27/08/2010 - 07h00

Contra favorito Alckmin, oposicionistas apelam para tom emotivo em SP

Diego Salmen e Maurício Savarese
Do UOL Eleições
Em São Paulo

Faltas em festas de aniversário dos filhos, reuniões amorosas com a família, rouquidão de tanto conversar com o povo querido. Diante da ampla vantagem do candidato do PSDB ao governo paulista, Geraldo Alckmin, os oposicionistas no maior colégio eleitoral do país estão testando formatos mais emotivos para se apresentarem aos indecisos e os não tão certos de seu preferido, a quase um mês da votação.

O ex-governador tucano aparece com chances de vencer já no primeiro turno. Por isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua candidata ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT), fizeram uma ofensiva no Estado para impulsionar as candidaturas de Aloizio Mercadante (PT) e Paulo Skaf (PSB). Prometem vir mais vezes. Mas querem que seus aliados se aproximem dos eleitores paulistas.

Assim falou Lula: “Mercadante, bote alma no seu programa de rádio e televisão. Não é só apelar para a razão. É preciso emoção”. Não perdoou nem a “dancinha mal-feita” do candidato enquanto ouvia seu jingle. “Precisa botar este homem para dançar. Leva ele para o Palácio do Alvorada que eu ensino para ele”, brincou o presidente enquanto um público de cerca de 10 mil pessoas ria.

Uma semana depois, o tom mudou.

Mercadante diz que trocou festas dos filhos por militância política

Na quinta-feira (26), a campanha do petista, que tem 20% das intenções de voto, segundo o instituto Datafolha, lançou um vídeo na internet – que poderá ser usado no horário eleitoral obrigatório – em uma tentativa de repaginar o candidato. Na peça, que dura mais de seis minutos, Mercadante fala do pai, dos amigos e dos eventos familiares que perdeu por conta da militância política.

“A única coisa que me dói de verdade é que eu, como muitos de vocês, não puderam ficar com os filhos o tempo que a gente queria. Não pudemos ficar em casa o tempo que a gente desejava”, diz Mercadante, com voz embargada, em imagens do discurso na convenção que deu a ele a candidatura ao Palácio dos Bandeirantes.

“Muitas festas dos meus filhos eu não pude ir. Muitos momentos importantes para eles eu não estive presente. Mas eu fiz isso por este país que a gente está construindo. Por esta multidão que tem direitos”, conclui. O próximo objetivo da campanha petista em São Paulo é deixar o programa de televisão mais próximo ao de Dilma.

“Assunto de família”
Assim como Mercadante, Skaf –  com de intenção de voto de 3% de acordo com o Datafolha - procurou imprimir um tom emotivo a sua peça para enfrentar o candidato do PSDB, ao mesmo tempo em que, vendido como "novidade" na disputa, busca tornar-se mais conhecido.

Skaf emocionado ao falar da família

Em uma propaganda na internet, que também pode ser utilizada no programa de TV a qualquer momento, o ex-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) conta ter comemorado recentemente “31 anos de casado” e enumera, um por um, o nome de seus cinco filhos. Em sua roupa esporte fino – nada de terno -, ele chega, inclusive, a citar o nome de uma nora.

“Somos uma família unida, com muito amor. Todos se respeitam e se gostam muito”, diz. Nos segundos finais da peça, Skaf interrompe seu discurso, depois de tentar, em vão, falar com os olhos marejados por lágrimas. Em meio ao silêncio, o candidato, que é dirigido pelo marqueteiro Duda Mendonça, sinaliza que precisa de água para se recompor: dá um toque sutil no copo de vidro para chamar uma assessora. “Assuntos de família...”, balbucia.

A propaganda integra uma iniciativa mais ampla de Skaf. A estratégia também inclui compartilhar experiências em comum com os eleitores. Na semana passada, o candidato percorreu um trajeto de ônibus e metrô na zona leste de São Paulo. “Isso é um sacrifício”, disse na ocasião. Era horário de pico.

A ofensiva “emotiva” também vem logo depois de o socialista, ex-empresário do ramo têxtil, receber o apoio declarado da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff. A declaração foi veiculada no horário eleitoral de Skaf na quarta-feira (25).

“Aqui em São Paulo eu tenho dois palanques, o Skaf é um deles. O outro é Mercadante. E eu vou dar força para os dois porque ambos me apóiam”, afirmou a petista, durante visita a uma unidade do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) na capital paulista.

Sem voz pelo povo
“Alô.”
“Fala, Celso. Você está rouco?”
“É, eu estou rouco de tanto andar pelas ruas conversando com as pessoas.”

Autodenominado “governador das ruas”, Celso Russomanno (PP), com 7% na pesquisa do Datafolha, tem utilizado sua experiência em programas sensacionalistas de televisão, como o extinto “Aqui Agora”, do SBT, para se aproximar do eleitor em pouco mais de um minuto que tem no horário eleitoral obrigatório.

Além de dirigir críticas exclusivamente a Alckmin, o próprio candidato faz entrevistas com cidadãos insatisfeitos com a qualidade do serviço público, usa as mesmas técnicas de edição de seus antigos programas de defesa ao consumidor e, algumas vezes, lembra da morte de sua mulher, mal atendida em um hospital. “Há 16 anos, você sofre com esse governo de São Paulo. É isso que você quer?”, questiona.

Até o momento, o tucano tem se preocupado em responder às críticas de Mercadante e evita o tom emotivo. Quando busca esse apelo, a propaganda de Alckmin se limita a dizer “o nosso governador voltou”. A avaliação de alguns membros de sua campanha sobre a possibilidade de um segundo turno ainda não foi o bastante para levar a família do candidato do PSDB à discussão eleitoral.

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