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02/09/2008 - 02h00

Em debate de "neo-excluídos", artistas convidados roubam a cena

Thyago Mathias
Especial para o UOL
Do Rio de Janeiro
Os candidatos presentes ao segundo debate cultural promovido pelo teatro Oi Casa Grande, Jandira Feghali (PCdoB), Fernando Gabeira (PV) e Alessandro Molon (PT), receberam de Paulo Ramos (PDT) o rótulo de "neo-excluídos", num dos raros momentos de tensão desta noite de segunda-feira (01). Eles se somariam aos "excluídos", o próprio Ramos e Filipe Pereira (PSC), também presente no debate, em contraste àqueles que "a grande mídia escolheu para ir ao segundo turno", nas palavras do pedetista: Eduardo Paes (PMDB) e Marcelo Crivella, que não participaram do debate previsto para eles, no dia 25 de agosto.

Para formular perguntas relacionadas a propostas políticas para a cultura, foram convidados artistas ligados ao teatro e à boemia carioca, entre os quais o diretor Dudu Sandroni, a jornalista Lucia Leme, o cartunista Ziraldo, o ator Bemvindo Siqueira e o produtor Orlando Miranda, sob a mediação do jornalista Milton Coelho da Graça. Não acostumados ao rigor dos debates promovidos pela imprensa, eles não se contiveram a fazer perguntas e fizeram piada com os candidatos.

Após pergunta sobre a revitalização da Lapa, Lucia Leme provocou Gabeira, que incluiu a cobrança de multa a quem faz xixi nas ruas em seu programa de governo: "Enquanto não ensinarem os homens a parar de fazer xixi na rua, a Lapa não vai melhorar", disse a jornalista, ao que a candidata comunista propôs construir banheiros públicos pela cidade inteira, para atender da Lapa às feiras livres.

Bemvindo Siqueira aproveitou a deixa para emendar: "Só porque a Jandira colocou muito bem a questão do xixi, vou dizer que sou diabético, tenho necessidade constante de urinar e não encontro banheiro nessa cidade quando caminho e tenho que fazer na rua. Se não, vou fazer onde? Nas calças? Outro dia eu fiz num saco plástico no túnel Dois Irmãos, ia passando um caminhão da prefeitura, eu fechei o saco e joguei dentro do caminhão pra ele levar pra prefeitura. Agora, estou pensando em botar no correio e mandar pro (prefeito) Cesar Maia", ironizou, sob aplausos do público.

"Eu tenho a solução para um problema levantado por todos aqui que é a questão fundamental e importantérrima do xixi. É insuportável andar por uma rua junto à Praça XV, que está preservada e podia estar toda iluminada, numa escuridão absurda e com fedor de xixi. Mas banheiro público é lugar de assassinato e pedofilia, não é a solução. Então, o que o próximo prefeito tem que fazer é obrigar o português a manter o banheiro do botequim limpo", fechou a discussão Ziraldo, numa crítica à falta de propostas concretas e de diferenças entre os candidatos.

Piadas à parte, o que o público ouviu não continha novidades.

Fernando Gabeira afirmou que pretende criar uma interface entre cultura e turismo, baseada tanto na cultura de massa quanto na criação de um fundo municipal para aquela não profissionalizada, a fim de transformar o Rio na "capital do conhecimento".

Ao lembrar que já presidiu o bloco carnavalesco "Beijoqueiros de Realengo", o candidato do PDT defendeu o incentivo público aos blocos e pediu a revisão do contrato em que a prefeitura cedeu a gestão do carnaval à Liga Independente das Escolas de Samba. "Isso causa um constrangimento. Não é possível que a maior festa do mundo esteja nas mãos do crime organizado", acusou Ramos.

Jandira Feghali aproveitou para criticar o prefeito Cesar Maia e a construção da Cidade da Música, na Barra: "Eu não faço panfleto de comparar a Cidade da Música com a educação e de comparar com a saúde. Eu acho que tenho que comparar a Cidade da Música com a política cultural mesmo. Numa gestão minha, eu jamais teria tomado a decisão de concentrar os recursos públicos numa casa sinfônica que é maior do que a de Paris e ninguém sabe quem é que vai administrar. Se eu tivesse a chance de pegar aqueles R$ 570 milhões que estão lá, eu faria essa cidade inteira produzir", disse Jandira, para, em seguida, lembrar sua experiência como secretária de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói e propor a produção de softwares e conteúdo digital no Rio.

Candidato do PT e do presidente Lula, como fez questão de frisar diante de uma platéia que, apesar de ser da zona sul do Rio, demonstrou entusiasmo com a política cultural do Governo Federal, Alessandro Molon defendeu a adesão do Rio ao Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) e ao Sistema Nacional de Cultura: "O que nós temos que fazer para que essa medida bem sucedida dos pontos de cultura seja estendida ao Rio de Janeiro? Nossa prefeitura vai se apresentar ao Governo Federal e dizer: nós também queremos criar pontos de cultura, em especial nas comunidades mais necessitadas", ponderou Molon.

O petista também sugeriu a transformação da Lapa em distrito do design. Alessandro Molon disse que pretende pressionar o governo estadual a construir uma estação de metrô na praça da Cruz Vermelha. "A Lapa se revitalizou apesar do poder público, que foi omisso", declarou.

A proposta do candidato peemedebista de construir 40 Unidades de Pronto-Atendimento foi ironizada por Filipe Pereira: "Precisamos fazer funcionar o que já existe, antes de construir 30 ou 40 novas unidades de saúde", alfinetou.

Surpreendido pela pergunta de Ziraldo: "Quem é você?", Pereira lembrou que foi o deputado federal mais novo eleito para a Câmara, em 2006. "Experiência demais acumulada pode ser experiência negativa", concluiu sem se abalar. Com 24 anos, definiu-se como "cristão" e "atuante como o deputado Gabeira".

O candidato do PV, por sua vez, tentou defender sua posição enquanto candidato da esquerda: "A esquerda da qual eu participo tem que falar também de segurança para a sociedade, porque a polícia do Rio de Janeiro não é capaz de lidar com a segurança", afirmou para, a seguir, gerar protestos na platéia ao comparar a ação da polícia militar fluminense com a da operação de libertação de Ingrid Bettancourt pelo exército colombiano.

Protestos pró e contra o voto útil
Antes das considerações finais, o mediador do debate lançou uma provocação à platéia: "A sugestão é que os candidatos pensem, daqui até o final de setembro, ao sair a última pesquisa, na possibilidade de deixar só um candidato progressista para disputar com Crivella, Eduardo Paes e Solange Amaral", propôs Coelho da Graça, sob vaias, aplausos e gritos de apoio e de protesto.

"Nada disso", gritou um militante com adesivo de Molon. "Melhor reunir as esquerdas e deixar as vaidades políticas de lado", respondeu outra mulher. Com exceção de Jandira, que já tem defendido publicamente o "voto-útil", os demais candidatos não demonstraram apoio à sugestão. Por um momento, porém, Gabeira se mostrou resignado: "Nós não acreditamos em pesquisas, porque pesquisa, como tudo, muda. Agora, parece que, no Rio, o que une é a decadência. Contra isso, qualquer candidato, desde que seja respeitado por todos, merece nosso apoio", encerrou.

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