A maioria conquistada pela coligação do governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), na Assembleia Legislativa não configura uma hegemonia dele no estado. A avaliação é do cientista político Josênio Parente, que acredita que os deputados estão mais ligados à onda lulista do que ao governador, reeleito em primeiro turno ontem (3).
“O Cid teve maioria, mas não configura uma hegemonia no sentido ideológico. [Essa maioria] é fruto dessa onda que tem como força a transferência de renda, o crédito fácil, a construção de um mercado interno. Quando a onda era movida pela moeda forte, o Fernando Henrique também surfou nela”, explica Parente, que é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Segundo ele, as correlações de força no Ceará são muito complexas e a liderança de Cid não deve se mostrar tão sólida na hora de governar. Apesar disso, a coligação do governador conseguiu eleger 20 deputados dos 47 que formam a assembleia.
Entre os que não são do partido da base aliada, apenas o PSDB surge como ponto forte de oposição no estado, segundo o professor. “O PSDB se prepara para ser uma oposição qualificada. Ele perdeu espaço fazendo apenas oito deputados, mas se fortaleceu no sentido de ter uma postura verdadeiramente de oposição”, avalia Parente.
Sobre a derrota do senador Tasso Jereissati (PSDB), que começou a corrida eleitoral como favorito para se reeleger, o professor entende que ele foi assolado pelo mesmo problema que acometeu outros senadores de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como Arthur Virgílio (PSDB), no Amazonas e Heráclito Fortes (DEM), no Piauí. Virgílio ficou com a terceira colocação e Fortes, em quarto lugar no número de votos.
“Quem nadou contra a maré, acabou sendo levado. Os que se posicionaram contra essa onda ligada ao presidente Lula não conseguiram ir adiante. E ele [Tasso] não conseguiu, como o Agripino [Maia, reeleito pelo Rio Grande do Norte], um grupo de apoio para essa tsunami que passou pelo Brasil ”, analisou o cientista político.
Para ele, a eleição de dois senadores aliados ao governo estadual pode trazer benefícios para o Ceará, porque eles terão mais facilidade de levar recursos ao estado. No Ceará, foram eleitos senadores Eunicio Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT).