem propostas de impor penas mais duras aos criminosos. Não sou contra, mas talvez mais importante do que isso seja a garantia da punição. O problema principal no Brasil não são as penas supostamente leves. É a quase certeza da impunidade. Um país só tem mais chance de conseguir a paz quando existe a garantia de que a atitude criminosa não vai ficar sem castigo.

Eu quero que meus netos cresçam num país em que as leis sejam aplicadas para todos. Se o trabalhador precisa cumprir a lei, o prefeito, o governador e o presidente da República também tem essa obrigação. Em nosso país, nenhum brasileiro vai estar acima da lei, por mais poderoso que seja. Na Segurança e na Justiça, o Brasil também pode mais.

Lembro que os investimentos governamentais no Brasil, como proporção do PIB, ainda são dos mais baixos do mundo em desenvolvimento. Isso compromete ou encarece a produção, as exportações e o comércio. Há uma quase unanimidade a respeito das carências da infra-estrutura brasileira: no geral, as estradas não estão boas, faltam armazéns, os aeroportos vivem à beira do caos, os portos, por onde passam nossas exportações e importações, há muito deixaram de atender as necessidades. Tem gente que vê essas carências apenas como um desconforto, um incômodo. Mas essa é uma visão errada. O PIB brasileiro poderia crescer bem mais se a infra-estrutura fosse adequada, se funcionasse de acordo com o tamanho do nosso país, da população e da economia.

Um exemplo simples: hoje, custa mais caro transportar uma tonelada de soja do Mato Grosso ao porto de Paranaguá do que levar a mesma soja do porto brasileiro até a China. Um absurdo. A conseqüência é menos dinheiro no bolso do produtor, menos investimento e menos riqueza no interior do Brasil. E sobretudo menos empregos.

Temos inflação baixa, mais crédito e reservas elevadas, o que é bom, mas para que o crescimento seja sustentado nos próximos anos não podemos ter uma combinação perversa de falta de infra-estrutura, inadequações da política macroeconômica, aumento da rigidez fiscal e vertiginoso crescimento do déficit do balanço de pagamentos. Aliás, o valor de nossas exportações cresceu muito nesta década, devido à melhora dos preços e da demanda por nossas matérias primas. Mas vai ter de crescer mais. Temos de romper pontos de estrangulamento e atuar de forma mais agressiva na conquista de mercados. Vejam que dado impressionante: nos últimos anos, mais de 100 acordos de livre comércio foram assinados em todo o mundo. São um instrumento poderoso de abertura de mercados. Pois o Brasil, junto com o MERCOSUL, assinou apenas um novo acordo (com Israel), que ainda não entrou em vigência!

Da mesma forma, precisamos tratar com mais seriedade a preservação do meio-ambiente e o desenvolvimento sustentável. Repito aqui o que venho dizendo há anos: é possível, sim, fazer o país crescer e defender nosso meio ambiente, preservar as florestas, a qualidade do ar a contenção das emissões de gás carbônico. É dever urgente dar a todos os brasileiros saneamento básico, que também é meio ambiente. Água encanada de boa qualidade, esgoto coletado e tratado não são luxo. São essenciais. São Saúde. São cidadania. A economia verde é, ao contrário do que pensam alguns, uma possibilidade promissora para o Brasil. Temos muito por fazer e muito o que progredir, e vamos fazê-lo.

Também não são incompatíveis a proteção do meio ambiente e o dinamismo extraordinário de nossa agricultura, que tem sido a galinha de ovos de ouro do desenvolvimento do país, produzindo as alimentos para nosso povo, salvando nossas contas externas, contribuindo para segurar a inflação e ainda gerar energia! Estou convencido disso e vamos provar o acerto dessa convicção na prática de governo. Sabem por quê? Porque sabemos como fazer e porque o Brasil pode mais!

O Brasil está cada vez maior e mais forte. É uma voz ouvida com respeito e atenção. Vamos usar essa força para defender a autodeterminação dos povos e os direitos humanos, sem vacilações. Eu fui perseguido em dois golpes de estado, tive dois exílios simultâneos, do Brasil e do Chile. Sou sobrevivente do Estádio Nacional de Santiago, onde muitos morreram. Por algum motivo, Deus permitiu que eu saísse de lá com vida. Para mim, direitos humanos não são negociáveis. Não cultivemos ilusões: democracias não têm gente encarcerada ou condenada à forca por pensar diferente de quem está no governo. Democracias não têm operários morrendo por greve de fome quando discordam do regime.

Nossa presença no mundo exige que não descuidemos de nossas Forças Armadas e da defesa de nossas fronteiras. O mundo contemporâneo é desafiador. A existência de Forças Armadas treinadas, disciplinadas, respeitadoras da Constituição e das leis foi uma conquista da Nova República. Precisamos mantê-las bem equipadas, para que cumpram suas funções, na dissuasão de ameaças sem ter de recorrer diretamente ao uso da força e na contribuição ao desenvolvimento tecnológico do país.

Como falei no início, esta será uma caminhada longa e difícil. Mas manteremos nosso comportamento a favor do Brasil. Às provocações, vamos responder com serenidade; às falanges do ódio que insistem em dividir a nação vamos responder com nosso trabalho presente e nossa crença no futuro. Vamos responder sempre dizendo a verdade. Aliás, quanto mais mentiras os adversários disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles.

O Brasil não tem dono. O Brasil pertence aos brasileiros que trabalham; aos brasileiros que estudam; aos brasileiros que querem subir na vida; aos brasileiros que acreditam no esforço; aos brasileiros que não se deixam corromper; aos brasileiros que não toleram os malfeitos; aos brasileiros que não dispõem de uma "boquinha"; aos brasileiros que exigem ética na vida pública porque são decentes; aos brasileiros que não contam com um partido ou com alguma maracutaia para subir na vida.

Este é o povo que devemos mobilizar para a nossa luta; este é o povo que devemos convocar para a nossa caminhada; este é o povo que quer, porque assim deve ser, conservar as suas conquistas, mas que anseia mais. Porque o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais. E, por isso, tem de estar unido. O Brasil é um só.

Pretendo apresentar ao Brasil minha história e minhas idéias. Minha biografia. Minhas crenças e meus valores. Meu entusiasmo e minha confiança. Minha experiência e minha vontade.

Vou lhes contar uma coisa. Desde cedo, quando entrei na vida pública, descobri qual era a motivação maior, a mola propulsora da atividade política. Para mim, a motivação é o prazer. A vida pública não é sacrifício, como tantos a pintam, mas sim um trabalho prazeroso. Só que não é o mero prazer do desfrute. É o prazer da frutificação. Não é um sonho de consumo. É um sonho de produção e de criação. Aprendi desde cedo que servir é bom, nos faz felizes, porque nos dá o sentido maior de nossas existências, porque nos traz uma sensação de bem estar muito mais profunda do que quaisquer confortos ou vantagens propiciados pelas posições de Poder. Aprendi que nada se compara à sensação de construir algo de bom e duradouro para a sociedade em que vivemos, de descobrir soluções para os problemas reais das pessoas, de fazer acontecer.

O grande escritor mineiro Guimarães Rosa, escreveu: O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Concordo. É da coragem que a vida quer que nós precisamos agora.

Coragem para fazer um projeto de País, com sonhos, convicções e com o apoio da maioria.

Juntos, vamos construir o Brasil que queremos, mais justo e mais generoso. Eleição é uma escolha sobre o futuro. Olhando pra frente, sem picuinhas, sem mesquinharias, eu me coloco diante do Brasil, hoje, com minha biografia, minha história política e com . esperança no nosso futuro. E determinado a fazer a minha parte para construir um Brasil melhor. Quero ser o presidente da união. Vamos juntos, brasileiros e brasileiras, porque o Brasil pode mais.

Discurso de pré-candidatura de Marina Silva (16 de maio de 2010)

Pessoal, quero agradecer a Deus por estarmos aqui.

Estou muito feliz, mas preciso dizer muitas coisas: tenho que fazer o manejo sustentável da minha voz. Ainda estou um pouco rouca, por conta de um mal entendido, ocorrido há alguns dias.

Eduardo Rombauer, do grupo de militantes novos da civilização, que usa muito a internet, diz que a minha campanha tem que ser viral. Nós concordamos, inteiramente. Mas, não precisa ser viral na garganta! E os vírus me atacaram a garganta. Então, tenho que fazer o uso sustentável da minha voz.

A nominata é grande, porém, ainda insuficiente para nominar todas as pessoas responsáveis por esta festa, que não está acontecendo apenas aqui, mas, no coração do Brasil.

Vindo de lá para cá, quero cumprimentar meu companheiro Sérgio Xavier, nosso candidato ao governo de Pernambuco.

À amiga e irmã, que nos acalenta com sua voz, Adriana Calcanhoto. Obrigada por sua presença. Foi um presente lindo o que você me deu, um lindo colar xavante para que colocar em meu pescoço.

Quero cumprimentar o meu amigo e conselheiro, um ombro poético, que nem toda mulher pode ter, Thiago de Melo. Muito obrigado por esse ombro. No Ministério do Meio Ambiente, qualquer coisa que me fizessem, o Thiago me ligava e dizia: “Nega, quero que tu saibas que estou contigo!”.

Meu companheiro Gilberto Gil, cantor, poeta. O Gil fez um discurso em forma de poesia. Se estiver gravado, vocês vão ver que é mais poesia do que discurso. Muito obrigada, Gil, por estares aqui, comigo, com o mesmo coração, a mesma raça e graça.

Quero cumprimentar meu professor, futuro governador do Estado do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira! Digo com orgulho e vaidade que o Fernando foi meu professor, me ensinando os rudimentos da ecologia, indiretamente. O bom professor é aquele que ensina, torna alguém um ampliador de conhecimento. E o ampliador do conhecimento forma outras pessoas! Ele ensinou a Chico Mendes, e o Chico me ensinou. Obrigado, Gabeira. Você vai ser o governador do Rio de Janeiro porque o Rio de Janeiro merece!

Quero cumprimentar, também, ao presidente Nacional do Partido Verde, o companheiro Penna, agradecendo pelo acolhimento que me tem sido dado pelo PV por toda essa família Verde.

Quero cumprimentar, também, minha companheira, a vereadora Aspásia Camargo, essa mulher a quem aprendi a admirar no Ministério do Meio Ambiente, uma mulher competente e comprometida com o Brasil e com o Rio de Janeiro.

Meu amigo e companheiro Ricardo Young, nosso candidato ao Senado por São Paulo. Se Deus quiser, vai ser o primeiro senador Verde do Estado de São Paulo, para receber das minhas mãos a faixa senatorial, se é que existe uma faixa senatorial.

Quero cumprimentar ao meu amigo e grande companheiro, Fábio Feldman, responsável por um dos sonhos que eu e Chico Mendes acalentávamos lá no Acre: que as populações tradicionais tivessem parte na Constituição Federal. Fábio, se Deus quiser, você vai ser governador de São Paulo.

Meu amigo, companheiro e irmão, Alfredo Sirkis, esse comandante polonês, com um coração de criança! Obrigada, por ser meu coordenador da pré-campanha. O Alfredo é emoção pura.

Quero cumprimentar, também, meu companheiro, o coordenador-adjunto da pré-campanha, que esteve comigo, foi meu braço direito e esquerdo (no Ministério do Meio Ambiente), meu centroavante, e não sei o que mais na linguagem futebolística, o João Paulo Capobianco.

Cumprimento meus parceiros de jornada. Não dá para nominar a todos, mas não poderia deixar de falar no professor Paulo Sandroni, da Fundação Getulio Vargas. Sei que posso te chamar de Sandroni, já tenho 52 anos, mas a reverencia me faz chamá-lo de professor. Tenho orgulho de tê-lo como coordenador do Programa de Governo do Partido Verde e do povo brasileiro.

Minha amiga Neca Setúbal, como carinhosamente aprendi a chamar esta amiga com o Guilherme, a Maria Cecília. Ela se dispôs a ser a coordenadora da parte de educação do Programa do PV. Foi uma coisa muito bonita porque descobri o trabalho que ela já faz a mais 30 anos, e que eu faço no socioambientalismo.

E por que esses trabalhos se encontram neste momento? Porque são trajetórias que se cruzam. Eu e Neca estamos fadadas, condenadas por nossas condições: a pobre menina pobre, filha dos excluídos entre os excluídos, seringueiros da Amazônia; e a Neca, uma pobre menina rica. Mas, ela é muito mais do que isso! Ela é uma rica educadora que se fez pela educação, como estou aqui porque entrei pela fresta da educação.

Olha o que acontece quando a gente aproveita as oportunidades! Do seringal à USP conseguimos desenvolver as nossas potencialidades!

Quero, também, cumprimentar a minha companheira, Regina Gonçalves, coordenadora do Programa de Mulheres do Partido Verde. O meu companheiro Marcos Barros. E, na pessoa do Marcos, cumprimento a todos que entraram no PV junto comigo. Quero cumprimentar meu companheiro Marco Antônio Mroz, presidente da nossa Fundação Verde Hebert Daniel, e muitos outros companheiros que não tenho como nominar, como Mauricio; Rogério, que turvou esses lindos olhos verdes ao ouvir a fala de Gil.

Bem, companheiros, sintam-se todos nominados. Mas não poderia deixar de nominar duas pessoas, que estão aqui representando, muito especialmente, a minha família: minhas duas filhas, Moara e Mayara. Podem se levantar, gostaria de ver vocês de pé, simbolizando as futuras gerações deste país! Obrigada, minhas queridas, por cuidarem de mim, para que, juntas, possamos cuidar do Brasil!

Quero voltar ao meu amigo, companheiro e irmão, Guilherme Leal. Durante esse tempo todo, conversamos sobre a vice, mas há muito tempo temos trabalho e conversado sobre o Brasil.

Começamos a prestar a atenção um ao outro, no final na década de 90. Ele como empresário, com suas responsabilidades empresariais, sociais e ambientais. E está trazendo sua experiência, sua bagagem para esse projeto. Eu, como militante da luta socioambiental popular.

Como essas duas trajetórias se cruzam, se encontram, ainda que caminhando em direções diferentes, durante algum tempo, apenas do ponto de vista dos lugares em que estávamos? Cruzaram-se na vontade, nos propósitos.

Por isso, tenho muito orgulho, Guilherme, de ter você como vice-presidente na nossa chapa, no nosso projeto, neste movimento, simbolizando essa aliança, que chamo de núcleos vivos da sociedade. Você representa esses núcleos vivos, do empresariado àqueles que fazem a militância socioambiental. Dos que fazem a militância socioambiental àqueles que se dispõem a antecipar o futuro, mesmo quando o presente ainda diz não.

Muito obrigada por estarmos juntos nesse novo desafio!

O Guilherme faz política há muito tempo, mas, agora, está se dispondo a fazer política institucional.

Meus companheiros, tenho que conversar com vocês. Hoje, é um dia especial, o dia do lançamento da pré-candidatura, um ato em que a grande novidade, a grande conquista foi termos o vice dos nossos sonhos.

Mas, agora que temos a dupla, que estamos completos, com as duas pernas, a feminina e a masculina, a do social e a do ambiental, que se materializam num bom exemplo de ação empresarial, é preciso falar de propostas.

Por que nós estamos fazendo esse ato de lançamento dessa pré-candidatura? Por que me dispus a esse desafio? Primeiro, por um jeito novo de governar. Depois, pela busca da sustentabilidade, palavra díficil.

Mas, professor Paulo Sandroni, da mesma forma, durante muito tempo, as pessoas falavam apenas em desenvolvimento. Depois, os economistas começaram a falar que o desenvolvimento tinha que ser sustentado. E a gente não entendia direito. Mas os não tão iniciados, depois, foram compreendendo que se não fosse sustentado não seria duradouro.

E estamos requalificando que não é sustentavel apenas baseado na sustentação econômica, mas sustentável baseado na sustentação econômica, social, ambiental, cultural, política e ética.

É por isso que estamos aqui!

Essa palavra parece trazer um certo estranhamento, mas podem aguardar que, em poucos anos, fará parte do cotidiano, do repertório das pessoas, tanto quanto passou a fazer o sustentado. O sustentado que, agora, precisa ser resignificado para sustentável. Estou aqui, também, para falar do que é essa sustentabilidade e como se materializa.

Um outro desafio, sem o qual não tem sentido o desenvolvimento: o desafio de igualdade de oportunidades para todas as pessoas. Todas as pessoas têm as mesmas capacidades, meus amigos, meus companheiros, irmãos. O que nos falta são oportunidades.

O ser humano, como insiste meu amigo (Gilberto) Gil, é um sujeito desejante, que deseja felicidade, tranquilidade, acolhimento. E, com as potencialidades desenvolvidas, fazer suas escolhas: ser artista, advogado, economista, desocupado, se for seu desejo. Mas, tem que ter a oportunidade no tempo certo, no período certo, com justiça social.

Sei o que significa isso. Como analfabeta até os 16 anos, a única fresta pela qual passei foi a da educação, por meio do Mobral. Essa história vocês já conhecem... Mas, indo para uma universidade pública, com bons professores _que quero homenagear na pessoa do meu querido professor Waldir Calixto, que me ensinou boa parte do pouco que sei em História, do pensamento econômico, enfim, história geral_, por essa fresta da Universidade Federal do Acre, estou aqui, nesta condição, ex-vereadora, ex-deputada, senadora e ex-ministra.

Isso foi a educação! Oportunidade para as potencialidades!

Do mesmo jeito do jovem que entrou na USP, filho de classe média, Guilherme Leal, que, com a boa educação da USP, uma universidade pública que desenvolve seus talentos, hoje, é um próspero empresário. Próspero economicamente, mas, também, do ponto de vista dos princípios e da ética. E é disto que estamos falando nesta tarde.

Que desafio temos pela frente? Temos o desafio de desenvolver políticas que sejam cidadãs, baseada em princípios e valores.

Às vezes, parece meio chato, meio udenista se dispor a falar em princípios e valores. Não vamos deixar banalizar, satanizar aquilo que para nós deveria ser sagrado, os valores éticos de uma gestão pública comprometida com a transparência, com a competência, com o uso correto dos recursos públicos, para que as oportunidades sejam multiplicadas em benefício da sociedade, em benefício das pessoas.

Queremos uma política baseada em princípios que nos levem a uma ação de intolerância com a corrupção. Queremos uma política que nos leve a uma forma, talvez, o melhor instrumento de combate à corrupção: o controle da sociedade.

Ainda, estamos aqui porque temos que falar da formação, daqueles a que me referi, para a sociedade que começa a se constituir ainda de forma difusa, ainda sem todos os seus contornos, mas, que, com certeza, não é mais a sociedade da modernidade. É a sociedade da pós-modernidade.

E como a gente prepara os jovens para esses novos desafios que se descortinam diante de nós? A gente prepara com a capacitação que queremos para o século 21, com a atenção que vá da primeira infância à universidade, com um esforço que nos faça consolidar uma educação criativa, uma educação capaz de formar o nosso jovem, ensinando matemática, física, língua portuguesa. Para que ele tenha uma boa base, mas, ao mesmo tempo, aprenda a aprender.

Essa sociedade vai exigir pessoas que sabem manejar o conhecimento e não petrificam o conhecimento. Essa é a formação que queremos para os nossos jovens, para nossas crianças.

Quero dizer que queremos também a qualidade de vida para as pessoas em todos os lugares. Queremos moradia digna para as pessoas que vivem na cidade. Queremos lazer para as pessoas que vivem na cidade.

Fiquei muito feliz quando ouvi o Gabeira dizer: “Só tem sentido se for para que, em Nova Iguaçu, a gente possa resolver o problema do saneamento básico”. O saneamento básico que ainda não chegou para esta região, Aspásia. Que possamos acabar com uma situação que não é aceitável: 48% não possuem esgoto sanitário ligado à rede de coleta. Há somente 1% de esgoto tratado.

É para isso que você é candidato ao governo do Rio de Janeiro, Gabeira.

Quando a gente fala em sustentabilidade urbana, as pessoas dizem: “E o que é a sustentabilidade na zona urbana, nas periferias das cidades?”. A sustentabilidade é não ter 60% das ruas sem pavimentação adequada, sem ciclovias, sem meios para as pessoas terem melhor mobilidade. É não ter ocupações que fazem com que, quando chovem, haja deslizamentos e as pessoas venham a morrer. Isso é sustentabilidade no concreto.

Mas, a qualidade de vida ainda diz respeito a uma questão importante: a segurança pública. Segurança pública para que as pessoas vejam nos policiais, nos agentes públicos pagos pelo Estado para proteger a vida, não uma contradição à vida, mas um valor em defesa da vida da população, em defesa da vida do próprio policial, em defesa da vida daquele que, por ser um contraventor, muitas vezes na marginalidade por várias razões, tem que ser interditado corretamente pelo Estado. Isso não significa que não tenha sua vida protegida.

Para isso, vamos precisar fazer uma reforma da segurança pública. Não é questão de ficarmos amontoando mais estruturas, estruturas sobre estruturas, quando a base, o fundamento não suporta essas estruturas. Uma reforma da segurança pública para que as pessoas possam viver com tranquilidade. É disto que se trata a sustentabilidade do ponto de vista da defesa da vida.

Como as pessoas vão para o trabalho? O Gabeira dizia, há pouco, que a maior parte usa o seu tempo de dormir e descansar tentando se locomover, se deslocar para o trabalho.

Como a gente pensa a cidade? Como a gente pensa o urbano para que as pessoas possam morar mais perto do trabalho? Ou o trabalho ser mais perto de onde as pessoas moram? Que o transporte público seja de qualidade, e a gente aprenda que há um grande valor posicional, como diz o professor Eduardo Giannetti, não sair com o carro todo dia, enchendo, entupindo as ruas, e, ao mesmo tempo, fumegando o planeta. É muito charmoso ir para o trabalho na sua bike, num bom ônibus, num bom transporte coletivo.

Isso é possibilitar qualidade de vida e sustentabilidade às cidades.

E queria colocar uma outra questão, a questão das políticas sociais. Há um preconceito muito grande, às vezes, em falar em políticas sociais. Tenho conversado com o economista Ricardo Paes de Barros, a quem tenho a honra de ter, com o professor Sandroni, a Neca e tantos outros, no Programa de Governo, que eu e Guilherme estamos junto com eles discutindo. E quero cumprimentar a todos da pessoa do Tasso (Azevedo).

Temos falado que os programas sociais vêm passando por uma evolução. Intuitivamente, falei que o velho sacolão, a cesta básica que o Luiz Gonzaga homenageava, dizendo: “Uma esmola a um homem que é são, lhe mata de vergonha ou destrói o cidadão!”. O sacolão e a cesta básica são muito parecidos com isso, com algo que mata de vergonha ou vicia o cidadão.

O presidente Lula chega e propõe o que chamo de programa social de segunda geração, diferente do sacolão, da cesta básica que colocava, dentro de uma cesta um pouco de óleo, leite, fubá, açúcar, sal e um feijão, que não cozinhava nunca.

E isso era levado para as pessoas em todas as regiões do país, sem olhar para a culinária daquela região. Era tudo homogeneizado, como se fossemos batata e saco de estopa. Não! Temos gostos diferentes, paladares diferentes!

A cesta básica era uma mistura de caridade do Estado com politicagem eleitoral da pior qualidade.

O presidente Lula chega, e, graças a sua capacidade política, percebe que não tinha como seguir esse caminho. E lança mão de contribuições acumuladas no Ipea, de pessoas como Ricardo Paes de Barros, Ana Maria Peliano e tantos outros, propõe o Programa de Transferência Direta de Renda.

O que é esse Programa de Transferência Direta de Renda? O programa não é assistencialismo, como querem dizer. É um programa que tem contrapartida, sim. Só se recebe o Bolsa Família desde que a criança esteja na escola, a mãe faça o exame da mama, o Papanicolau e outras contrapartidas simples, mas muito importantes.

Quando uma pessoa evita o câncer da mama, não só está protegendo a sua saúde, que é um direito, como está evitando milhões e milhões drenados do SUS. Quando uma mãe faz o exame do colo do útero é a mesma coisa. Quando a criança vai para a escola, estamos fazendo um investimento para que essa criança tenha uma inclusão positiva. É uma contrapartida para aquelas pessoas que se reverte em beneficio dela mesma e da sociedade.

E mais do que isso. Ao ter uma renda na mão da família, a pessoa compra o que necessita no mercado local. Já vi muitas comunidades agrícolas sendo aquecidas com o Bolsa Família. Quem não comprava feijão passou a comprar. Quem não comprava arroz, milho, rapadura passou a comprar.

Não foi à toa que, graças a essa renda, no Nordeste brasileiro, tivemos uma grande fonte ajudando a debelar a crise. Estou dizendo isso por justiça.

Guilherme e eu conversávamos outro dia, falando sobre nosso desafio. O nosso desafio, meus amigos, companheiros, é fazer uma campanha justa, uma campanha que não ache que, para ganhar voto, vale tudo, que vale lançar a melhor frase de efeito, sem se preocupar em estar sendo justa ou não, verdadeira ou não com a Dilma ou com o Serra ou com o Plínio. Não vamos fazer esse tipo de campanha!

Não precisamos fazer esse tipo de campanha. Isso não educa para uma sociedade sustentável do ponto de vista da ética, do ponto de vista dos valores. É muito fácil falar de valores, defender a democracia, mas, quando se é confrontado, na primeira oportunidade, tenta-se dar uma rasteira na democracia. É totalmente incoerente, como vimos fazerem com o Ciro Gomes. Interditaram a campanha do Ciro.

Quero dizer que estou fazendo esse reconhecimento pensando no que seriam esses programas sociais de segunda geração. E vou aproveitar para dizer: só é possível incluirmos 25 milhões de pessoas, que estavam abaixo da linha da pobreza, em razão do circulo virtuoso que temos nos últimos 16 anos, com o Plano Real.

Por que (Sérgio) Xavier? Com estabilidade econômica, com a diminuição da inflação, com o controle da inflação, com o superávit primário que nos ajudou a atravessar a crise, com um câmbio flutuante, que nos permitiu manejar essa situação de uma forma completamente diferente de outros países, como a Argentina, nós conseguimos uma base para fazer os investimentos que estamos fazendo hoje. Ainda são insuficientes, mas são investimentos feitos graças ao Plano Real.

Dei o crédito ao presidente Lula. Agora, vou dar ao presidente Fernando Henrique. O presidente Fernando Henrique não era um gerentão, era um homem de visão, como o Lula. E foi capaz, não sendo economista, de fazer o Plano Real.

Toda vez que digo isso, as pessoas dizem: “Mas, Marina, até entendo que você fale do Lula. Afinal, foram companheiros durante tantos anos. Vocês têm a mesma trajetória de partido, de luta social. Você foi sua ministra. Mas, o presidente Fernando Henrique? Por que você fala do Fernando Henrique, do Itamar Franco? Você pode perder voto por que nem o PSDB dá o crédito do Plano Real ao Fernando Henrique”.

Eu digo que não falo para ganhar voto. Falo para fazer justiça. Se para ganhar votos temos que deixar de ser justos, então, não quero ficar na fronteira do “ganhar voto”. Eu quero fazer nesta campanha, se Deus quiser, que estamos começando na pré-campanha aqui, que esses valores estejam presente.

E estou fazendo um apelo a todos nós: que esses valores estejam presentes como está fazendo o Mockus. O Mockus, na Colômbia, assumiu o compromisso de que vai respeitar seus adversários. Nós temos que respeitar os nossos oponentes, os nossos concorrentes. Vamos, cada um de nós, firmar este compromisso.

Quero dizer ainda que sei que tudo isso é um desafio muito grande. Para fazer isso tudo, é preciso que aconteça uma mudança muito significativa na política. Talvez tenhamos que reinventar uma nova maneira de caminhar, como diz o Thiago (de Melo), um novo tipo de liderança.

E vou tentar concluir, falando um pouco disso. Para que tudo isso aconteça não basta uma nova forma de fazer as coisas na política, o que por si só já seria muita coisa...

Imagina uma nova forma de fazer com transparência, com combate à corrupção, com eficiência, com um Estado que não seja provedor, mas mobilizador. O Estado mobilizador é aquele que é capaz de pegar os recursos públicos e, a partir do bom uso desses recursos, com eficiência, mobilizar o melhor do melhor, conseguindo boas parcerias com o empresariado, com as ONGs, com os diferentes segmentos da sociedade. E faz a transformação. Combate a corrupção, consegue bons resultados, é um bom prestador de serviços. O Estado que faz diferente, o político que faz diferente faz muito. Mas, eu vou além. É ser diferente na política. É disso que estou falando...

Neste inicio de século, estamos vivendo uma crise sem precedentes _a crise econômica. É só ver o que está acontecendo na Espanha, em Portugal e na Grécia. Bilhões tiveram de ser mobilizados novamente para socorrer esses países. Estamos vivendo uma crise econômica sem precedentes.

Estamos vivendo uma crise social, que se expressa na realidade do Brasil, ainda com graves problemas sociais que precisamos transitar. Precisamos transitar para o futuro com os programas sociais, inclusive, os de terceira geração. Programas que ofereçam uma cesta de oportunidades para que as pessoas possam ter seu trabalho, educação, profissionalização, treinamento profissional. A isso chamamos de inclusão produtiva.

Vamos ter que pensar a saída da crise social como um compromisso ético. Já temos boa parte das respostas técnicas para o problema da falta de educação, de alimentos e moradia. O que nos falta é o compromisso ético de colocar toda nossa técnica a serviço da decisão que teremos que tomar, para transformar o Brasil e transformar esse mundo, fazendo esse mundo melhor.

Estamos vivendo uma crise ambiental. Para resumir, se não estancarmos as fontes de emissão de CO2, que podem fazer com que a Terra continue aquecendo, se ultrapassarmos dois graus, podemos inviabilizar toda a vida na Terra. Não temos sequer como elaborar isso na nossa cabeça. É tão dramático. É tão difícil.

Para isso, torna-se imperativo uma nova forma de ser na política. E esse novo ser na política requer que a gente pare para pensar que a crise é complexa. A crise tem uma faceta multidimensional. E as respostas, também, são variadas.

Para resolver, vamos precisar de um novo tipo de liderança social, empresarial, política. Eu consigo ver boa parte desta nova forma de liderança no mundo empresarial de vanguarda. O Ricardo (Young) e o Guilherme estão aqui. E temos tantos outros pelo Brasil afora.

E estamos, simbolicamente, neste lugar, para dizer que estamos só começando o ensaio geral de uma nova militância, de uma nova liderança social.

Agora, a liderança política ainda está a desejar. São poucos os que percebem a necessidade da mudança. E devo dizer que essa nova forma de ser na política vai exigir de nós, sobretudo, mais do que discurso, mais do que teoria, Gabeira. Vai exigir de nós liderar pelo exemplo.

E liderar pelo exemplo é saber que nós temos parte da resposta, mas não toda. Se quisermos enfrentar os desafios do século 21, vamos ter que, generosamente, integrar todas as conquistas, tudo que conquistamos, inclusive, graças ao uso predatório dos recursos naturais para transitar para uma nova forma de produzir nossa vida, nossa condição de viver no planeta Terra. Essa nova liderança chamo de liderança multicêntrica, para problemas multicêntricos, que não seja capaz de fazer tudo e ainda fazer o resto.

É essa visão que faz com que, em pleno século 21, em plena crise sistêmica, econômica, social e ambiental, a gente possa ver as pessoas querendo discutir o que não interessa, discutir quem teve o melhor e o maior passado, quem tem o maior e o melhor currículo.

Isso é muito importante. Mas, o Brasil e as necessidades do planeta são maiores do que os nossos passados e os nossos currículos, individuais.

É por essa nova visão que estamos aqui, somando, chamando as pessoas para um movimento, para uma conversa, uma rodada de conversa sobre o Brasil. Uma conversa que não resvale para o que interessa, que não discuta quem divide ou entrega o Brasil.

O Brasil é essa unidade, todos nós! O Brasil é essa coragem que somos todos nós! E não vai ser entregue a ninguém, a não ser a nós mesmos, aos nossos sonhos, a nossa vontade e esperança de que seja muito melhor.

Então, não vamos resvalar para essa história de entreguistas e divisionistas. Isso não interessa. Termina a eleição, e a gente não sabe o que foi debatido. Uma eleição como essa é para que a gente saia com um novo acordo social. Um acordo social que seja capaz de integrar as conquistas e apontar para as grandes mudanças na nova economia.

E o que é economia baixo carbono, Marina? É a gente poder gerar emprego na agricultura sem destruir a floresta. É a gente poder prover o país com infraestrutura adequada para os transportes, para comunicação, para a geração de energia, protegendo a biodiversidade, protegendo as comunidades locais. É a gente ter uma indústria próspera, que receba o devido incentivo não para que se consuma mais e se produza mais do mesmo jeito que se produziu até hoje, mas buscando, como está fazendo Obama, novas respostas, novos resultados.

Essa nova liderança vai ter que estar comprometida com esse debate. E é para isso que estamos aqui.

Não quero embate com a Dilma Roussef, não quero embate com o Serra. Gostei muito daquele ensaio que fizemos lá, em Minas Gerais. Graças a Deus, foi uma conversa. Ali, pudemos nos perceber como gente pensando diferente.

É disso que o Brasil precisa. É isso que nós precisamos construir. É algo que ainda não está pronto, mas acontecendo no mundo inteiro. A gente olha para o

Obama e sente que tem indícios disso. A gente olha para o Mockus e sente que tem indícios disso. E a gente olha para a sociedade brasileira, olha para o Gabeira, e vê que é quase possível materializar isso no Rio de Janeiro.

Olha que coisa bonita está acontecendo no mundo. Temos que estar atentos ao que disse Victor Hugo: “Não há nada mais potente do que uma ideia cujo tempo chegou”.

Uma ideia cujo tempo chegou não é a ideia que a gente tem. É a ideia que tem a gente. E, quando a ideia tem a gente, a gente vira uma potência para transformá-la em realidade.

Meus companheiros, minhas companheiras, esse novo líder tem que ter muita clareza de que pode, mas não pode tudo. Sabe, mas não sabe tudo. Faz, mas não faz tudo.

O que um líder não pode fazer? Não pode sonhar pelas pessoas, decidir o destino das pessoas.

Quando tiraram o Ciro, tinha alguém sonhando pelo Ciro. Tinha alguém decidindo pelo povo, que poderia estar votando no Ciro. Isso nenhum líder pode fazer. Ninguém pode fazer pelas pessoas o que só elas podem fazer por si mesmas: sonhar e decidir o futuro que querem para si, o país que querem, o lugar aonde querem chegar, de que forma querem construir o país.

O líder não pode, não sabe, não tem como saber sozinho, por ele mesmo, o que é melhor para um povo. Não pode saber o que é melhor para o todo. Só o todo sabe, mesmo inconscientemente, o que é melhor para ele.

Quando as pessoas decidiram votar no presidente Lula, podiam continuar dizendo, mentirosamente, que ele iria destruir as famílias, que iria queimar as Bíblias, que iria levar o Brasil à bancarrota, se ganhasse.

Mas as pessoas sentiram, naquele momento, que era melhor a mudança. Só o povo sabe o que deve fazer. Ninguém pode fazer pelo todo.

Por último, ninguém pode abrir mão de algo que é essencial, fundamental: o poder e o fazer. Só nós podemos fazer as transformações, juntos, as transformações que o Brasil precisa.

Um líder não pode dar para um povo um destino. Se você quer um povo forte, se você quer um povo sábio, um povo soberano, ajude-o a construir um caminho. Quando a gente dá um destino está se colocando no lugar muito difícil, subtraindo o fazer conjunto, subtraindo o “fazer com” pelo “fazer para”.

A liderança do século 21 vai ter que aprender. Peço a Deus poder aprender a me colocar como mediadora e não como condutora.

Temos que aprender e nos dispor a coautoria, em vez da exclusividade do feito. Temos que nos dispor e nos colocar mais como mobilizadores do que como provedores de respostas prontas. Essa é a liderança do século 21.

Espero que, no mundo inteiro, a liderança do século 21 esteja se construindo.

Meus companheiros, meus irmãos, junto com o companheiro Guilherme Leal, junto com o Partido Verde, que se dispõe de forma inovadora a fazer um movimento, um movimento pelo Brasil para que o Brasil cuide de si mesmo, dê a sua contribuição pelo planeta, estamos nos dispondo a aprender.

Neste inicio do século 21, devo dizer que estou muito animada, aos 52 anos. Da mesma forma que me sentia animada nos tempos de Chico Mendes. Da mesma forma que me sentia animada e mobilizada na quadra do Colégio Meta. Como mulher de fé que sou _a mesma fé que, hoje, meus companheiros usam, alguns, para deturpar, quem sou, querendo me fazer passar por uma pessoa fundamentalista, intolerante, coisa que meu testemunho de vida jamais atestou_ ficava na porta do Colégio, rezando para que chegassem pessoas. Rezando para que, quando o Lula chegasse, pudesse se animar com um número maior de pessoas.

O Ibrahim Farah dizia: “vamos fazer uma reunião com empresários?”. Eu pensava: “que empresários aqui no Acre? Ninguém quer saber da gente”. E estava lá o Ibrahim Farah.

Eu ficava com vergonha, queria tanto que tivesse muita gente naquela reunião e o Lula não saísse dali triste, mas animado com o projeto que a gente queria construir.

Hoje, me vejo diante de uma situação. Muitas vezes olho para minhas filhas. Elas e os que me conhecem sabem que, quando as pessoas dizem que a senadora está fazendo o jogo do Serra, o jogo da Dilma, não estou fazendo jogo de ninguém. Estamos fazendo o jogo que o Brasil e o mundo precisam fazer.

É o mesmo jogo que vocês dois, Gabeira e Sirkis, fizeram quando criaram o PV. E nós do PT dizíamos naquela época: “Eles estão fazendo o jogo da separação”. O pessoal da esquerda dizia que o Lula estava fazendo o jogo do Golbery. Mas, o Lula estava fazendo o jogo da democracia, o jogo de um partido popular com uma outra característica. Infelizmente, esse partido perdeu a sua capacidade de se conectar com as utopias do século 21.

Não estou fazendo o jogo de ninguém. Estou fazendo o jogo no presente que o futuro precisa, que a juventude precisa. Se não tivéssemos entrado no jogo, não teríamos contribuído para as metas em Copenhague. Se não tivéssemos entrado no jogo, não teria gente pousando diante de um parque eólico para se dizer ambientalista.

Graças a Deus, tivemos quem tenha visão antecipatória, Aspásia, para construir, no passado, Guilherme, as alternativas que podem ser transformadas em políticas públicas.

Estamos fazendo o jogo do Brasil. Assim, como vai fazer a nossa Seleção, se Deus quiser, quando trouxe o caneco para casa.

Vamos fazer o jogo de levar a sustentabilidade social, a sustentabilidade ambiental, a sustentabilidade cultural, política e ética para o Planalto Central.

Esse é o jogo que o Brasil precisa fazer. Esse jogo só pode ser feito de uma forma, só de uma forma. Não importa se for o Pelé, o Ronaldinho... O Ganso não foi convidado, mas ele é jovem, Mayara. Ela é santista, fica revoltada.

Este jogo pode ser feito com vários jogadores. Agora, tem uma coisa que não pode deixar de estar nesse jogo. E tem uma coisa que não pode estar nesse jogo. Esse jogo só pode ser feito de forma limpa, transparente. E não pode ser feito na base da rasteira.

Quero terminar, talvez, falando mais do que devia, mas, agradecendo a Deus, mais uma vez, por ter vocês nesta mesa, por ser capaz de reconhecer que temos conquistas boas, nesses 16 anos. Conquistas do Fernando Henrique, do Serra. E mais atrás, conquistas do Juscelino, que idealizou esse país. Mais atrás, mesmo com a crítica à ditadura, as conquistas de Getúlio, que trouxe as políticas trabalhistas para o Brasil.

Vamos pegar o que há de melhor! Agora, temos um novo desafio. O Brasil precisa se dispor a esse novo desafio.

Tenho mais idade do que quilos. Tenho 52 anos e 51 quilos. Mas, estou mais do que nunca cheia de força, coragem, fé e energia para andar o Brasil adentro e afora. Vamos unir o Brasil ponta a ponta.

Seja mais um pelo Brasil, e seremos milhões!

Seja mais um pelo planeta, e seremos bilhões!

Seja mais um pelo futuro, e teremos futuro garantido para a humanidade e para as outras formas de existência.

Um beijo no coração do Brasil e de todos vocês.

Compartilhe:

    Sites relacionados

    Siga UOL Eleições

    Hospedagem: UOL Host