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15/10/2008 - 07h00

Cabos eleitorais de SP agitam campanha de rua com paquera, gozações e acusações

Rodrigo Bertolotto
Do UOL Notícias
Em São Paulo
"Há cinco dias estou xavecando. Vou vencer no primeiro turno", brinca o seguidor de Marta olhando para a kassabista ao lado. "Talvez, pode ser", se evade a garota de verde com um número 25 na camiseta. O galanteador dá o xeque-mate: "Para namorar comigo, não tem segundo turno, não." O par está sintonizado em uma campanha que mistura política e vida pessoal.



Os dois pombinhos erguem bandeiras dos dois rivais pela prefeitura de São Paulo. O local é a avenida Dr. Silvio de Campos, o centro comercial de Perus, bairro da extrema Zona Norte, que só ocupou o noticiário nacional uma vez: quando descobriram um cemitério clandestino de opositores da ditadura militar (1964-85).

"Primeiro está a eleição. Depois vem o namoro. Por enquanto, estou de olho só na Marta", brinca outro petista do bairro que fica a 20 quilômetros do centro e ao lado do pico do Jaraguá (1.135 metros de altura). No primeiro turno, a petista Marta Suplicy teve 55% dos votos, enquanto Gilberto Kassab ficou com 19%, o que motiva os dois lados.

"Kassab não é um nome muito conhecido. Vamos de porta em porta explicando quem ele é", afirma Carlos Sampaio, coordenador de campanha do DEM na região. Os cabos eleitorais são divididos em times com seis integrantes, um líder e um motorista. Enquanto uma equipe distribui panfletos pelas casas, outra agita bandeiras nos cruzamentos.

O papel mais difícil fica para o cabo eleitoral que se veste de Kassabão, o boneco inflável que desenha o atual prefeito como um personagem de gibi. "A bateria que o mantém cheio dura meia-hora, aí a gente troca de pessoa", conta Sampaio, que passa o dia no comitê local distribuindo pilhas de bandeiras e caixas de adesivos para os correligionários.

As duas torcidas eleitorais são mantidas com salários que giram entre R$ 350 e R$ 450, mais o almoço para motivar o expediente das 8h às 17h.

Com tanta proximidade, as provocações são a tônica. "Aha, uhu/Kassab é o Terror", grita o grupo de verde. "Já falei, vou repetir/É Lula lá e Marta aqui", responde os adversários de vermelho, entre apitaços.

"Tem muito encrenqueiro tentando ameaçar, e fazendo empurra-empurra, mas a gente se defende", se queixa a petista Quesly Jeremias. Ao seu lado, Gaudino Santos reclama que a campanha de Kassab "importa" militantes dos municípios vizinhos de Cajamar, Caieiras, Franco da Rocha e Francisco Morato. "Além de trazer esse povo, tem muita gente daqui que vota na Marta e está fazendo campanha para o Kassab só pelo dinheiro", sentencia.

Carlos Sampaio, coordenador do comitê local de Kassab, admite que os contratados, com salários de R$ 320 até o segundo turno (dia 26), foram escolhidos sem levar em conta o local de residência. "Tenho funcionários que vivem e votam em Caieiras, mas eles concordaram com nossas condições e estão nos ajudando", declarou Sampaio.

Um opositor passa em frente do comitê kassabista e provoca: "O que o Kassab diz que fez é tudo mentirada" Logo ao lado, um petista conversa divertidamente com uma garota nas cores do adversário político. "A gente está falando da vida dos outros. Política só dá encrenca. É melhor nem comentar", brinca. No próximo dia 26 à noite, a vida em Perus volta ao normal, vendo São Paulo de cima do morro e os políticos só em dia de alguma inauguração.

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