25/09/2008 - 19h17
O diretório municipal do PT culpou o "sistema" pelo tempo de permanência na prisão do candidato a vereador do partido, o travesti Andrielly Vogue, 32 anos, detido em flagrante sob a acusação de dano ao patrimônio público, na semana passada.
Andrielly foi solta nesta quinta-feira (25) após o juiz da Vara de Inquéritos Policiais, Pedro Luiz Sanson Corat, conceder o pedido de liberdade provisória impetrado pela assessoria jurídica do partido. O travesti, cujo nome verdadeiro é José Adriano Elias, foi preso no dia 14 deste mês acusado de quebrar o vidro de uma janela do Instituto Médico Legal (IML), no centro da capital. Durante os onze dias em que foi preso Andrielly passou por três centros de detenção em Curitiba e Região Metropolitana.
De acordo com o deputado federal André Vargas (PT-PR), o tempo de detenção do candidato a petista é uma prova de que a prisão no país só é destinada aos pobres. "A culpa é do sistema. A fiança foi arbitrada em R$ 800. Se tivesse dinheiro, Andrielly não teria ficado sequer um dia na prisão".
O advogado do PT, Ricardo Tadao, credenciou a culpa também à burocracia da Justiça. Segundo ele, depois que o Ministério Público do Paraná deu parecer favorável à liberdade provisória do candidato, foram precisos mais três dias até que o travesti fosse liberado. Na terça-feira (23), o juiz Corat deferiu o pedido e determinou a expedição de alvará de soltura. A ordem, no entanto, só foi cumprida pelo Oficial de Justiça nesta quinta-feira (25), com a liberação de Andrielly Vogue do Centro de Detenção de São José dos Pinhais, onde passou os últimos dias.
O travesti acusa um porteiro do Instituto Médico Legal de agredi-lo depois que ele tentou interceder a favor de um homem que tentava entrar no IML para reconhecer um parente, na madrugada de domingo (14). "O vigia queria dormir e agrediu o homem. Depois partiu para cima de mim com um pedaço de cano usado para fechar o acesso ao estacionamento do instituto. Na tentativa de pedir socorro aos funcionários da perícia, eu acabei quebrando o vidro da janela", afirmou.
Andrielly antes de ser presa e...
... Andrielly com o cabelo cortado após a prisão
Durante o período em que ficou preso, Andrielly teve o cabelo raspado e chegou a dividir a cela com 12 homens. "O meu cabelo foi cortado por dois nigerianos presos por contrabando de pedras preciosas. Enquanto eles faziam o trabalho, os policiais riam da minha cara".
Andrielly diz que as câmeras do IML registraram o momento da agressão do vigia e devem ser requisitadas no processo. Segundo os advogados, o travesti não tem antecedentes criminais e teria sido vítima do sistema discricionário das prisões.
O Grupo Dignididade, ONG que defende o direito dos homossexuais, informou que o governo do Paraná teria assinado recentemente compromisso aprovado na Conferência Estadual de Gays, Lésbicas, Travestis e Transgêneros a fim de orientar as penitenciárias, delegacias e centros de triagem a reservar uma cela especial para as chamadas "identidades de gênero". Segundo o grupo, o fato de Andrielly ter dividido a cela com 12 homens é um desrespeito ao compromisso.
Questionado sobre sua candidatura, Andrielly diz que se sentiu prejudicada, afinal, apesar da cobertura da mídia ao caso, foi impedida durante onze dias de fazer a sua campanha nas ruas.
"Fui humilhada e chamada de ladrão. Só me prejudicaram. Minha intenção não era causar vergonha ao partido", afirmou.