25/09/2010 - 21h20

Cidade em SP apresenta candidatos a moradores para tentar eleger alguém

Andréia Martins
Do UOL Eleições
Em São Paulo
  • Reunião do movimento Amigos de Jundiaí

    Reunião do movimento "Amigos de Jundiaí"

Nas eleições do dia 3 de outubro, só no Estado de São Paulo, 3.352 candidatos vão disputar o cargo de deputado: 1.276 tentam vaga na Câmara dos Deputados, em Brasília, e 1.976 na Assembleia Legislativa. Desse total, 16 candidatos vêm de Jundiaí, cidade a 60 km da capital paulista e que hoje não conta com nenhum representante nas duas Casas.

Pensando em reverter esse cenário, ONGs, voluntários, estudantes e cidadãos anônimos de Jundiaí decidiram se mobilizar e criar um movimento suprapartidário, chamado “Amigos de Jundiaí”, que tem como objetivo apresentar os candidatos da cidade aos cerca de 260 mil eleitores, na tentativa de eleger um, ou mais, deputado local.

Na última eleição majoritária, em 2006, o único deputado estadual eleito pela cidade, o ex-petista Pedro Bigardi, perdeu o mandato ao trocar de partido. Atualmente está no PCdoB. Com relação ao cargo de deputado federal, a maioria dos eleitores da cidade ajudou a eleger o estilista Clodovil, que só na região teve quase 5.000 votos, mesmo sem ter nenhuma relação com Jundiaí.

O movimento realiza debates e palestras e, usando a internet, tentou estabelecer um canal de comunicação entre eleitores e candidatos. "A ideia central da mobilização é promover encontros de cidadania, buscar na internet formas de melhorar a formação de cidadãos e, com isso, tentar eleger algum representante local”, diz um dos organizadores, Henrique Parra Filho.

Ao todo, 450 pessoas já estão engajadas na mobilização, seja em palestras, distribuindo folhetos, organizando encontros ou divulgando a ação na web. Para Parra, o número é relevante, considerando que, em Jundiaí, vereadores são eleitos com mil votos.

Das ruas para a web

Uma das primeiras iniciativas do movimento -que também abrange os municípios de Campo Limpo Paulista, Várzea Paulista, Itupeva e Louveira, na região de Jundiaí -  foi realizar sabatinas com todos os 16 candidatos locais (nove a deputado estadual, e sete a deputado federal), muitas vezes desconhecidos da maioria frente à avalanche de candidaturas.

"Essa é uma das reclamações de alguns setores, pois às vezes são tantos candidatos que os votos se dispersam e ninguém é eleito, a população acaba não conhecendo todos", diz o cientista político Humberto Dantas, da ONG Voto Consciente.

Depois das sabatinas, os candidatos criaram um perfil no site Cidadania Ativa Jundiaí para responder a perguntas e sugestões da população no canal "Responda, Deputado". “É uma sabatina permanente. Os candidatos se comprometeram a responder às questões. Têm de ouvir as perguntas e não apenas dizer o que querem”, diz Parra.

As perguntas e as respostas ficam registradas de forma pública, assim qualquer internauta pode acompanhar as discussões e utilizar o espaço como uma fonte de informação para a escolha do voto. Além disso, são também distribuídos os folhetos “Ficha Pública", com uma breve biografia de todos os candidatos.

“No levantamento, descobrimos, por exemplo, que nenhum dos candidatos locais teve problemas com a Lei da Ficha Limpa. Mais um motivo para olharmos com cuidado para os outros candidatos”, diz Parra.

Para Dantas, mais importante do que simplesmente eleger um deputado da região é promover o debate político. “Na verdade, a questão não é eleger um representante. Se for assim, os homossexuais precisam de um representante, os trabalhadores, os negros, todos os grupos precisam. O mais importante é promover o cálculo eleitoral de maneira consciente, fazer com que as pessoas entendam por que estão elegendo aquele candidato e o que ele poderá fazer por elas”, diz.

Espaço para o cidadão não-organizado

"Política é resolver problemas. Nosso foco  é o cidadão não-organizado, não ligado a ONGs nem a outros movimentos. Queremos que as pessoas se comprometam e tentar mudar essa percepção de que o cidadão não-organizado não pode participar”, diz Parra.

Segundo ele, a sugestão de um adolescente de 18 anos no site, questionando por que Jundiaí não tinha uma universidade pública, entrou na pauta da campanha dos candidatos, que agora são questionados sobre o assunto, e virou tema de "twitaço".

Para Dantas, além de permitir uma participação mais ativa dos eleitores, "para ser eficaz, [o movimento] deve oferecer algum tipo de acompanhamento caso o candidato seja eleito”.

“Isso [mobilização] é uma reflexão importante, mas o que se torna imprescindível é eles [candidatos] aceitarem discutir propostas com a sociedade, assumir uma agenda pública”, diz Dantas.

A ideia já está nos planos dos "Amigos de Jundiaí". “Se a região conseguir eleger um deputado, vamos apresentar as propostas dos moradores e mostrar ao candidato, que vai ter que se comprometer com uma agenda pública e os problemas apontados”, afirma Parra.
 

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