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29/09/2008 - 07h00

Candidatos querem acabar com aprovação automática nas escolas

Thyago Mathias
Especial para o UOL
Do Rio de Janeiro

As notas obtidas pela cidade do Rio de Janeiro este ano no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) não ultrapassaram 5, em um índice de 0 a 10. Para os candidatos que concorrem à prefeitura, o vilão da história é o sistema de aprovação automática, definido em abril do ano passado pela Resolução 946, derrubada na Câmara, mas incorporada nas escolas. Com exceção de Solange Amaral (DEM), todos os prefeituráveis prometem acabar com o sistema.


Em relação a outras capitais, a cidade alcançou um resultado menor do que Curitiba e Belo Horizonte, para a 4ª série, e menor do que São Paulo, para a 8ª série, consideradas apenas as escolas administradas pela prefeitura.


O professor João Malheiro, diretor da ONG Ação Cultural Educativa e Social, pertencente ao Grupo de Pesquisa de Ética na Educação da UFRJ, concorda com os defendem o fim da aprovação automática. "Qualquer educador que sofre com o estado atual da educação e tem experiência recente com alunos em sala de aula sabe que esta foi uma das piores políticas que o Brasil quis imitar do exterior", afirmou.


A convite do UOL, o professor analisou cada uma das propostas apresentadas pelos candidatos à Prefeitura do Rio. Confira a seguir.


Propostas dos candidatos



O candidato Alessandro Molon (PT) criticou o sistema. "Não vamos apenas revogar a aprovação automática e voltar ao sistema seriado. Vamos reformar a rede de ensino do município, apostando na formação continuada do professor", prometeu o petista, que também pretende contratar mais professores e aumentar de um quarto para um terço o tempo em que o professor se dedica a atividades de aprimoramento, fora da sala de aula.


Malheiro defende uma melhor política de incentivos. "A contratação de novos professores exigirá salários atraentes para que as pessoas que estão no mercado, ganhando salários mais justos, se motivem a voltar para atividades acadêmicas", completou.


A requalificação dos professores por meio da Multirio, empresa municipal de produção de mídias educacionais, é uma das propostas de Eduardo Paes (PMDB), que aposta no projeto "Pró-Técnico", em que prefeitura vai pagar uma bolsa para que os jovens possam fazer cursos técnicos em instituições privadas, nos moldes do "ProUni", do governo federal.


"É uma proposta arrojada, pois levanta questões desafiadoras: o ensino em tempo integral e projeto técnico, mas a história demonstra que sua implementação é problemática. O funil é sempre a falta de verbas, pois se o desafio é oferecer escola em tempo integral e o déficit de escolas ainda é grande no Rio. É preciso dizer de onde ele vai tirar recursos para repor ou construir as escolas ocupadas com a extensão das novas aulas e atividades extracurriculares, além de pagar os novos professores", avalia o professor, para quem a requalificação por meio da Multirio não é uma boa solução.


Solange Amaral (DEM) também pretende ampliar as atividades da Multirio, além de investir em creches e na construção de 100 "escolas-padrão", com aulas de informática, quadras esportivas, salas para artes e ciências e espaços adaptados para crianças com necessidades especiais.


Para Malheiro, a construção das "escolas-padrão parece uma política mais eleitoreira que educacional". O pesquisador, porém, ressaltou os méritos do investimento em creches: "Estudos recentes apontam para a necessidade de investir o máximo nos primeiros anos escolares, pois são nesses primeiros anos que se definem depois muitos aprendizados futuros. O importante é que a coisa não fique apenas em prédios e merendas, mas gere um efetivo aprendizado, o que exige pessoas muito bem preparadas e bem pagas", argumentou.


Fernando Gabeira (PV) afirmou que o município já possui uma rede com 1.061 escolas ao mesmo tempo em que há falta de atenção com algumas comunidades "vulneráveis". "O acesso à escola melhorou muito nos últimos anos. Nós estamos trabalhando agora com a questão da melhoria da qualidade. O acesso vai ser melhorado com mais escolas, porque há muita superlotação em algumas comunidades. E vai ser melhorado também aproximando a escola das residências da população", propõe Gabeira, que pretende incentivar empresas a adotar escolas, além de oferecer educação profissional e aulas de reforço para os alunos com auxílio de "explicadores comunitários e alunos universitários".


João Malheiro acredita que as "propostas são de uma pessoa que conhece as mazelas da educação de perto". Para o professor, uma das grandes soluções é dar perspectiva futura ao aluno. "Isso é coisa que poucos hoje têm. As propostas de que empresas adotem escolas -tanto para conseguir mão de obra qualificada, quanto para oferecer bolsas de estudo em troca de pequenos serviços- me parece uma solução atraente e audaz. Conseguir explicadores comunitários e alunos universitários são propostas que exigem uma boa coordenação, mas são tremendamente eficazes", avalia.


Jandira Feghali (PC do B) diz que é preciso encontrar meios para motivar alunos e professores. "Tanto na saúde quanto na educação é importante cuidar de quem cuida. Temos que cuidar do profissional da educação através do plano de cargos, carreiras e salários, para que eles tenham um estímulo a vestir bem a camisa do serviço público e a atender bem a população", afirma Jandira.


"A atual situação financeira dos professores é uma das principais causas para o desestimulo e desmotivação desses profissionais. Propor rever essa situação parece ser uma das prioridades, mas sempre fica a velha questão: de onde virão os recursos? O povo está farto de promessas e não acredita mais em proposta sem comprometimento público", analisa o pesquisador da UFRJ.


A proposta de Marcelo Crivella (PRB) é de distribuir laptops entre os professores. "Me parece uma medida mais política que educacional", disse, sem deixar de elogiar a idéia do peerrebista de levar para o Rio o programa "Segundo Tempo", do governo federal, em que escolas, igrejas, creches e clubes municipais cedem espaço para reforço escolar, esporte e cultura das crianças.


De acordo com o professor, uma eficaz política educacional para o Rio envolve a descentralização da gestão escolar, a diversificação das escolas e o fomento de novos modelos, como os das Charter Schools americanas, na quais uma comunidade de pais, professores ou empresas assume uma escola pública com verbas do governo e têm três anos para conseguir resultados iguais ou melhores do que as das escolas administradas pela Secretaria de Educação.

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