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29/09/2008 - 06h01

Candidatos usam profissão braçal para garantir emprego de vereador

Rodrigo Bertolotto
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Em um país com um presidente que foi metalúrgico, vários iniciantes na política escolheram identificar suas candidaturas com profissões, em geral, braçais. Seja atrás do apoio de seus similares, da simpatia do público ou porque são conhecidos pela atividade que exercem, vários postulantes a vereador pelo Brasil fizeram como os paulistanos Alice Costureira (PRB), Ivan Vigilante (PTB) e Cícero Perueiro (PSB).

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    Geraldinho Passarinheiro (PTN) posa na frente da associação dos criadores de pássaro

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    Waldir Serralheiro (PV) ergue bandeira usada na campanha na Zona Leste de São Paulo

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    Pellé (PR) usa camiseta da seleção e repete gestos do ex-jogador em sua campanha a vereador

Exemplos não faltam. Em Guarulhos, há candidatos como Cobrador Zoinho (PSDB), Gilson Cabeleireiro (PRP) e Bambu Eletricista (DEM). Em Diadema, o destaque é Carteiro Chiquinho (PSB).

Waldir Serralheiro (PV) afirma ser o pioneiro na estratégia, nas eleições municipais de 1996. "O José Serra era candidato a prefeito e me deu uma força na idéia. Até coloquei as duas primeiras sílabas de serralheiro em outra cor para associar com o sobrenome dele", explica o político com base na Zona Leste.

O curioso é que nesse mesmo ano ele fechou sua serralheria para investir no trabalho comunitário e nos bastidores políticos na subprefeitura da Penha. Os aparelhos para forjar metais ainda estão no fundo do comitê político. "Larguei a profissão, e meus filhos não continuaram, então, está tudo abandonado", conta posando ao lado do maquinário empoeirado e amontoado.

Já Antônio Vigilante é dos que está atuante em sua atividade, panfletando seus santinhos durante o expediente de rondas pelo Brás e depois do trabalho no bairro em que mora, São Miguel Paulista. E não esconde que seu foco é na categoria: entre seus projetos está criar uma cooperativa de vigilantes, classe que vigia informalmente as ruas, a maioria apitando noite adentro.

"Sou muito conhecido, e meus clientes têm muita confiança, afinal, cuido do patrimônio deles. Sabem que sou batalhador e corajoso", teoriza o candidato.

Outro profissional que quer a vereança para defender sua corporação é Geraldinho Passarinheiro (PTN). "Tenho um compromisso com minha categoria: lutar contra essa burocracia estúpida e imensa para criar pássaros", afirma Geraldinho.

Segundo ele, há candidatos passarinheiros em outras cidades diferentes, para defender os 10 milhões de fanáticos por aves engaioladas e suas penugens. "É preciso força política para fazer frente às restrições e proibições do Ibama, sem bater de frente", opina, no meio de uma discussão sobre canto de curió com colegas.

Se alguns consideram a mendicância uma atividade remunerada, também há um representante no pleito, mesmo que seja só no nome. Mendigo (PMN) declarou para as autoridades eleitorais apenas um bem: a sociedade em uma empresa que tem valor total de R$ 1. Mas Mendigo, na verdade, é o mecânico Antônio José do Nascimento. "Tenho esse apelido porque estou sempre sujo feito um mendigo", explica o candidato. "Já que não tenho dinheiro para gastar, escolhi um nome para chamar a atenção e mostrar minha campanha modesta", completa.

Há também entre os postulantes os sósias, mas não vivem monetariamente de sua semelhança com famosos. Querem, porém, o emprego de vereador aproveitando disso. É o caso de Tim Maia (PT), Pellé (PR), Lacraia (PTB) e Seu Madruga (PRP)

Este último foi apelidado pela própria filha após os fracassos nas primeiras eleições, com 82 e 180 votos. Depois de associado com a personagem do seriado mexicano, Jonas Fontoura Santana fez mais sucesso, chegando a 2.798 votos na última eleição. "Tem o pessoal que vota em mim pelo trabalho social que faço no meu bairro. E o outro que vota pelo folclore. Assim eu vou acabar eleito", afirma em sua sétima campanha eleitoral, na qual utiliza um carro caindo aos pedaços, com seu nome e número escritos na lataria.

Por seu lado, o candidato Lacraia (PTB) jura que trabalhou com MC Serginho antes de ser substituído por outro dançarino. "Se eu for eleito, a chapa vai esquentar na Prefeitura, vou fazer um fuá por lá". Ele usa como jingle um funk e já participou de passeata com Geraldo Alckmin, em que o ex-governador passou por uma saia justa. "O locutor perguntou quem seria o prefeito de São Paulo, e rolou um coro de `lacraia, lacraia´. Tenho muito carisma com o povo", se entusiasma.

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