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20/10/2008 - 06h30

Lulismo gera fanatismo pop, mas não transmite carisma para aliados nas eleições

Rodrigo Bertolotto
Do UOL Notícias
Em São Bernardo do Campo (SP)
"Ele me cativou. Só de pensar que vou estar perto dele, fico toda emocionada", balbucia uma das fãs. "O sonho da minha vida é abraçá-lo", solta outra admiradora. "Amo de paixão", define uma terceira. As frases parecem saídas da boca de adolescentes e endereçadas para algum ídolo pop.

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    Fãs de Lula gritam quando presidente aparece no comício

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    Lula aparece entre bandeiras do PT em ato em São Bernardo do Campo

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    Partidário enrola no ombro bandeira com imagem do presidente petista

As confissões, porém, são de autoria das senhoras Neide Martins (dona de casa de 46 anos), Maria das Cruzes Leal (desempregada de 47 anos) e Wilma Medeiros (metalúrgica aposentada de 57 anos). E o agraciado é Luiz Inácio da Silva, o presidente que faz 63 anos no próximo 27 de outubro, um dia após o segundo turno pelas prefeituras do Brasil.

É justamente essas eleições que fazem Lula desfilar sua atual popularidade nos palanques petistas. Mas a transferência de seus quase 60% de avaliação ótimo/bom não é tão direta assim para eleger seus correligionários.

O presidente esteve no sábado em ato de Marta Suplicy, que está atrás na corrida paulistana, e participou de comício no domingo em São Bernardo do Campo, onde o petista Luiz Marinho é favorito. Fora gravações publicitárias e uma reunião com evangélicos, foram as únicas manifestações de Lula para o segundo turno.

No primeiro, ele esteve mais ativo, mas com eficácia variável. Esteve em São José dos Campos e Natal (RN), onde seus preferidos perderam os pleitos. Participou de comícios em Osasco e Diadema, cidades que conheceram vitórias petistas. Porém, em outros cinco lugares onde discursou (São Paulo, Guarulhos, São Bernardo, Mauá e Santo André), sua aparição não deu o fôlego para uma vitória de primeiro turno.

Os comícios acabaram como uma celebração do "lulismo", impulsionado pelo crescimento econômico e os programas de distribuição de renda. As cenas mais comuns são pessoas tentando tocar Lula e os locutores anunciando a presença do "melhor presidente da história do país". E isso se repetiu no comício dominical na cidade onde Lula surgiu para o cenário político.

"No outro comício, uma mulher agarrou o Lula e não queria soltar mais. Dona Marisa ficou com ciúmes. Êta, dona animada aquela", relatava ao microfone o locutor Elias para animar o público com o atraso de uma hora do ato em São Bernardo.

Para ganhar tempo, ele pediu para as fãs escreverem mensagens a Lula para que uma tivesse o pedido realizado pelo presidente. Os jornalistas na cobertura tiveram que ceder blocos e canetas para pudessem redigir as solicitações.

Mas o concurso improvisado acabou vencido quando uma delas chorou no microfone do locutor, que tinha a outra mão cheia de pedaços de papéis com frases para o presidente. "Eu quero abraçar o Lula", pediu a senhora. "A senhora foi a escolhida. Bigode, Albino, levem ela para ser abraçada pelo presidente. Vixe, agora todo mundo vai chorar", sentenciou o animador de comício.

Depois de abraçar Lula nos camarins, ela subiu ao palco. "Não queria que ele saísse da Presidência", disparou entre uma lágrima e outra. O locutor emendou logo: "Não diga isso que o pessoal da imprensa vai falar em campanha pelo terceiro mandato."

Outros pedidos são mais complexos que abraços e beijos. A doméstica Aparecida Vasconcelos, com asma e osteosporose, tenta ganhar o auxílio-doença do INSS, mas não consegue. "O médico que me examinou e negou a pensão disse para eu reclamar para o Lula. Vim fazer isso", resumiu.

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    Escolhida para abraçar Lula chora e pede novo mandato presidencial

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    Seguidora sobe em árvore para tirar foto de Lula no palco do comício

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    Lulista escreve pedido de abraço para ser entregue a presidente

O público, formado por rostos e sotaques nordestinos, entoou o coro da campanha eleitoral de 1989, "Olé, olé, olé, olá, Lula, Lula". Luiz Marinho chamou o presidente de "meu amigo e meu eleitor", enquanto Lula disse: "Como morador de São Bernardo, eu vou cobrar", reafirmando que em 2 de janeiro de 2011 estará de volta para lá.

O presidente manteve o interesse do público até quando falava de economia e atual crise econômica global. Lula prometeu que não vai haver pacote, se disse otimista que a crise econômica não vai chegar e falou em mais 2 milhões de empregos. "Continuem comprando o que precisem", pediu ao público cativo, confiante que o mercado interno pode minimizar o solavanco se norte-americanos e europeus diminuírem as compras de produtos brasileiros.

Os presentes bocejaram com discurso do senador Eduardo Suplicy falando de Paul Krugman, prêmio Nobel de economia. Mas se animaram com a participação do forrozeiro Frank Aguiar, deputado federal e candidato a vice na chapa petista de São Bernardo.

Os políticos locais se entusiasmaram e falaram em "depenar os tucanos" e chamaram o rival do PSDB, Orlando Morando, de "sujeitinho", "moranguinho" e "cabelinho da vovó". Falam em mudar o município que mudou o país.

O comício terminou às 14h, quatro horas depois de começado o ato. Mesmo com o palco vazio, as seguidoras do "lulismo" não arredavam pé, acreditando em um bis do astro político. Ao final, o locutor tentava dissuadir as fãs: "Vai almoçar pessoal e tomar uma cervejinha, que hoje é domingo."

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