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26/08/2008 - 12h22

Tropas federais vão atuar na Baixada Fluminense e na zona oeste do Rio, diz TRE

Diana Brito
Especial para o UOL
No Rio de Janeiro
O presidente do TRE-RJ, desembargador Roberto Wider, disse na noite de segunda-feira (25) ao UOL que as tropas federais irão reforçar a segurança durante o período eleitoral na Baixada Fluminense e na zona oeste do Rio, onde sete pessoas foram assassinadas, segundo o delegado Marcus Neves (35 DP), por integrantes da milícia Liga da Justiça há uma semana na favela do Barbante, em Campo Grande. Sem dizer a data certa, ele garantiu que as tropas deverão chegar nos próximos dias para tentar controlar o poder de voto dos currais eleitorais.

"A Justiça Eleitoral concluiu ser necessária a presença antecipada de tropas a fim de garantir a tranqüilidade da realização do pleito, especialmente em áreas onde há um forte domínio de grupos armados, sejam milicianos ou traficantes. Foi entregue ao TSE um levantamento com cerca de vinte áreas no município do Rio e na Baixada Fluminense nas quais foram registradas denúncias de ação desses grupos. Esse documento é que vai servir de base para o planejamento da ação das forças federais", afirmou Wider.

Segundo o TRE, o Rio deve mudar o endereço de votação nas comunidades investigadas pela PF, sob o controle de criminosos. O Disque-Denúncia informou que, desde janeiro, recebeu 63 informações do envolvimento do tráfico com as eleições e 49 sobre a milícia. O desembargador Roberto Wider ainda destaca que os eleitores receberão instruções de voto durante as campanhas eleitorais.

"É importante ressaltar que a ação de tropas não é a única vertente desse trabalho. Estamos preparando, com apoio do TSE, uma campanha de esclarecimento ao eleitor para ele ter certeza de que seu voto não pode ser identificado. E, com a ajuda da Polícia Federal, pretendemos descobrir quem são os candidatos beneficiados pela ação desses grupos e tomar contra eles as medidas legais", ressaltou o presidente do TRE.

ONGs discordam de método

O presidente da ONG Gabriela Sou da Paz, Carlos Santiago Ribeiro, pai da adolescente Gabriela Prado Ribeiro - morta há cinco anos, vítima de uma bala perdida num dos acessos ao metrô São Francisco Xavier, na zona norte do Rio - disse não acreditar num resultado positivo com o método da força-tarefa contra os currais eleitorais no governo fluminense. Ele considera desvantajoso para alguns candidatos à Prefeitura do Rio a atuação das tropas federais em determinadas comunidades.

"A força-tarefa não tem condições de fazer tudo ao mesmo tempo porque são muitas áreas com currais eleitorais e eles vão acabar beneficiando determinados candidatos. Esse problema vem de décadas. Já deveria ter uma atenção maior desde a criação das comunidades. Essa política de confronto está assustando a gente. Nós vemos que a polícia está totalmente despreparada. Acho que a força-tarefa não vai adiantar nada", disse o pai de Gabriela.

Carlos Santiago conta com melhorias na Guarda Municipal após as eleições, mas lamenta que os candidatos não tenham um "perfil de combate à violência". Ele sugere que o novo prefeito crie uma parceria com o governo estadual no setor de segurança pública.

"A gente espera contar que a próxima prefeitura se interesse com essa questão de segurança pública. Ela pode ajudar até sem armamento. Mesmo que não entre de frente no combate, a Guarda Municipal pode dar apoio ao governo estadual e ser mais presente em regiões problemáticas como em locais sem iluminação. Nós não temos nenhum candidato com o perfil de combate à violência, mas alguns se mostram interessados em melhorias nessa área", acrescenta.

O secretário executivo do Iser (Instituto de Estudos da Religião) e especialista em mediação de conflitos, Pedro Strozenberg, alerta para que os currais eleitorais não se tornem ações naturais no país. Ele pede a atenção das autoridades nas regiões dominadas por grupos criminosos e destaca que a época eleitoral retrata com mais nitidez a atuação de milicianos e traficantes no Rio.

"Temos que ficar assustados com essa história de currais eleitorais, onde se tem um grupo impondo limites em determinadas áreas do Rio. Não podemos naturalizar a situação, não é 'um fato menor'. A questão eleitoral retrata, nesse momento, que estamos numa situação onde grupos armados controlam territórios", afirmou Strozenberg.

Ele não concorda com a criação de uma força-tarefa para combater milicianos e traficantes durante as eleições. "O Estado acaba tendo uma atitude igualmente violenta e controladora quando coloca a polícia e as tropas federais nessas localidades. A solução é ter a presença efetiva dos órgão públicos nas comunidades. Cidadania não se garante com polícia. Devemos implantar respeito e serviços públicos nesses locais", disse.

Milícia

Segundo o delegado Marcus Neves, titular da 35ª DP (Campo Grande), o mandante da chacina que matou sete pessoas, identificadas como inocentes, seria o vereador Jerônimo Guimarães, conhecido como Jerominho (PMDB), preso em Bangu 8. Ele é acusado de comandar, junto com o irmão, o deputado Natalino Guimarães (DEM), a milícia Liga da Justiça que domina cerca de 20 comunidades na região.

A Liga da Justiça é apontada por Neves como a maior milícia do Rio, com a exploração de atividades comerciais ilegais, como venda de gás, instalação de TV a cabo e transportes clandestinos, em favelas e comunidades de baixa renda no Rio. Para tentar fortalecer o domínio em favelas da zona oeste, a milícia forjou uma invasão de traficantes à favela do Barbante na noite de terça-feira (19), segundo a Polícia Civil do Rio.

De acordo com Neves, "o grupo de extermínio composto por 17 milicianos utilizou uma lógica política para favorecer a campanha da candidata a vereadora Carminha Jerominho (filha do vereador Jerônimo Guimarães), do PTdoB". Neves ainda afirmou que entre os envolvidos na chacina estão três policiais militares, dois policiais civis e um bombeiro. Nenhum deles foi preso até a manhã desta terça-feira. Carminha Jerominho nega o envolvimento dela e de seus parentes no caso.

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