UOL Eleições 2008 Últimas Notícias

23/10/2008 - 06h30

Ignorado por candidatos, distrito da Zona Leste rima zona rural com operação policial

Rodrigo Bertolotto
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Para o paulistano médio, Iguatemi é um shopping bacana na avenida Faria Lima. Mas também é denominação para o distrito mais distante da Zona Leste, vizinho aos mais notórios Cidade Tiradentes e São Mateus e distante 25 quilômetros da Praça da Sé.

Charretes, viaturas e pamonhas

    A área só entra no noticiário com casos como uma creche transformada em boca-de-fumo, uma favela-condomínio com guaritas e seguranças, uma chacina de quatro pessoas por uma dívida de R$ 20, um garoto de 14 anos que matou um motorista de ônibus e causou paralisação da categoria, um vigia que ficou um ano em cárcere privado por seu patrão em um depósito de bebida. Ou quando sobra água nas enchentes ou falta nos desabastecimentos.

    Não por nada foi uma das áreas que não foi visitada por Gilberto Kassab e Marta Suplicy na reta final do primeiro turno nem no segundo turno. Contam que o atual prefeito e candidato do DEM vistoriou uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial) em julho último. A concorrente do PT teria passado por lá em agosto. O levantamento do UOL, segundo agenda enviada pelos comitês de campanha, não registra visita dos dois desde o dia 16 de julho.

    Quem com certeza esteve por lá foi a Polícia Militar. Em uma ação cinematográfica (palavras da própria Agência Imprensa Oficial), ela chegou com helicópteros, viaturas da Rota, tropa de choque, agentes camuflados e maquinados com carabinas e metralhadoras e até cavalaria - o que é irônico numa região que guarda ainda resquícios de seu recente passado rural, com cavalos pastando nos baldios e campos de futebol.
    • Confira os locais em que os candidatos estiveram em campanha


    A chamada Operação Saturação durou 99 dias entre junho e setembro e teve toques de ocupação de guerra em terra estrangeira: para ganhar a simpatia da população em meio à intensa presença policial, se instalou tenda com dentistas, um juizado itinerante, uma unidade móvel para emissão de documentos, se promoveu palestras sobre assuntos domésticos e atrações infantis - qualquer semelhança com a tática amistosa das tropas brasileiras nas favelas do Haiti não é mera coincidência.

    "A segurança aqui é zero. Ou você paga R$ 200 para os vigias que formam uma milícia de ex-policiais ou é roubado. Deixei de bancar um mês e fui assaltado cinco vezes", conta Rubens Coelho, que tem loja de material de construção no Jardim Limoeiro. Os morros em volta são intercalados. Um é de mata. O seguinte de cimento e tijolo.

    O comerciante relata que de dia o desmanche de carro é feito nas calçadas do bairro sob o olhar da ronda policial. À noite, sua loja vira abrigo de traficantes e usuários que se juntam ali apenas uma hora após o fechamento, às 19h. "Todo bairro tem seus nóias, mesmo quase na zona rural aqui não é diferente", resume Coelho.

    O cenário mistura pontos de ônibus invadidos por vegetação, favelas entre bananeiras, cartazes de show de forró, postes cheios de gatos na rede elétrica, casas de marmitex, manos de boné, senhores com chapéu de vaqueiro, desovas de carros e corpos, além de córregos transformados em esgoto a céu aberto.

    "O que sobra aqui é rato e fedor. O resto está em falta", critica Isabel Gomes, que tem uma barraca de doces e roupas usadas ao lado de um riacho poluído.

    População vê candidatos só pela TV

      Outro endereço polêmico é o lixão na estrada de Sapopemba, cujo nome oficial é Aterro Sanitário São João. De longe, a paisagem parece a terra dos Teletubbies: um morro gramado com tubos espalhados. Mas o vai-e-vem de caminhões de lixo mostra que a realidade não é tão ingênua. O lixão gera energia pelo biogás, mas gera também o que os moradores batizaram de avalixo, um deslizamento de lixo. O último, em 2007, empestou a área com a avalanche.

      O aterro fica no último endereço do município de São Paulo. Metros dali é Ribeirão Pires. "Aqui você tem que andar bastante para chegar a qualquer escola ou posto de saúde. Tem que ter perna. Tudo fica longe", afirma a arrumadeira Rose Moreno, descendo uma ladeira de terra para pegar um ônibus em direção a estação Carrão do metrô (leva 40 minutos até lá).

      Marta Suplicy tem maioria no distrito de Iguatemi, que faz parte da zona eleitoral de Cidade Tiradentes (a candidata do PT teve 62% dos votos no primeiro turno, contra 12% de Kassab). Parte dessa popularidade se deve a que as gestões petistas (1989-1992 e 2001-2004) regularizaram várias ocupações por lá. Ainda hoje os bairros populares estão entre áreas verdes cercadas por arames farpados e placas de "propriedade particular".

      Compartilhe:

        ÚLTIMAS NOTÍCIAS

        Mais notícias

        Hospedagem: UOL Host